A ditadura do motor a combustão interna

Como devem imaginar fazem-me muitas perguntas acerca de carros - em 8 meses, já contribui para a venda de 2 Renault Megane carrinha, 1 Citroen C5, 1 Dacia Logan MCV e 1 Dacia Sandero. Fiquei portanto curioso quando o meu amigo Carlos pediu a minha opinião sobre o apartamento que comprou junto à segunda circular. Sim, isto ainda é um blog de carros e se lerem até ao fim vão perceber onde quero chegar. Não é ressaca da passagem de ano...

Depois de ver o apartamento, sentamo-nos na varanda a beber uma cerveja (super-bock claro) com uns binóculos a jogar "Aquele é o teu carro". É um jogo simples, que até pode ser jogado em viagem. Um jogador escolhe o carro o mais ridículo possível que for a passar e diz "aquele é o teu carro". O outro jogador tem 1 minuto para encontrar um carro ainda mais ridículo ou perde 1 ponto.

Infelizmente perdi quando meu amigo escolheu um Volkwagen Bettle cabriolet em madre-pérola conduzido por um careca. E resignado na minha derrota, voltei para casa.

Na viagem de regresso a casa, ainda na segunda circular, meditei sobre os vários carros que nos passaram à frente e dislumbrei que há algo comum a todos os carros, não só os que vi naquela tarde mas a todos os carros produzidos: desde o 1º carro, o famoso Benz Patent Motorwagen até ao mais actual automóvel. Sabem qual é?
Apesar deste Benz Motorwagen datar de 1885, usa um motor a combustão interna basicamente igual ao que temos hoje em dia - 124 anos de diferença. Atenção, eu disse basicamente - o motor a combustão interna moderno é uma maravilha de tecnologia, mas o principio de funcionamento é basicamente o mesmo.

Todos os meios de transportes deram grandes saltos de evolução, (como o Airbus que acaba de razar o meu tejadilho) menos o carro. Os aviões começaram com os motores a explosão, passaram pelos foguetes e tem hoje em dia turbinas.
Os barcos passaram pelo vapor e agora têm turbinas a gas ou reactores nucleares.


Os comboios começaram pelo vapor, estão no eléctrico e onde chegar ao Maglev.

E o automóvel continua na mesma. Tirando esta tímida abordagem da Chrysler em 1955 aos carros movidos por uma turbina, o carro continua a depender do motor a combustão interna que Carl Benz trouxe ao mundo. Se viagem no tempo fosse possível, um homem do passado seria capaz de conduzir um carro moderno - se desse de caras com um F117 morria de susto!


Nessa noite, levantei o capot do meu Megane para aprofundar as ideias e admirei-me do quanto do motor é usado para manter o motor em funcionamento e quanto é usado na verdade para fazer o carro avançar - muito pouco.

Temos bomba de óleo, bomba de combustível, bomba de água, velas, válvulas, pistões, cambotas, veios entre milhares de outras peças que não me lembro do nome. Olhemos agora para a simplicidade do motor a jacto moderno.


É mais simples, tem menos peças, mais fiável e ao invés de termos turbos e compressores, teriamos AFTER BURNER!



Já agora, o único veiculo motorizado por uma turbina que consegui encontrar a funcionar no mundo actual é este. Gostaria de ter um destes para atravessar a 2ª circular hoje...

O motor a combustão interna gasta maior parte da sua energia para manter-se em funcionamento. Porque é que ainda não foi substituído?! Devia - tirando o meu apartamento (e os meus filhos) são o bem mais dispendioso que tenho. Porque é a alma do automóvel - são todos os seus defeitos e defeciencias que o torna interessante. Um carro apaixonante tem sempre um grande motor. Sei que caminhamos para um futuro eléctrico, mas esse futuro avizinha-se tão excitante como conduzir um carrinho de choques numa pista sozinho. Sentar, meter a pastilha na ranhura e apertar o acelerador...CHATO!
No motor a combustão interna o homem e máquina trabalham juntos - mesmo sem olhar para o conta-rotações conseguimos sentir quando o motor esta sofrer ou se ainda tem mais potencia para dar, preparar a curva seguinte com a redução correcta para ter a força certa na saída...e naquele momento certo, com a estrada certa conseguimos sentir a carro a comunicar pelos fundilhos das nossas calças. Mete-se gasolina, ligamos o carro, magia negra ocorre e nós avançamos.
Sim o motor a combustão interna tem muitos defeitos - conduzi um Ferrari F355 há alguns anos, nunca pensei ser possível ter um orgasmo sem sexo.

2 comentários:

  • Miguel says:
    1 de janeiro de 2010 às 17:32

    Excelente literatura.

  • CUPRA R says:
    18 de janeiro de 2010 às 17:08

    É uma ditadura boa a do motor de combustão interna, pura e simplesmente porque não há alternativa melhor. Umas porque não são viáveis nem fiáveis outras porque são chatas e aborrecidas e não estão desenvolvidas o suficiente. Mas por muito que evoluam nunca conseguirão igualar o casamento entre homem e máquina com motor de combustão interna, eu não conheço outro tipo de motor que permita fazer o que se faz com um "MCI" , em alguns casos é como tu dizes, é sexo sem mulher mas com um bom orgasmo, talvez a melhor expressão já usada seja "sexo sobre rodas". E já agora, existe um outro veículo movido a turbina mas só tem duas rodas o que não é bem o meu tipo preferido e não dá tanto jeito para atravessar a 2ª Circular, é a MTT Y2K e usa uma turbina de helicóptero que pode ser movida a diesel e dá uns engraçados 400 km/h . Os Australianos são mesmo doidos, pois só mesmo nas longas rectas Australianas para se poder explorar todo o sumo desta máquina.