CarlosGate - ponto de situação 25-09-2019

Mais um apanhado das noticias ligadas ao CarlosGate, e para seguir este tópico basta clicar na tag respetiva - ficam abaixo os principais desenvolvimentos como sempre sem tretas, conservantes ou adoçantes acrescentados.


Nissan e Ghosn encerram caso nos EUA
A Nissan, o seu anterior CEO Carlos Ghosn e o seu braço direito Gregory Kelly aceitaram o acordo proposto pela U.S. Securities and Exchange Commission relativo à não declaração de 140 milhões de dólares em compensações dadas a Ghosn. A Nissan irá pagar uma multa de 15 milhões de dólares e Ghosn uma de 1 milhão de dólares além de 10 anos de proibição de servir na direção de qualquer empresa cotada nos EUA. Gregory Kelly paga uma multa de 100.000 dólares e recebe uma proibição de 5 anos idêntica a de Ghosn.

Ao chegarem a acordo Nissan, Ghosn e Kelly não têm que admitir ou negar qualquer das conclusões do SEC.

Mas este acordo com a Securities and Exchange Commission permitiu ver algo que até agora só os investigadores japoneses mas não diziam - como é que Carlos Ghosn conseguiu meter ao bolso 140 milhões de dólares.

Mudança de regras - em 2009 houve uma alteração de lei relativa ao tornar publico a remuneração de diretores de empresas, algo que Ghosn não queria porque iria certamente atrair criticas dos media franceses e japoneses. Assim, todos os anos desde 2011 um funcionário levava para aprovação de Ghosn um documento que sumariava as compensações totais, dividida num valor que era declarado publicamente e outra fatia (que totalizou 94 milhões de dólares) que não era paga ou tornada publica.

Pagamento - o problema era como pagar a Ghosn o que não estava a ser declarado. Apesar de inicialmente se ter considerado vários planos que envolviam filiais da Nissan um funcionário escreveu cartas com datas antigas que pagavam a Ghosn o valor "adiado" ocultado que não estava nas declarações de compensações que já tinham sido tornadas publicas.
Esse dinheiro veio de um saco azul chamado "CEO Reserve" sendo o pagamento autorizado pelo chief financial officer - mentiram ao CFO dizendo que este pagamento era um subsidio para vários indivíduos, na realidade quase todo o dinheiro foi para a reforma de Ghosn...que Ghosn aumentou subindo a mensalidade até totalizar mais 50 milhões de dólares via mais cartas com datas falsificadas.

Ghosn e os seus ajudantes tentaram com estas cartas alterar a contabilidade, e como o aumento da pensão iria ser tornado público decidiram justificar as mudanças culpando um erro de contas pelo secretariado. Terá sido neste momento que alguém dentro da contabilidade da Nissan contactou as autoridades japonesas.



Saikawa demite-se de CEO da Nissan
Hiroto Saikawa, o CEO da Nissan demitiu-se devido à pressão depois de ter admitido ter recebido compensação indevida de cerca de 440.000 dólares. Foi substituído temporariamente pelo Chief Operating Officer Yasuhiro Yamauchi com substituto definitivo apenas previsto para o fim de Outubro.

Saikawa era um protegido de Ghosn, que chegou a CEO da Nissan em 2017 trocando com o seu mentor que subiu para chairman. Infelizmente Saikawa não teve uma passagem pela direção com atritos sérios com a Renault e uma queda de lucros da marca japonesa. Ainda conseguiu colocar o seu mentor na cadeia, mas no final acabou por ser arrastado e teve que ceder o lugar mais cedo que o previsto - Saikawa já tinha iniciado o processo de procura de um substituto porque queria sangue novo. Será interessante quem irá ser o próximo CEO, especialmente por causa das relações com a Renault.



Saikawa não é Ghosn
Mas algo também tem que ser dito - não confundam Hiroto Saikawa com Carlos Ghosn. Sim, Saikawa teve que se demitir devido a questões relativamente ao seu salário mas não era o vilão hipócrita e sórdido que foi Ghosn. Ambos beneficiaram do abuso de um esquema de incentivos aos executivos mas as semelhanças acabam aí.

Saikawa não manipulou o sistema intencionalmente e disse que iria devolver o excesso de salário que lhe foi dado. Segundo a Nissan, estamos a falar de 400.000 dólares. Ghosn manipulou deliberadamente o sistema para sacar e encobrir 1,3 milhões de dólares em cima do seu salário normal - apenas de incentivos.

Mas este aproveitamento de incentivos não é o que colocou Ghosn atrás das barras - alias, até segundo a Nissan este aproveitamento é impróprio mas não ilegal. Ghosn foi acusado, e aguarda julgamento, por falsificação de registos financeiros da empresa, violação de confiança para enriquecimento pessoal em vários milhões de dólares.

Saikawa não fez nada parecido e fez bem em se demitir, não só pela quebra das regras internas mas também por não ter parado Ghosn mais cedo. A sua saída ajuda a fechar um capitulo negro na Nissan (e Renault) e antes de sair criou um comité de auditoria independente como parte de reformas internas de transparência que ditou a sua saída. Creio que prova que as reformas de Saikawa começaram a fazer efeito e talvez a Nissan possa começar a sacudir a poeira e levantar-se novamente.

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