HFO-1234yf vs Mercedes parte 2

Lembram-se de eu ter escrito um email à Comissão Europeia sobre a questão do HFO-1234yf versus Mercedes? ELES RESPONDERAM! Abaixo vão encontrar o email que me enviaram (copy-paste), para os que não dominam o inglês uma tradução literal e no fim fica a minha análise à resposta. É um pouco longa mas bastante informativa. Recomendo a ura aos interessados em saber como funcionam estas coisas da industria automóvel no contesto da União Europeia.
Mensagem original
Thank you very much for your message dated 26 March 2013 regarding the implementation of Directive 2006/40/EC (the MAC Directive) and the use of HFO-1234yf. We have also consulted your blog and the insightful article on this issue. I am replying to you on behalf of Mrs Superti.

Before anything, let me reassure you that the European Commission shares with you the concern regarding the safety of products, and notably of vehicles, put on the European market. In fact, the Commission is committed to ensuring the highest levels of safety of vehicles in the EU. However, the Commission has also the duty to ensure that European Union law is uniformly applied throughout the EU's internal market so that a level playing field is ensured for all economic operators in the Union.

As you refer, the MAC Directive is a key instrument in our fight against climate change. It was adopted by the European Parliament and by the Council almost seven years ago, in May 2006, following a long negotiation. It included a long lead-time for adaptation and was technologically neutral, not determining any substance or system to implement its objectives.

The automotive industry opted, in 2009, to use refrigerant HFO 1234yf in MAC systems as the solution for the implementation of the Directive. The Commission has followed the relevant debates closely since the early stages of the drafting of the Directive. In this process, all key stakeholders confirmed that the use of the refrigerant in MAC systems was safe, and very significantly the Society of Automotive Engineers International (SAE International) and the European and national associations representing the manufacturers. For example, the German Association VDA stated in its 2012 annual report that "the new climate-friendly refrigerant was examined in detail by a global network and is as safe by comparison as the previous R134a refrigerant, even in an accident". The product was tested and registered according to the rules, both in the EU and the United States. It was also tested and approved by some fire-fighters associations.

The Commission was therefore extremely surprised that, six years after the adoption of the Directive, in-house testing by one company (Daimler) shed such an important doubt over all this work. Please note that Daimler was the only company to inform the Commission that it has concerns regarding the safety of the use of the substance in MAC systems (the other companies that you refer did not do so, contrary to your information).
However, these concerns deserve all the attention of the Commission and of the national authorities. Therefore, the relevant authorities are currently investigating the issue. In fact, the relevant German authority in charge of market surveillance (KBA) confirmed that the Daimler vehicles were not safe and confirmed the grounds for the voluntary recall of the referred vehicles. It is now analysing the safety aspects of the use of the refrigerant in other vehicles. The evaluation is on-going.

Furthermore, the relevant authorities are also studying with Daimler the measures needed to make their vehicles both safe and compliant with EU legislation.

For the Commission, there is no evidence, until today, that there are no technical solutions to mitigate the flammability risks associated to the use of the HFO 1234yf gas in MAC systems. Vehicle manufacturers are well equipped to deal with flammable substances. As referred, detailed risk assessments and standardisation processes were conducted with this objective, involving all manufacturers, which concluded that the risk of the use of this gas was equivalent or inferior of other flammable fluids used in vehicles, including engine oils and fuels. These procedures are currently being revised. The design of mobile conditioning is also subject to international standards (ISO).

Furthermore, the testing procedures by Daimler are controversial: several manufacturers and other stakeholders have challenged their relevance in real-life situations. Therefore, the 'serious risks' referred may be associated to specific MAC systems in specific vehicles. However, the competent authorities are still evaluating this, so it is premature to conclude.

Therefore, in the present situation, the Commission has no option but to fulfil its obligations and request that correction measures are implemented so that the European law is respected by all, ensuring the good functioning of the internal market and equal competition conditions to all manufacturers.
To conclude, you refer that there are only two suppliers of the refrigerant HFO-1234yf and that this may create a situation of monopoly or price fixing. The Commission is well aware of this situation and has opened antitrust proceedings concerning agreements between Honeywell and DuPont for the development of the refrigerant in 2011. This investigation is on-going and is not related with the implementation of Directive 2006/40/EC.
Yours sincerely, PHILIPPE JEAN Head of Unit

Tradução literal
Muito obrigado pela sua mensagem datada de 26 de março 2013 relativamente à implementação da Directiva 2006/40/EC (a Directiva MAC) e o uso do HFO-1234yf. Consultamos o seu blog e o artigo neste tema. Estou a responder em nome da senhora Superfi.

Antes de mais deixe-me assegurar que a Comissão Europeia partilha a sua preocupação relativamente à segurança dos produtos, e neste caso veículos colocados no mercado Europeu. A Comissão esta decidida a assegurar os mais altos níveis de segurança em veículos (na União Europeia). Porém, a comissão tem também o dever de assegurar que a lei europeia seja aplicada de forma uniforme no mercado interno europeu de forma a dar iguais condições a todos os envolvidos.

Como refere, a directiva MAC é um instrumento chave para a luta contra as mudanças climáticas. Foi adoptada pelo Parlamento e Conselho europeu há quase 7 anos em Maio de 2006, depois de longas negociações. Incluí-a um longo período de adaptação e era tecnologicamente neutro, não determinando qualquer substancia ou sistema a implementar.

A industria automóvel optou em 2009 pelo uso do refrigerante HFO 1234yf nos sistemas MAC como solução para a implementação da directiva. A comissão seguiu os debates atentamente desde as fases iniciais da directiva. Neste processo todos os interessados confirmaram que o uso deste refrigerante nos sistemas MAC era segura, e muito importante, a Sociedade Internacional de Engenheiros Automóveis (SAE International) e os representantes nacionais dos construtores. Por exemplo, a associação alemã VDA inclui no seu relatório anual de 2012 que "um novo refrigerante amigo do ambiente tinha sido analisado em detalhe por uma rede global e é seguro em comparação com o anterior refrigerante R134a, mesmo num acidente". O produto foi testado e registado de acordo com as regras/procedimento, na União Europeia e nos Estados Unidos. Foi também testado e aprovado por algumas associações de bombeiros.

A Comissão ficou muito surpreendida que 6 anos após a adoção da directiva que testes internos de uma empresa (Daimler) coloque tamanha duvida sobre todo o trabalho efectuado. Note que a Daimler foi a unica empresa a informar a Comissão preocupações relativamente ao uso da substancia nos sistemas MAC (a outras empresas que refere não o fizeram). Porém, estas preocupações merecem a atenção da Comissão e das autoridades nacionais. Assim, este problema esta a ser investigado pelas autoridades competentes. A autoridade alemã que vigia o mercado (KBA) confirmou que os veículos da Daimler não são seguros e confirmou as bases para uma recolha dos veículos envolvidos. Esta agora a analisar os aspectos de segurança do uso do refrigerante noutros veículos. A avaliação esta ainda a decorrer.

Além disso as autoridades relevantes estão também a estudar com a Daimler medidas necessárias para tornar os seus automóveis seguros e conformes com a legislação europeia.

Para a comissão não há provas, até hoje, que não existem soluções técnicas para mitigar os riscos de ignição associados com o uso do HFO 1234yf nos sistemas MAC. Os fabricantes de automóveis estão bem equipados para manejar substancias inflamáveis. Com este objectivo, análises de risco e padronização de procedimentos foram feitos com todos os construtores, que concluíram que o risco do uso do gás era equivalente ou inferior a outros líquidos inflamáveis usados num automóvel, incluindo óleos e combustíveis. Estes procedimentos/processos estão agora a ser revistos. O design de sistemas de ar condicionados moveis está também sob alçada de padrões internacionais (ISO).

Acresce que os procedimentos de teste da Daimler são controversos: vários construtores e intervenientes não concordam com a relevância dos testes em situações da vida real. Dai os "sérios riscos" referidos podem ser associados a sistemas MAC específicos em automóveis específicos. Mas, as autoridades competentes ainda estão a avaliar esta situação logo é prematuro tirar conclusões.

Assim, na situação actual, a comissão não tem opção senão cumprir as suas obrigações e pedir a implementação de medidas correctivas para que a lei europeia seja respeitada por todos assegurando o bom funcionamento do mercado interno e condições iguais para todos os fabricantes.
Para concluir, refere que apenas existem apenas 2 fornecedores do refrigerante HFO-1234yf e que pode criar uma situação de monopólio ou fixação de preços. A comissão tem conhecimento desta situação e iniciou processos relativamente a acordos entre Honeywell e DuPont para o desenvolvimento do refrigerante em 2011. Esta investigação está a decorrer e não esta relacionada com a directiva 2006/40/EC.
Atentamente PHILIPPE JEAN

Minha análise da resposta
Devo dizer que esta resposta ilustra muito bem a quantidade de passos, pessoas e recursos  necessários para algo que nos habituamos a ter nos nossos automóveis e normalmente nem nos apercebemos dela. 

A Comissão fez questão de assegurar que todo o processo decorreu de acordo com todos os requisitos e que tudo corria bem até que a Mercedes detectou o problema durante um teste de segurança. Argumentam que o problema está no sistema MAC (Ar Condicionado Móvel) da Mercedes e nas condições do teste da Daimler que "não são realistas". Todo o processo esta em investigação e a Mercedes está a modificar os seus sistemas para eliminar esta situação.

Algo que não discordo e ainda bem que estão a investigar a situação, excepto que onde eles vêem uma excepção à segurança eu vejo uma situação em que o gás pode ser perigoso. As condições do teste da Daimler podem "não ser realistas", mas daí o mesmo se pode dizer dos testes do EuronNCAP - desde quando é que num acidente no mundo real acertamos apenas numa barreira deformável?
Citando uma das leis incontornáveis da engenharia (Lei de Murphy) "o que pode correr mal, correrá mal". 

Algo que não explicam, porque também seria algo de especulação, sendo a culpa do sistema da Mercedes porque é que Mercedes, Volkswagen e BMW se juntaram na procura de uma alternativa. O que andam os alemães a preparar?
Fico satisfeito porém que estão em cima da Honeywell e DuPont relativamente à questão de monopólio e fixação de preços.

Um tema a seguir sem dúvida com muita atenção e sempre que houver desenvolvimentos farei questão de os colocar. Agradeço desde já a resposta do senhor Philippe Jean a quem vou enviar uma tradução da minha análise acima.

1 comentários:

  • Anónimo says:
    29 de maio de 2013 às 09:37

    Toda esta discussão sobre este novo refrigerante (HFO-1234yf) imposto pela comissão europeia e a alternativa estudada pela Mercedes está um tanto ou quanto enviesada e deveriam ser esclarecidas algumas questões.

    1.ª- Como é que a comissão pode fazer questão de assegurar que tudo corria bem (até a Mercedes se meter ao barulho) quando foi a própria comissão a impor a obrigatoriedade de um novo produto sem sequer considerar a possibilidade de outras alternativas correndo o risco de impedir o desenvolvimento tecnológico, como agora efectivamente se verifica ao ser apresentada uma alternativa que aparentemente foi liminarmente recusada pelo responsável dentro da comissão europeia?
    Onde estaríamos nós se, por decreto, o desenvolvimento tecnológico tivesse sido impedido no passado?

    2.ª- Se a Honeywell e a DuPont são as empresas responsáveis pelo desenvolvimento do novo refrigerante HFO-1234yf e estando este sujeito a patente então é uma autêntica anedota a comissão estar a investigar o monopólio do HFO-1234yf por parte destas duas empresas. Ou será que li mal ?
    É que as patentes servem para isso mesmo, criar monopólios.

    3.ª- Aliás, a própria comissão ao impor a obrigatoriedade de um produto (sem considerar pelo menos uma outra alternativa) está, ela própria, a criar um monopólio. Está a impor, ela própria, um produto, um único produto, num mercado de vários milhares de milhões de euros por ano só a nível europeu.
    Parece-me extraordinário a comissão promover activamente (através de legislação) um monopólio e depois dizer que está a investigar o monopólio... que ela própria criou.

    Muito descaramento e muita hipocrisia em toda esta história!

    4.ª- Como é que a comissão europeia pode querer investigar a fixação de preços do HFO-1234yf entre a Honeywell e a DuPont se estas duas empresas o desenvolveram conjuntamente, em parceria?
    Não é uma situação que sequer se equipare a termos, por ex., várias bombas de gasolina... de diferentes donos... abastecidas por diferentes petrolíferas... a praticarem o mesmo preço num mesmo troço de auto-estrada!

    5.ª- Finalmente, como é possível que Philippe Jean tenha respondido ao caro Turbo-lento que a directiva MAC (Ar condicionado Móvel) é um instrumento chave na luta contra as alterações climáticas?!
    Nos comentários que já aqui escrevi:
    http://www.4rodas1volante.com/2013/03/volkswagen-rejeita-hfo-1234yf-ue-ameaca.html
    facilmente rebati tal argumento.


    Repare-se bem neste pormenor: na sua resposta, Philippe Jean, já nem diz “aquecimento global”, agora é “alterações climáticas”, expressão mais agradável ao ouvido e que aparenta impor mais respeito mas que, convenientemente, é mais abrangente pois com a expressão “alterações climáticas” podem englobar mais facilmente todo o tipo de fenómenos meteorológicos sejam eles: tempo quente, secas, tempo frio, chuvas intensas, tempestades, furacões, inundações ou até mesmo nevascas como as que aconteceram este Inverno em vários pontos do hemisfério norte e que há dezenas de anos que não se via igual. Tudo, dizem eles sem hesitação nem conhecimento de causa (pois apenas repetem frases feitas), culpa de gases libertados pelo Homem para a atmosfera.


    Caro Turbo-lento, pense nestas questões antes de presentear Philippe Jean (em substituição de Valentina Superti) com a tradução da sua análise à reposta que recebeu.

    E, já agora, (porque não?) pergunte-lhe o que irá a comissão fazer quando verificarem (num futuro muito próximo) que o famoso buraco do ozono ganhou um novo fôlego, isto é, voltou a aumentar.

    Será que a comissão se vai deixar levar como até aqui e vai responsabilizar mais um gás refrigerante, às tantas o próprio HFO-1234yf? Ou será que vai finalmente informar-se convenientemente e “descobrir” que o Sol estando agora no seu ciclo 24 que se caracteriza por uma muito baixa actividade solar e consequente muito baixa emissão de raios ultravioletas é o único responsável pelo aumento e diminuição do ozono na atmosfera terrestre (ciclo do ozono)?


    Humberto