Quem não aprende com a história arrisca-se a repeti-la

A recuperação parece ter chegado enfim ao mercado automóvel europeu que atingiu os valores mais baixos das ultimas 2 décadas e levou a prejuízos avultados principalmente nos construtores de grande volume. Mas as vendas na Europa em Outubro subiram 4.6%, o segundo mês consecutivo de subida pela primeira vez desde 2011 já que em Setembro houve um aumento de 5.5%.
 
Os principais parabéns vão para a Toyota (+16,5%) e Renault (subiu 14%) nos construtores de volume e no Premium a Mercedes (+8,5%) teve a maior recuperação graças ao CLA. O grupo VW subiu 5.7%, a GM +6.2% e BMW +0.3%.
 
Mas apesar da recuperação estar ainda fresca e frágil, os construtores de volume parecem estar com vontade de deitar tudo por terra repetindo erros do passado.
Ao invés de cortarem na capacidade produtiva, cortar custos e fazer frente aos coreanos como a Kia e Hyunday que cada vez mais produzem automóveis atraentes com garantias de 7 anos, muitos dos construtores europeus de volume (Opel, Ford, Fiat, Peugeot e Citroen acumulam prejuízos e a Renault só se safa porque a Dacia está a dar-se muito bem na Europa e nos mercados emergentes) pretendem enveredar num beco sem saída - aumentar as margens de lucro tentando subir de segmento para se intrometerem entre BMW, Audi e Mercedes.
 
O problema é que quase todos os construtores que tentaram esse caminho perderam rios de dinheiro: a Saab desapareceu, Volvo quase desapareceu e agora nas mãos dos chineses ainda tenta, a Renault pode ter tido algum sucesso com o 25 mas depois teve o Vel Satis, Safrane, Avantime, a PSA teve o 607, 605, C6, a Fiat tem o Croma, a Volkswagen tem o Phaeton...
E o que vimos no ultimo salão de Frankfurt - a Ford levou o Vignale concept e a Renault o Initiale Paris, ambos anunciando a vontade de subir no mercado. Acresce os planos da PSA em que o objectivo é a Peugeot subir indo atrás da Volkswagen. A Ford anuncia o Vignale (baseado no Mondeo) a concorrer em preços com o BMW serie 3, Mercedes Classe C e Audi A4 - não deixando de ser um Mondeo com mais cromados, couro, tecnologia e lavagens grátis para sempre. Sinceramente não sei porque é que a Ford não usou a marca Lincoln, tal como a Toyota criou a Lexus e a Nissan a Infiniti. E depois do Cascada, que compete com o A5 pouco mais se ouviu dos planos da subida da Opel.
 
É preciso mais que meter mais brinquedos e borlas para criar uma marca de luxo. Todas essas marcas "de luxo" têm uma longa tradição e história documentada - a Mercedes, Jaguar, Fiat, Alfa Romeo e Audi (Auto-Union) já participavam em competições antes da primeira grande guerra e pouco depois veio a BMW, Porsche e Ferrari. Toda e qualquer tentativa por parte de outros construtores de se instalarem no segmento de luxo falhou - apenas a Lexus o conseguiu e custou uma fortuna. Porque comprar um Renault ou Ford quando pode ter pelo mesmo preço um BMW? Alguém ainda se lembra do Jaguar X-type?
 
E recorrendo novamente à história - até hoje houve apenas uma "subida de segmento" de mercado que resultou: fazer versões desportivas de automóveis normais. O primeiro foi o Ford Lotus Cortina e quem não ouviu falar do Golf GTI? Até o Ford Mustang era uma versão de um Ford Falcon.
 
Sinceramente parece que quem dirige estes construtores não aprendem com a historia. Não sabem o que o cliente quer porque eles estão no alto do seu trono e nunca tiveram que passar pela angustia do normal consumidor para escolher onde investir o dinheiro que tanto custou a ganhar. Acham que basta anunciar ao mundo que vão subir no mercado e já esta...
 
Então porque é que o tentam? Sinceramente cheira a desespero. As marcas europeias estão apertadas entre os alemães no segmento acima e os coreanos que estão enfim a ganhar tração quer no mercado europeu e norte-americano. Mas o maior problema é que os alemães estão a "descer" e entrar no território dos produtores em massa. O próximo BMW Série 1, o novo Mini, o Audi A1, futuro Audi A0 (VW Up! by Audi) e o Mercedes Classe A\CLA\Classe B estão a ganhar mercado e a imporem margens de lucro consideráveis.
 
Se bem que esta "descida" pode também sair pela culatra aos alemães já que estão a diluir o valor da marca e exclusividade. Será que Porsche Macan será outro 914?
 
Então é um caminho que não vale a pena percorrer para os construtores automóveis de volume? Não necessariamente porque é uma questão de cultura automóvel e nos mercados emergentes esse problema não se coloca - por exemplo os Citroen DS têm mais sucesso na China que na Europa. E quem sabe se gerar movimento lá, talvez contagie cá...
 
Mas mesmo assim é um grande "se", e a verdade é que se olharmos para a história os construtores estão a repetir erros do passado e nada indica que o resultado será diferente. O que é diferente é que o dinheiro é muito mais caro hoje em dia e os construtores arriscam muito mais agora. Têm que cortar capacidade e produtos superfulos e concentrarem-se no que o mercado de massa quer - exemplo: a Fiat a concentrar-se nos automóveis pequenos.

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