Futuro - combustão ou eléctrico?

Recebi um email de um leitor que indagava que agora que adquiri um veiculo eléctrico isso significa que eu mudei a minha opinião sobre os eléctricos e se enfim vou deixar de os perseguir. É verdade, completei 1 mês de propriedade de um veiculo (não automóvel) eléctrico, mas se ler os artigos que escrevi (1 e 2) verá que o meu problema nunca foi com os automóveis eléctricos mas com todo o marketing verde e omissões que rodeavam os automóveis eléctricos. E tal como na altura falei isso veio agora prejudicar a adoção do automóvel eléctrico.

Mas a pergunta não deixa de ser interessante - tendo passado algum tempo com um veiculo eléctrico, se bem que ainda em período de aprendizagem, será que posso dizer que o 100% eléctrico pode substituir completamente o automóvel com motor de combustão interna no futuro? Sinceramente, creio não vai haver um substituto completo do motor de combustão no futuro próximo. E tudo se resume a 2 factores.

Fator 1 - características dos combustíveis fosseis
Apesar da questão das emissões, os combustíveis fosseis tem uma boa relação energia/volume, leve, abundante, barata, estável em quase todos os cantos de mundo e operam tudo desde automóveis a aviões. Mas principalmente custo e disponibilidade - especialmente porque já há uma rede de suporte (fabricação e abastecimento de combustíveis) muito avançada e global, algo que não existe para os eléctricos de bateria ou hidrogênio. E isso torna muito difícil tirar o motor a combustão da sua posição nos próximos tempos. 

Pois, "apesar da questão das emissões"...
O motor a combustão pode andar entre nós à mais de 100 anos, mas legislação para controlo de emissões é muito recente - ainda me recordo da introdução dos catalizadores, gasolina sem chumbo e a corrida aos aditivos. E se olharmos para as emissões dos automóveis como o Renault 16 (que é o 1º carro que me lembro que o meu pai teve) e o automóvel que ele agora conduz é uma fração dos poluentes e consome muito menos. E isto em apenas 3 décadas - ainda há muitos desenvolvimentos na calha.
Se olharmos para a quantidade de tecnologias que têm surgido e o ritmo com que têm sido apresentadas (centrais eletrônicas, injeção direta, combinação de injeção direta e indireta, stop-start, turbos elétricos, caixas de velocidades controladas eletronicamente e em breve com dados do GPS, desativação de cilindros, lubrificantes e combustíveis avançados, desativação do alternador, entre outras têm surgido nos últimos 3 a 4 anos e melhorado incrivelmente as emissões e consumos dos motores de combustão interna. 

Mas não podemos ignorar a questão dos gases de escape e efeito de estufa, e ai reside o grande atrativo dos automóveis eléctricos. Na altura que postar isto terei já percorrido 300 quilômetros no meu Twizy sem qualquer emissão...direta. Pois, os automóveis eléctricos só são verdes quando as centrais que geram eletricidade são de origem renovável. E isso depende de pais para pais - França (nuclear) ou Islândia (geotérmica) são optimos exemplos quase toda a energia vêm de fontes limpas de emissões. Tirei esta imagem da factura da EDP. Pelos vistos 28.5% não é renovável, e não sei bem o que são os 15.4% das "outras".


Mas um exemplo que não percebo é a fixação dos chineses nos automóveis eléctricos quando quase toda a sua energia vem de centrais de carvão sem quaisquer tipo de filtração - segundo um estudo da revista "Environmental Science and Technology" os automóveis eléctricos na China poluem mais que um automóvel clássico.
E há o detalhe de que a fabricação de automóveis eléctricos e do seu impacto ambiental é algo muito debatido - houve aquele estudo muito badalado de a poucos anos atrás e mais recentemente o Copenhagen Consensus Center chegou também a conclusão que o impacto da produção é colossal. Claro que ambos os estudos são completamente atacados pela Greenpeace.


Fator 2 - tempo de paragem
Quase todas as publicações e sites discutem autonomia, mas não é esse o principal problema - o tempo de recarga sim. O meu Renault Twizy demora cerca de 3 e meia a carregar, mas um Nissan LEAF ele demora cerca de 8 horas a carregar completamente - mesmo se a autonomia fosse a mesma e houvessem pontos de recarga em quantidade, o tempo de recarga é simplesmente longo demais.

Claro que temos os pontos de recarga rápida, mas mesmo esses demoram 30 minutos a carregar 80% da bateria (e se os usarmos frequentemente degrada a bateria). Excepto claro se estivermos a falar de eléctricos com células de combustível de hidrogênio, mas as estações de hidrogênio são raras (nunca vi uma) o que ilustra o ponto da infraestrutura de distribuição que acima falei.
Há muito que nos habituamos aos rápidos tempos de abastecimento - tal como o computador acelerou o tempo desde a máquina de escrever, toda a nossa vida de transporte pessoal foi construída em torno deste caraterística: fazer 600 quilômetros, atestar o deposito em 3 ou 4 minutos e fazer outros 600 quilômetros. É verdade que seria mais saudável desacelerar a nossa vida, mas quantos têm a capacidade/possibilidade de o fazer?

E ai entra o Hibrido...
Claro que há forma de "minimizar" as limitações dos automóveis eléctricos - as medidas tomadas pelo Governo Norueguês são um perfeito exemplo. Mas como já tinha escrito acerca do Volkswagen XL1, acredito que em breve quase todas as gamas vão ter uma ou outra forma de hibridização. O progresso feito nos motores a combustão vai permitir a que motores cada vez mais pequenos possam ser usados em sistema híbridos (creio que para já o mais pequeno é o 1.5 litros do Toyota Yaris hibrido), e as baterias também estão em constante melhoria. Há vários projetos muito promissores atualmente em desenvolvimento, mas estes avanços vão curiosamente jogar mais a favor dos motores clássicos porque vão facilitar a hibridização, ao melhorar o equilíbrio entre as vantagens e desvantagens destas 2 tecnologias (verde e combustão).

Conclusão
Claro que estou a falar considerando a "evolução" da tecnologia, mas tal como antes em muitos momentos da história houveram "saltos" e um destes dias o Stargate pode passar de uma série de ficção cientifica para a realidade e aí terei perdido o vosso tempo com este artigo. Mas a menos que haja um "salto" tecnológico neste campo, ainda vamos ter o motor a combustão interna debaixo do capot durante muitos anos.

5 comentários:

  • MiguelCL says:
    9 de maio de 2013 às 12:26

    Gostei do artigo. Aconselho a ler "O Sétimo Selo" do Rodrigo Guedes de Carvalho. É um romance "volumoso" muito interessante sobre esta matéria, mas sobretudo porque os dados científicos revelados são reais. Bom para perceber o mundo e os combustíveis no futuro.

  • Turbo-lento says:
    9 de maio de 2013 às 18:50

    Terei que o ler um destes dias.
    Só uma correção - é do José Rodrigues dos Santos não do Rodrigo Guedes de Carvalho. Este pessoal tem nomes muito parecidos.

  • Anónimo says:
    11 de maio de 2013 às 00:28

    «completei 1 mês de propriedade de um veiculo (não automóvel) eléctrico»
    Ó méssa, atão um veículo eléctrico... não é um veículo automóvel?! Ca ganda nóia!

    «que o meu problema nunca foi com os automóveis eléctricos»
    Cum caneco, agora tá melhor. Afinal é mesmo!


    Convém clarificar que, no mundo automóvel, o hidrogénio não serve apenas para produzir electricidade em células de combustível para propulsionar veículos eléctricos... também serve para ser utilizado como substituto da gasolina em motores de combustão interna. (Clarificação feita.)

    Aliás, sendo o motor de combustão interna uma tecnologia perfeitamente dominada e cujo aperfeiçoamento ainda não atingiu o seu limite será perfeitamente lógico que este tipo de motor, futuramente alimentado a hidrogénio, continue a ser uma alternativa mesmo quando (daqui a umas boas dezenas de anos) a tecnologia de propulsão eléctrica estiver (mais) aperfeiçoada.
    Num pormenor estamos de acordo: o motor de combustão interna será utilizado ainda por muitos e muitos anos (décadas)... apenas teremos de esperar para ver como será utilizado e que combustíveis serão utilizados.


    «Mas não podemos ignorar a questão dos gases de escape e efeito de estufa»
    Se há coisa que não podemos ignorar é a questão dos gases de escape, os que são poluentes e que estão na origem ou que podem potenciar diversos problemas de saúde, porque os outros... os de alegada mas falsamente de "efeito de estufa"... bem, desses já eu aqui

    www.4rodas1volante.com/2013/03/volkswagen-rejeita-hfo-1234yf-ue-ameaca.html

    e aqui

    www.4rodas1volante.com/2013/04/regras-de-emissoes-relaxadas.html

    escrevi sobre eles FUNDAMENTANDO objectivamente o meu ponto de vista. É que alegações há muitas, principalmente quando são meras repetições de frases feitas. A fundamentação é que vai escasseando... um pouco por todo o lado!



    «(...) Pois, os automóveis eléctricos só são verdes quando as centrais que geram electricidade são de origem renovável (...) E há o detalhe de que a fabricação de automóveis eléctricos e do seu impacto ambiental é algo muito debatido»
    Ou seja, por enquanto... é tudo uma grande ilusão pois o automóvel eléctrico é ainda mais ou pelo menos tão ou quase tão sujo (em todo o seu ciclo de vida) como qualquer outro automóvel. É apenas uma questão de se escolher o brinquedo que se quer e... exibi-lo. Sempre foi assim e assim continuará a ser.


    Humberto

  • Turbo-lento says:
    13 de maio de 2013 às 23:50

    Sim, porque o Twizy é um quadriciclo pesado não um automovel. Basicamente é o equivalente a uma moto4.

    Estudos cientificos há para todos os gostos e feitios. Mas automoveis electricos podem funcionar na vida real e terem um impacto positivo no ambiente se lhes darem condições, como a Noruega e Islandia estão a fazer.

    E podem ser mais que um briquedo - como eu disse, os 70 euros que gastava num mês ainda estão a durar e já passou mais de 1 mês de Twizy. Pelas minhas contas, o dinheiro que gastava num mês em diesel dá agora para 3 meses.
    Se fizer muitos quilometros e quase todos em cidade, se fizer bem as contas se calhar descobre que um electrico é lhe vantajoso. Um topico para um proximo diario de bordo

  • Anónimo says:
    28 de maio de 2017 às 14:19

    Eu particularmente, acho que essa modinha de motores elétricos está relacionada a grupos de investidores que desejam ganhar muito dinheiro com a reinvenção do veículo elétrico (sim, não é coisa nova).
    Os elétricos, realmente trazem a única vantagem (ao meu ver) de não poluirem o local que rodam, mas, possuem inconvenientes sérios que devem ser levados em consideração, senão vejamos:

    1) São carros movidos a batrias, onde atualmente, o material utilizado na sua fabricação é prioritariamente o Lítio. Para quem não sabe, a mineração deste elemento químico é extremamente poluente, da mesma forma que, seu rejeito (baterias velhas, por exemplo) absolutamente tóxico. Há diversos videos pela internet que mostram esse produto pegando fogo espontaneamente em contato com o ar, quando uma pilha é perfurada... Imaginem um indivíduo sendo carbonizado ou intoxicado numa simples colisão?

    2) Os campos magnéticos gerados pelo motor, fiação e a dita bateria são algo que o Poder Público tem ignorado ao influenciar os cidadãos aadquirirem esses veículos. Imaginem uma pessoa todos os dias sentada em cima de uma bateria (geralmente ficam debaixo dos assentos) ou com cabos de alta tensão passando ao seu lado, ou até mesmo, posicionado atrás de um propulsor onde voltagens altíssimas estão sendo geradas ali? Radiação eletromagnética está relacionada a diversas doenças (estudos apontam nesse sentido). Há casos relatados de pessoas serem eletrocutadas em acidentes de trânsito , em função das altas correntes existentes nesse tipo de veículos. Dessa forma, de que adianta conseguir o selo de emissão zero,parcela significativa da população (que andam de carro), estará sofrendo de doenças graves causadas por esses mesmos automóveis? É trocar uma problema por outro (até pior).

    A solução mais razoável, no meu ponto de vista, seriam os motores a combustão que já temos hoje (comprovadamente seguros) movidos a hidrogênio, por exemplo (mas podemos desenvolver outros combustíveis ecologicamente corretos). A BMW, por exemplo, já produziu esse tipo de veículo, porém, misteriosamente, interrompeu a sua produção. O único produto da queima desse combustível é a formação de gotículas de água. Dessa forma,se um automóvel convencional produz uma quantidade equivalente a "10X" de poluição atmosférica, uma "hidrogenado" produziria apenas "1X" ou menos, pois devemos levar em consideração de que motores á explosão utilizam lubrificantes. A qualidade do ar ficaria próxima daquela que se respira no campo... Ou seja, algo excelente!
    Então, a despeito de tudo isso, deixaríamos a escolha nas mãos do consumidor: adquirir um veículo elétrico e se expor aos seus riscos secudários (que ninguém diz nas propagandas) ou adquirir um carro a combustão interna que roda com hidrogênio e polui quase zero?

    Fica a pergunta.