CarlosGate - ponto de situação 21-11-2018

Além do Dieselgate agora temos mais um escândalo para acompanhar - chamei este de CarlosGate, e para seguir este tópico basta clicar na tag respetiva. Noticia ainda recente mais já algumas atualizações a fazer - ficam abaixo os principais desenvolvimentos como sempre sem tretas, conservantes ou adoçantes acrescentados.

Ghosn temporariamente fora da Renault
Como Carlos Ghosn ainda não foi condenado mantém para já o posto de chairman e CEO da Renault mas após a reunião de ontem Thierry Bollore, o atual Chief Operating Officer da Renault, foi nomeado CEO temporário comos mesmos poderes que Ghosn. Philippe Lagayette, membro da direção da Renault, tomará o lugar de chairman de Ghosn. Curiosamente Bollore era o favorito para tomar o lugar de Ghosn como CEO da Renault quando este se reformasse em 2022. A direção da Renault não despediu Ghosn e espera mais informação da Nissan para uma decisão final. Já a Nissan não está pelos ajustes e deverá já amanhã anunciar a decisão de ejectar Ghosn.

Esta decisão já tinha sido pré-anunciada no dia anterior à reunião pelo ministro francês das finanças Bruno Le Maire que disse à rádio France Info que Carlos Ghosn já não tinha condições para liderar a Renault e devia ser substituído assim que possível por uma liderança temporária. Segundo Le Maire as autoridades fiscais francesas não detetaram nada de anormal nas finanças de Ghosn do seu lado, e estão a articular com os seus pares japoneses.

A grande preocupação é preservar a aliança Renault-Nissan forjada por Ghosn há quase 20 anos. E se na altura a preocupação era salvar a Nissan, agora temos a integração da Mitsubishi, a queda do diesel, os desafios da electrificação e condução autónoma.


Como é que ele conseguiu?
É uma boa pergunta e 2 coisas tiveram que acontecer para Ghosn ter conseguido fazer o que fez. Primeiro como é que ninguém na Nissan, que não é uma empresa pequena, não detetou esta falcatrua ao longo destes anos? Ninguém na direção, contabilidade ou auditores internos não deram por nada?! Acredito mais que viram mas fizeram vista grossa - até pelos vistos alguém chegou-se à frente e iniciou a investigação. Segundo os jornais um membro da equipa legal da Nissan terá feito um acordo por imunidade, ou seja, é possível que seja um outro cúmplice ou um funcionário que sabia e só agora se chegou à frente.

Segundo culpa cai principalmente na Nissan e Renault que permitiram que Ghosn acumulasse tanto poder - Ghosn foi CEO da Nissan em 2001 não só conseguindo salvar a marca japonesa da falência como também mudar a cultura da marca (sendo não-japonês foi a primeira pessoa que o conseguiu), foi CEO da Renault em 2005, e chairman Nissan em 2008 e da Renault em 2009. Com tanto poder e influencia acumulada ele tinha a proverbial faca e o proverbial queijo na mão.

Sim, Ghosn e Kelly são culpados mas a Nissan e Renault permitiram as condições para que eles o fizessem.


E agora?
Depois de preso na segunda-feira no aeroporto de Tóquio e agora nas mãos da policia japonesa, se condenado o chairman da Nissan Carlos Ghosn arrisca até 10 anos de cadeia e/ou multa até 10 milhões de yennes. Greg Kelly, outro membro da direção e suposto cúmplice de Ghosn neste escândalo, também arrisca o mesmo. Segundo a lei japonesa ambos Ghosn e Kelly podem ficar detidos até 20 dias esperando a acusação ou serem libertados. Ainda não há acusações oficiais mas segundo os jornais japoneses estás incluem:
- Nissan pagou grandes somas para dar a Ghosn residências fora do Japão (Rio de Janeiro, Beirute, Paris e Amesterdão) sem razões profissionais e não as declarou ao fisco japonês;
- Ambos Ghosn e Greg Kelly são acusados de ocultar 5 mil milhões de yennes de rendimentos de Ghosn às autoridades durante um período de 5 anos apartir de 2011;
- Segundo a Nikkei Ghosn terá utilizado dinheiro destinado a investimentos e de despesas pessoais para comprar propriedades para sí via unidades externas.


E será mesmo assim que contam?
Coloquem por favor os chapéus de alumínio na cabeça porque vou tecer uma teoria - e se isto não for exatamente o que parece? Apesar da Ghosn ter salvo a Nissan da falência e de, como estrangeiro, ter conseguido liderar uma empresa japonesa a verdade é que há já algum tempo que surgiam rumores que a Nissan liderada pelo CEO japones Hiroto Saikawa não está satisfeita com a posição do construtor na aliança e contra uma integração mais profunda com a Renault. Com Ghosn fora da equação, afinal era ele o elemento que criou e mantinha esta aliança, e sendo a vitima a Nissan poderá exigir mais desta aliança ou mesmo abandoná-la completamente - o orgulho nacional é muito forte no Japão e eles parecem muito apressados para o despedirem.

A reunião da direção da Nissan é na quinta portanto não teremos que esperar muito.

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