A grande fuga de Carlos Ghosn

Como todos já devem saber 2019 terminou com uma ultima surpresa - Carlos Ghosn pirou-se do Japão e apareceu no Líbano, segundo ele para fugir do sistema judicial que diz estar a persegui-lo. Estive a tentar perceber como é que aconteceu e o que se poderá seguir neste CarlosGate.
A 25 de Abril de 2019 Ghosn conseguiu sair em fiança da cadeia japonesa onde estava detido tendo entregado os seus 3 passaportes (francês, brasileiro e libanês) aos seus advogados e aceitar reduzir ao mínimo os seus contactos com a sua mulher - mas a 31 de Dezembro eis que Carlos Ghosn aparece no Líbano. Como é que Carlos conseguiu?

O ex-ceo da aliança Renault-Nissan estava a espera em liberdade muito condicionada pelo inicio dos 2 julgamentos em que estava envolvido, com vigilância policial e video. Inicialmente surgiram noticias que ele teria escapado de casa dentro de uma caixa de instrumentos musicais - porque pelos vistos uma banda tocou em casa de Ghosn em Tóquio. Mas parece que a verdade é bem mais simples: segundo a NHK, que cita fontes da investigação que tiveram acesso ao filme de segurança, Ghosn terá simplesmente saído de casa no domingo ao meio dia e não mais voltou. Segunda-feira de manhã já estava no Líbano. Quem estava a fazer a vigilância ou estava a dormir na formatura ou fez vista grossa...

De casa Ghosn seguiu para o Kansai International Airport em Osaka aeroporto onde entrou a bordo de um avião privado da empresa turca MNG Jet. Apesar de ser um vôo privado o controlo de fronteiras é o mesmo, o que significa que a bagagem passou pelos raio-x e Ghosn teve que passar pelo controlo. Provavelmente com um disfarce e identificação que não estava sinalizada.

Mas mesmo passando pela segurança a tripulação dos vôos privados têm que declarar a identificação dos ocupantes ao aeroporto - algo que teria estragado os planos de fuga: a equipa de bordo estava dentro do esquema. A operadora de aviões privados turca MNG declarou que os seus aviões foram usados ilegalmente na fuga de Carlos Ghosn. Segundo a MNG Jet 2 jactos privados foram alugados a 2 clientes diferentes, mas depois de apertar os funcionários estes admitiram que falsificaram a documentação para que o nome de Ghosn nunca aparecesse e que ambos os alugueres parecessem não estar ligados: um avião vôo de Dubai para Osaka e de Osaka para Istanbul, e o outro avião voou de Istambul para Beirute.

Sobre como entrou no Líbano ainda não há certezas - segundo o jornal Le Monde terá entrado com uma identificação libanesa, mas o jornal libanes Annahar (que cita as autoridades libanesas) diz que Ghosn entrou com um passaporte francês.

Nos entretantos a policia turca já deteve 7 pessoas, incluindo os 4 pilotos.

Uma vez em solo libanês Carlos Ghosn estava seguro - não há extradição e a bomba rebenta. Rapidamente o ministro da defesa libanês Elias Bout Saab (sim, o ultimo nome dele é Saab) disse ao canal libanês MTV (sim, hámais que uma MTV) que o governo libanês não esteve envolvido na fuga de Ghosn.

Até podem não ter tido nada a ver com a organização da fuga, mas apesar de oficialmente negarem o encontro, várias fontes já confirmaram que Ghosn encontrou-se pessoalmente com o presidente libanês Michel Aoun pouco depois de chegar ao pais e terá sido um encontro muito amigável.

Como disse acima não há certezas que identificação Carlos Ghosn terá usado para entrar no Líbano - curioso porque todos os 3 passaportes de Ghosn deviam estar retidos no Japão pelos advogados que o representam como garantia. O advogado de Ghosn diz que ainda tem os passaportes e que está perplexo e surpreso pela fuga.

Uma as primeiras declarações de Carlos Ghosn no Líbano foi de que a sua família nada teve a ver com a sua fuga do Japão - tentando tirar pressão de cima da sua esposa Carole disse: “I alone arranged for my departure. My family had no role whatsoever”.
Porém uma investigação do jornal francês Le Monde, que cita fontes não identificadas, que terá sido mesmo Carole a montar a fuga com a ajuda dos irmãos e de uma empresa de segurança privada possivelmente turca após 3 meses de preparação.

Finalmente o governo libanês já recebeu um mandato de captura internacional da Interpol a Carlos Ghosn, mas o mais certo será não colaborar já que não tem acordo de extradição com o Japão.


E agora?
Carlos Ghosn tem o dinheiro e segurança do seu lado e não vai a lado nenhum. Duvido é que fique calado, o mais certo é dedicar-se a vingar-se do que lhe fizeram da segurança da sua residência.

Há quem sugira que ele pode aparecer em França para se defender e prejudicar a Renault-Nissan mas para quê? Arriscar a possibilidade de mais cadeia quando pode passar o resto dos seus dias rico no conforto do seu pais natal? Quer a Renault quer o governo francês viram o caso que os japoneses têm contra Ghosn e não o defenderam - isso diz muito.

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