Novo Dacia Spring - ensaio

Graças ao pessoal da Roques VT consegui passar o fim de semana com um dos automóveis elétricos que mais queria ensaiar - o novo Dacia Spring 100% elétrico. Depois de terem inovado com o low-cost a combustão a Dacia quer ser a primeira com o low cost 100% elétrico - infelizmente todos sabemos que quando se tenta fazer algo barato/Low Cost acabamos com algo que pode ser colocado num destes 2 grupos: o "barato-rasca" e o "barato-inteligente". 
A grande pergunta é em que grupo encaixa o Dacia Spring e a quem é que pode interessar.


Introdução
Este Dacia Spring começou a vida como o Renault Kwid inicialmente lançado para os mercados emergentes em 2015, foi atualizado uma vez recebendo uma mecânica elétrica e rebatizado como o Renault K-ZE para os mesmos mercados e agora foi atualizado mais uma vez para a sua estreia no mercado europeu como um Dacia. E a 17.000 euros é o automóvel elétrico mais acessível do mercado (não contando com o Renault Twizy e Citroen e-Ami porque esses são quadriciclos pesados) seguido de perto pelo Renault Twingo que arranca nos 22.800 euros. 
Mais adiante irei voltar ao Twingo mas para já fiquemos pelo Spring aqui ensaiado na versão Confort Plus.


Exterior
O Dacia Spring é um SUV citadino - tem apenas 3,73 metros de comprimento (para referencia o Twingo tem 3,61 metros), 1,77 metros de largura, 1,5 metros de altura e com uma a distância ao solo de 15 centímetros a reforçar o aspeto aventureiro. 

Todos recebem as proteções das portas e carroçaria em preto, barras de tejadilho, logotipos "Eletric" nas laterais e tampa da mala e se for para na versão Confort Plus aplicações coloridas. O design do Dacia Spring é simples mas atraente e apesar da idade moderno - quadradão e alto em cima de pneus finos dá-lhe o sempre importante ar de SUV, e apesar de seguir o designe da marca a nova frente e assinatura luminosa especifica separa-o dos restantes dando-lhe simultaneamente presença e reduzindo os custos de produção.
Gostei de detalhes como um único esguicho para lavar o para-brisas e o sistema que usaram para o limpa-vidros que usa também apenas um braço para cortar custos de forma inteligente porque faz um bom trabalho com menos componentes.
À frente temos a iluminação dividida em dois andares (como nos Citroen) com as luzes de presença em cima numa bela faixa azulada e os restantes no "andar debaixo", um arranjo que especialmente à noite lhe dá um ar distinto e moderno. Entre os faróis diurnos temos a grelha dianteira fechada com aplicações cromadas a convergir para o logo da Dacia.

A grelha dianteira esconde as tomadas de carregamento - basta puxar uma alavanca debaixo do volante e parte da grelha levanta que nem parte do escudo de um Transformer! 
Tem uma articulação com 2 suportes e parece ser bastante sólida. Por debaixo encontrará as tomadas de carregamento tipo 2 (de série) e carregamento rápido DC (que é um opcional de 550 euros e limitado a 30 kW) protegidas por tampinhas plásticas.
O resto do Dacia Spring não foge muito ao design da marca - irá reconhecer sem duvida os faróis traseiros, pegas das portas, espelhos retrovisores, a superfície vidrada e até o perfil musculado do capot e painéis laterais de outros modelos da Dacia. Atrás não há pega para abrir a mala, apenas um botão que aperta e depois tem que meter a mão debaixo da tampa da mala.

Como tinha dito - simples mas atraente.


Interior
No interior temos o essencial, simplicidade e ergonomia de comandos que até uma criança perceberia - ao contrário de muitos elétricos atuais que parecem precisar de curso um superior para operar. As portas são apenas portas não têm múltiplos esquemas de iluminação elas estão ali apenas para o deixar entrar e sair do carro. Os assentos podem não ter um designe interessante ou múltiplas cores mas são forrados a uma pele sintética fácil de limpeza. 

Os plásticos no interior parecem básicos mas são resistentes e estão onde são necessário.
Mas para atingir o preço anunciado seria de esperar alguns compromissos - não temos pegas no interior para ajudar a entrar ou sair, não há apoio para o pé esquerdo que não tem nada para fazer graças à caixa automática, o assento do condutor não é regulável em altura e a coluna da direção também não.


Falando na coluna de direção, para levantar o capot tem que usar uma pequena alavanca por debaixo da coluna da direção e para levantar a proteção das tomadas de carga tem que usar outra pequena alavanca exatamente igual à do capot e localizada imediatamente ao lado. Confesso que inúmeras vezes queria abrir as tomadas e acabei sempre por abrir o capot...


Mesmo assim recebe de série travagem de emergência automática, faróis automáticos, vidros elétricos nas 4 portas, ar condicionado manual, espelhos retrovisores elétricos, limitador de velocidade, radio bluetooth com portas USB (e apenas 2 colunas de som à frente) e na versão Confort Plus acresce um sistema multimédia da LG, sensores e camara de vídeo traseira de estacionamento. Recebe também bastante espaço interior - com apenas 3,73 metros de comprimento e 1,77 metros de largura o Spring é pequeno mas com o formato SUV e o 1.52 metros de altura permite transportar 4 adultos no interior sem problemas.
À frente do condutor temos um conjunto de instrumentos "digital simples" com o indicador de potência, velocímetro e um pequeno computador de bordo que dá as informações mais importantes. 
No meio do tablier temos o sistema multimédia da LG com um ecrã táctil resistivo, os comandos dos vidros elétricos dianteiros, controlos de ventilação, botão Eco que limita potência e mais abaixo entre os assentos dianteiros, que não têm muito apoio lateral, o seletor rotativo da caixa de velocidades com as opções R (marcha-atrás, neutro e drive - não há opção de parque ou baixas).

Atrás o assento é bastante vertical e as costas são uma peça única rebatível não permitindo grande modularidade.

A mala tem uma boa capacidade para um automóvel tão pequeno - 270 litros, mais que suficiente para um cão de tamanho médio viajar confortavelmente.
Além disso tem mais 23 litros de espaço em arrumos à frente (nenhum atrás) - o porta-luvas era cavernoso mas não o suficiente para um cão porque tentamos e não coube.
Creio que a única verdadeira critica que tenho do interior é a falta de ajuste da coluna da direção - porque temos de ser nós a adaptar ao carro e não ao contrário. E para chegar ao botão do computador de bordo tem que meter a mão pelo volante - não recomendado em movimento.
Já debaixo do capot há bastante espaço livre...



Condução
Para arrancar o Spring basta rodar a chave, apertar o travão de pé, esperar que o "OK" acenda verde no conjunto de instrumentos e colocar a caixa de velocidades em modo D e já está. Curiosamente a caixa de velocidades só tem 3 posições D (andar para a frente), Neutro (não anda) e R (andar para trás) mas mesmo assim a Dacia achou que era preciso no conjunto de instrumentos ter um indicar em que posição a caixa está...

Pesando apenas 970 quilos (mais o caramelo no interior) os 135 Nm de binário imediatamente disponiveis dão a pujança certa para a cidade assegurando que ao verde nenhum lisboeta tem tempo para chegar à buzina para protestar ou acompanhar. Mesmo em modo Eco, que reduz a potencia para 31 cavalos (e aumenta a autonomia em 10% segundo a Dacia), a aceleração inicial é mais que suficiente.
O Spring está definitivamente à vontade na cidade - pequeno para caber em todas as vielas, ótima brecagem, motor é silencioso e sem necessidade de operar uma caixa de velocidades e a suspensão digere bem as irregularidades. Não é perfeita, mesmo com as jantes de 14 polegadas que dão muita borracha é um pouco seca mas mexe-se bem. A travagem regenerativa é pouca mas bem coordenada com a mecânica e a direção muito assistida a baixa velocidade mas melhor assim que atinge mais velocidade (normalmente quando o gerador de som para os peões se cala) torna-se mais direta. A cidade é o habitat do Spring e desembaraça-se muito bem nele.

Mas isso não quer dizer que está limitado à cidade - tive hipótese de percorrer bastantes quilómetros em estrada nacional e apesar de tudo dizer que não é propriamente um carro para velocidades tem o espirito de uma pequena lebre nele: em estrada aberta basta aprender a fazer as curvas da forma certa (normalmente cortando um pouco o meio da curva e entrar mais suavemente e a 2/3 da curva acelerar a fundo) e acelera confiantemente na direção em que as rodas estiverem apontadas e coloca-nos um sorriso na cara. Uma e outra vez. Pode não ser o melhor para ultrapassagens mas também recusasse a ser uma chicane móvel - tem genica e não é preciso muito para a aproveitar.

Mas saindo da cidade conseguimos ver o limite dos 44 cavalos que, particularmente nas vias mais rápidas, obrigam a medir as ultrapassagens e seriamente considerar as autoestradas. É a mesma coisa que tentar fazer autoestrada num pequeno Citroen C1 - a velocidade não é muita e quando houver qualquer ligeira subida o carro começa a andar para trás, particularmente se tiver mais pessoas e/ou bagagem no carro. No Spring não só a velocidade está limitada a 125 km\h que com 3 pessoas a bordo apenas atingi em superfície absolutamente plana e mal começa a subir a velocidade cai. O ruido aerodinâmico também aumenta substancialmente sem ser demasiado e nas curvas sente a carroçaria a inclinar um pouco devido à suspensão alta. Consegue ir à autoestrada com ele sem dúvida, mas apenas viagens curtas.


O que nos trás à autonomia. O Dacia Spring tem uma bateria de 27,4 kWh uteis que segundo o circuito WLTP permite uma autonomia de 230 quilómetros. Eu gostava de ter tido tempo para fazer um passeio longo para testar a bateria em condições mais realistas mas não tive hipótese tendo antes feito uma prova de stress - apenas cidade e estrada nacional, com 2 pessoas (ou 1 pessoa com um cão) a bordo, acelerar sempre que possível, com o modo Eco desligado, ar condicionado e radio sempre ligados. E apesar dos meus melhores esforços o Spring conseguiu fazer 200 quilómetros. Sinceramente não esperava tanto - com cuidado certamente faria os 250 quilómetros e em cidade não duvido que atinga os 300 quilómetros. Depois de o conduzir colocaria dinheiro nessa previsão.

Mas se gastar os eletrões tem que os repor e os tempos de carga são razoáveis mas atenção ao níveis de equipamento que escolhe: na tomada caseira precisará de 14 horas para carregar completamente a bateria (o cabo necessário é um opcional de 350 euros em ambas as versões), 5 horas numa wallbox de 7,4 kW e se for para a versão Confort Plus tem acesso à opção (550 euros) de carregamento rápido até 30 kW que permite 80% da carga em menos de 60 minutos.
Algo que prova que o Dacia Spring não foi construído a pensar em grandes viagens, mas se pensarmos bem não é um defeito, é uma vantagem: esta simplificação permite manter baixos os custos de compra e manutenção tornando-o uma escolha perfeita para um segundo carro elétrico mantendo o de combustão que já tem para as longas viagens. Basicamente um Renault Twizy com 4 lugares...e janelas...e ar condicionado...e suspensão confortável...percebem onde quero chegar.


E o Twingo Eletric?
Depois do Volkswagen e-up! e companhia terem deixado o mercado aguardando o ID.2 o único rival ao Dacia Spring na corrida do elétrico acessível é o Renault Twingo Eletric: 17.000 euros do Spring contra 22.800 euros do Twingo. Será que vale a pena gastar um pouco mais pelo Twingo?
Equipamento: o Spring bate facilmente o Twingo. De série o Dacia tem tudo o que precisa, particularmente se for para a versão Confort Plus (18.500 euros) onde recebe o sistema multimédia - no Twingo recebe pouco mais e os vidros traseiros não abrem. Apenas se for um fã da personalização e jogar com as cores do exterior e interior e tiver mesmo que ter o Android Auto ou o Apple Carplay é que o Twingo fará sentido. Mas se ficar pelos números apenas o Dacia Spring é o melhor.

Autonomia: ficando apenas pelos números oficiais o Spring vence também neste tema: no ciclo misto o Spring consegue uma autonomia WLTP de 230 quilómetros contra apenas 180 quilómetros do Twingo. Na cidade o Spring atinge 305 quilómetros contra 225 quilómetros do Twingo. Isto porque o Twingo tem uma bateria de 22 kWh contra a de 26,8 kWh do Spring.
Prestações: aqui o Twingo vence facilmente o Spring. Enquanto o Spring não tem potencia para lidar com as vias rápidas o Twingo está muito mais à vontade: o Dacia debita apenas 33 kW/44 cavalos e 125 Nm de binário contra 60kW/80 cavalos e 160 Nm do Twingo. Mas é uma vitoria relativa - quem escolhe o Dacia Spring não o faz pelas performances, mas se a sua vida passa por uma via rápida irá sentir-se mais à vontade e confiante no Twingo.

Espaço interior: graças ao design tipo SUV e maiores dimensões (3,72 metros de comprimento versus 3,61 metros) o Spring vence facilmente aqui. É mais espaçoso permitindo o transporte de 4 adultos e suas bagagens (251 litros de mala contra 188 litros do Twingo) mas tendo em conta os assentos com as costas direitas atrás provavelmente não vão querer ficar lá por muito tempo. As janelas traseiras descem (quase completamente) no Spring enquanto no Twingo abrem a compasso.

Ambiente interior: para serem minimamente comparáveis em termos de equipamento tem que ir para o Spring Confort Plus que a 18.500 euros reduz a diferença para o Twingo Zen para apenas 2.300 euros. Por esse valor recebe um interior mais moderno, plásticos de melhor qualidade, mais cor, sistema multimédia moderno e muitas mais opções de cores exteriores e personalização. E aqui está a grande diferença entre estes 2 elétricos acessíveis
Se for uma pessoa apenas de números ira para o Dacia Spring na versão Confort Plus. Se for uma pessoa apreciadora das cores, da diferença, da moda irá sem duvida para o Renault Twingo Eletric Zen em Amarelo Mango.


Conclusão
Pontos positivos
- Preço para um elétrico
- 4 lugares e mala útil
- Equipamento completo de base
- Perfeito para a cidade
- Autonomia em cidade

Pontos negativos
- Insonorização em velocidade
- Performance e autonomia em vias rápidas
- Inclinação em curva

Recentemente escrevi sobre o Renault 5 e como muito do seu sucesso deveu-se ao publico jovem (solteiros ou casados, sem crianças e que apenas ocasionalmente têm de transportar passageiros) que procurava um citadino acessível, elegante, polivalente, confortável mas também por ser um ótimo segundo carro para as famílias - o Dacia Spring faz exatamente a mesma oferta na versão 100% elétrica.
Tal como o preço, é o tempo de configurar o seu Spring é também reduzido: tem 2 níveis de equipamento (Confort se não pensar sair da cidade e Confort Plus para os que esperam sair da cidade), 4 cores e 2 opcionais para escolher por nível de equipamento em que o cabo de carregamento em casa é uma delas (a outra opção é o pneu suplente na versão Confort e o carregamento rápido na versão Confort Plus).
Se tudo o que escrevi até agora fez sentido para sí a única coisa que precisa para o convencer ir ao concessionário da Dacia mais próximo é olhar para os preços de combustíveis - o pessoal da VT Roques têm um à venda neste momento...que limpei antes de devolver!

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