Mal posso esperar por 2014

2013, como estou feliz por te ver pelas costas. Um ano muito difícil sem dúvida, mas sempre acreditei que devemos olhar para a história para melhor preparar o futuro. E enquanto jornais elegeram o Papa Francisco personagem do ano e sites de automóveis elegeram os seus favoritos de 2013 ou o que desejam em 2014, prefiro olhar para algumas das tendências de 2013 que devemos ver ampliadas em 2014.
 
Crise no setor automóvel
Segundo o ACP as vendas automóveis aumentaram 11,7% em 2013 relativamente a 2012 o que é bom. Infelizmente não totalmente - a verdade é que com a queda de vendas nos últimos anos muitas das vendas são para substituir automóveis velhos demais para estarem na estrada e são vendas com enormes descontos, muitas vezes com perdas apenas para despachar stock. Como escrevi recentemente, os construtores teimam em não avançar com medidas drásticas mas necessárias para controlar as perdas enquanto aumenta a pressão de construtores japoneses e coreanos. A situação financeira na Europa começa a dar sinais positivos mas não vai melhorar a tempo se medidas não forem tomadas a curto prazo - redução da capacidade produtiva em excesso e investir nos mercados em crescimento. Relativamente a este ultimo ponto, em 2014 e com os sinais de fraqueza na Rússia e Brasil, os mercados fulcrais para 2014 vão ser os EUA (que já voltou a níveis pré-crise) e a China.
 
 
Volkswagen tenta mas não consegue dominar o mundo
Piech bem que tenta mas não consegue - na Europa a VW consegue manter-se acima da linha quando quase todos se afundam roubando clientes, na China prepara-se para ser a marca estrangeira mais vendida, mas a pedra no sapato continua a ser o mercado norte-americano. Apesar deste mercado ter subido e regressado aos níveis antes da crise, a Volkswagen vai terminar o ano a perder e sem este mercado não há domínio. A Volkswagen tem um enorme catálogo de marcas de veículos de passageiros e comerciais, acabou de anunciar orçamentos incríveis para desenvolvimento de novos modelos e Piech não esta a ficar mais novo - será que os alemães conseguem mesmo chegar ao topo? Sem tirar GM, Toyota e Ford do pódio americano nunca lá chega.
 
 
Turbos e SUV's para todos
2 "tendências" mais que certas para 2014. Cada vez mais construtores anunciam o fim de motores atmosféricos nas suas gamas nos próximos 2 a 3 anos, outros já este ano - os próximos Mini já apartir do 3º Cooper vão todos ter um turbo. Mais potentes e mais eficientes, os motores turbo são a resposta para cada vez mais exigentes limites de emissões e impostos sobre as cilindradas. Antes uma sigla desejado com muitos a comprarem autocolante a dizerem "Turbo" para por no seu automóvel, em breve será apenas comum.
E depois dos monovolumes, depois dos coupés de 4 portas eis o novo formato para dominar todos os formatos (referencia ao senhor dos anéis) - os Sport Utility Vehicle. Estive a contar o número de SUV's e CUV's (SUVs compactos) previstos em 2014 e desisti de contar depois dos 20 - qualquer que seja o automóvel que pretenda adquirir em breve, há um SUV a seu gosto.
 
 
Adeus caixa de velocidades manual?
Adoro a caixa de velocidades manual, permite controlar de forma direta o automóvel e ajuda a tal ligação "homem-máquina que só se pode apreciar pelos fundilhos das calças. Mas até eu sei que a eletrónica sabe determinar melhor e mais rapidamente o momento certo de mudar a velocidade e até faze-lo mais rapidamente que qualquer humano. E com o apertar dos limites de emissões, a melhor forma de o conseguir é ser o cérebro eletrónico a mudar as velocidades retirando ao condutor essa escolha por defeito. Apesar de ver as vantagens sempre achei que nunca viria a acontecer, e provavelmente não será tão cedo mas a verdade é que cada vez mais caixas automáticas e DSG são a única escolha em modelos que nunca se pensaria - o novo Renault Clio RS, Porsche 911 GT3 ou Turbo por exemplo. Em 2014 devem surgir mais e não me admirava se muitos modelos da "nova geração" venham por defeito com estas caixas, principalmente nos segmentos superiores.
 
 
Fiabilidade, recolhas e acções técnicas
O ano automóvel 2013 teve outra palavra importante - recolhas. Antes tema desconhecido e sombrio graças ao facto de que na Europa os construtores não são obrigados a tornar público essas acções (sendo necessário saber procurar ou conhecer as pessoas certas), mas em 2013 saltou para a ribalta com o episódio da aceleração repentina da Toyota que muita tinta fez e faz correr. A verdade é que todos os construtores as têm - os automóveis são máquinas extremamente complexas e sujeitas a enormes esforços, daí que todos os construtores as tenham alguns mais pequenos outros mais volumosos.
 
Mas notei uma tendência interessante em 2013. Olhando para as várias recolhas efectuadas (as dos EUA são as mais detalhadas, se bem que em breve na Europa vai ser o mesmo sistema) notei que envolvem cada vez mais problemas com componentes individuais e não propriamente problemas da fabricação do automóvel - airbags, cintos de segurança ou eletrónica vária como os Honda que pegavam fogo ou cablagem da BMW que se desfazia. Estes problemas têm todos uma origem comum - com o apertar das margens de lucros cresce a dependência de todos os construtores automóveis de grandes fornecedores. Tivemos o problema com os ativadores de airbags da Toyota, Honda, Nissan, Mazda e BMW todos vindos da Takata Corporation. Defeitos em componentes ao nível de apenas 1 fornecedor podem afetar muita da industria.
E há outro efeito nefasto - vários destes grandes fornecedores foram recentemente condenados por combinarem preços. É garantido que estes fornecedores vão andar de trela curta nos próximos tempos, mas será que vamos recuar no tempo e ter construtores a produzirem internamente alguns dos sistemas críticos dos seus automóveis?
 
 
Alternativo não pega?
Apesar de todas as promessas sobre tecnologias e combustíveis alternativos ainda esta para chegar "à vida real": o hidrogénio, etanol e muito dos automóveis elétricos. Especialmente nos automóveis elétricos para o povo, o volume de vendas simplesmente não aconteceu e não parece que irá surgir em breve. E quando achava que estas promessas iriam simplesmente cair no esquecimento como já aconteceu antes, surgem a BMW e a Tesla que provam que é possível dar saltos na evolução automóvel.
Quem segue o mundo automóvel não pode deixar de tirar o chapéu à Tesla - mesmo com um CEO que tem mais birras que o meu filho de 5 anos, com o afundar da Fisker, com George Clooney a dizer que odiou o seu Roadster, com a NHTSA (o EuroNCAP dos americanos) a dar a pontuação mais alta ao Model S e depois abrir uma investigação depois de 3 incêndios envolvendo baterias do Model S, arrancando com um modelo de negócio completamente diferente do tradicional e mesmo assim a Tesla continua. Definitivamente ficar de olho na marca americana.
 
A BMW arriscou muito com os i3 e i8 investindo fortemente em tecnologia avançada, como a construção hibrida em plástico reforçado com fibra de carbono e alumínio para a construção de um citadino (i3) e um desportivo (i8). Apesar das vendas saíram disparadas com a produção de 2014 já reservada duvido que a BMW consiga compensar o investimento feito apenas nestes modelos - mas a BMW não esteve apenas a desenvolver 2 modelos novos, esteve a desenvolver uma nova forma de construir automóveis, um novo caminho. A BMW não pensou nos próximos 5 ou 10 anos, eles estiveram a estudar o que o futuro a longo prazo vai exigir e desenvolveram hoje as tecnologias necessárias. Se agora é apenas uma pequena sub-gama, em breve o futuro da industria automóvel.
 
A nível de tecnologias inovadoras há mais uma a ficar de olho em 2014 - a condução autónoma, vai ser um ano muito importante para estes sistemas. Quase todos os construtores têm namorado com a ideia, e não é coisa de agora porque já o fazem há anos, mas ninguém ainda teve a coragem para a pôr na estrada. Mas recentemente um certo Dieter Zetsche (também conhecido por Doctor Z) que subiu para o palco da Mercedes no ultimo salão automóvel de Frankfurt num Mercedes Serie S que se conduziu sozinho! E não era um protótipo - todos os sistemas necessários para a condução autónoma já estão incluídos no novo Serie S, mas por motivos legais a Mercedes desativou as ligações que o permitem. E se há coisa que é sólida no mundo automóvel é que se o Mercedes Serie S tem, em breve todos o podemos ter e o potencial para salvar vidas em acidentes é enorme.
 
 
Mulheres ao poder
Tivemos o primeiro Presidente Norte-Americano preto (ou afro-americano como politicamente se diz), e o mais certo é aseguir ser a primeira mulher com Hillary Clinton a suceder a Obama. Mas antes de uma "Presidenta" já há uma mulher à frente de um construtor mundial (ou o maior construtor dependendo se acreditamos na GM ou Toyota) - Mary Barra chega à liderança da GM depois desta sair debaixo da alçada do governo americano (depois do processo de falência) e será que vai ser ela a conseguir pôr ordem na casa, incluindo na Opel?
Já agora permitam o aparte, também temos um "tuga" à frente da PSA - será que Carlos Tavares será capaz de fazer aquilo que inumeros franceses tentaram sem sucesso e dar a volta à PSA? O ego francês pode ser reduzido a pedacinhos muito pequeninos...
 
 
Concluindo
Sim, o ano de 2013 foi muito difícil para a industria automóvel, mas esta respondeu da única forma que sabem que funciona - fazer melhores automóveis: Peugeot 308, Mini 3, BMW i3, Range Rover, Jaguar Type-F, Mercedes Classe S são apenas alguns. Costuma-se dizer que a necessidade é a mãe de todas as boas ideias, e a necessidade nunca foi tão grande. Esta a ser apresentada uma nova geração de automóveis produto de incrível criatividade e ideias que antes seriam enterradas estão a ser colocadas em prática - sinceramente mal posso esperar para ver o que 2014 nos vai trazer. VENHA ELE!!!

2 comentários:

  • Lone Rider says:
    5 de janeiro de 2014 às 15:18

    Cada vez mais sou obrigado a ter um carro velho!
    Um, em que seja eu a tomar as boas e as más decisões, e não o carro!
    Carros autónomos: para pessoas com problemas físicos, lesões, incapacidade de conduzir, idosos, serão utéis.
    Mas como será o algoritmo de programação quando surgir um imprevisto tal como uma pessoa ou animal a atravessar a estrada?
    E se para evitar um acidente de maior grau de severidade for necessário provocar um de menor grau?
    O computador do carro saberá tomar esta decisão?
    Se os sensores avariarem e o automóvel provocar um acidente, o responsável é o dono da viatura, é o condutor (neste caso passageiro), é a marca do carro ou quem fez o sensor que avariou?
    Não parece que as estradas portuguesas, que tão mal marcadas estão, possibilitem, com sucesso, o uso deste equipamento.

    O que acha?

    Feliz 2014!

  • Turbo-lento says:
    8 de janeiro de 2014 às 11:15

    Vamos por partes.
    1) não acredito que vamos ter automoveis a conduzirem sozinhos por todo o lado. No futuro proximo vejo estes sistemas limitados à circulação em cidade, parques de estacionamento ou a velocidades reduzidas (<50km\h)onde qualquer acidente terá baixo impacto. Só daqui a talvez 20 anos é que acho que se torne uma visão comum em todas as circunstaciancias.
    2) o maior problema é mesmo a questão legal. Tenho quase a certeza que estes sistemas vão sempre exigir alguem sentado atrás do volante e aí cai no atual enquadramento legal de que o responsavel é sempre o condutor independentemente de quem vai na realidade a conduzir.
    3) esta tecnologia não depende das marcações na estrada. Utiliza uma série de sensores e camaras para identificar a estrada e "obstaculos". Há já algum tempo que há sistemas destes para os militares que interpreta o melhor percurso dentro e fora da estrada.
    4) sobre as vantagens de um automovel "classico" é discutivel. Os automoveis modernos são mais seguros, confortaveis e ao contrario de alguns vinhos não melhoram com a idade.