DieselGate - ponto de situação 06-02-2017

Mais uma atualização do dieselgate, como sempre sem tretas, conservantes ou adoçantes acrescentados.

Grupo VW ordenado a comprar Skoda de volta
O grupo Volkswagen foi ordenado por um tribunal alemão a comprar de volta ao preço de compra o SKoda Yeti 2 litros TDI do proprietário que processou o grupo alemão argumentando que a reparação reduz o valor da viatura. Segundo o tribunal a VW cometeu uma fraude e dizer que não sabia do software não era desculpa - os juízes compararam o dieselgate ao caso da carne de cavalo e dos vinhos com anti-congelante que nos anos 80 arrasaram com os vinhos austríacos e quase os vinhos alemães também.
Este é um ponto de vista minoritário (infelizmente ou felizmente depende do ponto de vista), outros casos similares foram invertidos em apelo portanto teremos que esperar para ver se cola em recurso.


Cliente de frota processa VW
Mas não só clientes individuais a processar a Volkswagen, agora tem o primeiro cliente de frota à pega em tribunal. O distribuidor de peixe alemão Deutsche See de Bremerhaven fez o leasing de uma frota de veículos (aproximadamente 500) em que um dos principais fatores de escolha terá sido serem o mais ecológicos possíveis - terá havido uma tentativa de acordo entre as partes, mas como a VW recusa-se a colaborar o assunto segue agora para tribunal com uma pergunta interessante: a este cliente em particular há um contrato de leasing que especifica a questão das emissões reduzidas como fator de escolha (algo que não está presente nos contratos de venda com particulares ou publicidade na Europa), será que o grupo VW será capaz de fintar este pormenor?


VW desistiu de acordo com Mercedes antes de batota
As vezes fazemos uma pequena escolha que não imaginamos as consequências que terá: em 2005 a Volkswagen (na altura liderada por Bernd Pischetsrieder) e a Mercedes estiveram em conversações para cooperação em vários projetos, incluindo o fornecimento de motores diesel. Em cima da mesa estava a escolha entre usar a tecnologia Bluetec da Mercedes ou apostar no TDI common-rail do grupo VW - a tecnologia da Mercedes tinha a vantagem de ser mais "limpa" mas acrescia cerca de 1.000 euros ao preço do automóvel. 

Com a diferença de custo e pressão interna as conversações falharam e o grupo VW apostou tudo no TDI. Um ano mais tarde os primeiros protótipos do motor EA189 foram apresentados e aprovados pela direcção, que segundo a acusação americana já tinham o tal software. Se tivesse optado pela tecnologia Mercedes a Volkswagen teria-nos poupado a tudo isto...


Reparações anunciadas nos EUA
Para quem não tem seguido o dieselgate parte do acordo com as autoridades americanas para o 2 litros TDI inclui provisões que a VW tem que comprar um certo número de automóveis de volta mas também oferecer a possibilidade (a quem não queira devolver o Golf TDI) de reparar o veiculo por forma a cumprir as normas de emissões - mas só agora é que a Volkswagen conseguiu apresentar uma reparação que a EPA americana aceite.

Isto é interessante a nós Europeus porque permite ver bem o quanto diferentes são as exigências no controlo de poluentes diesel entre os EUA e a Europa. Como já aqui falamos, na Europa os 2 litros e 1.2 litros precisam apenas de uma reprogramação, enquanto o 1.6 litros TDI precisa de uma pequena malha na admissão de ar além da reprogramação.

E nos EUA? Bem, 70.000 veículos de 2015 (Volkswagen Beetle, Jetta, Golf, Golf SportWagon, Passat e Audi A3) em diante equipados com o 2 litros TDI vão receber uma reparação em 2 fases: numa primeira recebem uma actualização de software e numa segunda fase recebem um filtro de partículas, um catalisador de oxidação diesel e um catalisador de óxidos de azoto.
Como podem ver, há uma grande diferença - em termos de diesel, os americanos são mais limpos que os Europeus...


Além do fim do actual ciclo NEDC (que apenas solicita em média 35% do binário do motor daí que os consumos e emissões obtidos são irrealistas) substituído pelo WLTC (World Light-vehicule Test - já puxa mais pelos motores em média 85% do binário disponível e com uma componente "em estrada" RDE ainda mais exigente) que deverá surgir oficialmente em 2017 e implementado até 2019, Christopher Grundler recomenda que os testes sejam feitos no momento da homologação e ao fim de alguns anos. Segundo Grundler a EPA já multou construtores automóveis em mais de 1 bilião de dólares por incumprimentos de leis de emissões enquanto os reguladores europeus pouco fizeram.


Responsável pelo cumprimento da VW demite-se
Existe um responsável por assegurar que os automóveis cumprem as exigências legais e desde Janeiro de 2016 no grupo VW essa pessoa era Christine Hohmann-Dennhardt que foi contratada para ajudar a limpar a confusão do dieselgate. Antes disso ocupava a mesma posição na Daimler e antes disso 11 anos como juíza no tribunal constitucional alemão. Ou seja, tinha definitivamente o currículo. Mas agora, 1 ano depois da entrada no grupo VW, chega a noticia que se vai embora depois de desentendimentos sérios sobre as suas responsabilidades com membros sénior do grupo alemão.

Hohmann-Dennhardt era suposta trazer legitimidade aos esforços de reforma da VW e veio a grande custo da Daimler pela mão de Hans Dieter Poetsch e o CEO Matthias Mueller muito orgulhosamente anunciou que "integridade e lei" estavam agora representados na direcção do grupo. A sua saída desta forma é sem duvida uma admissão de derrota, mas a maior de todas é a da direção da Volkswagen (especialmente de Dieter Poetsch) que a contrataram a grande despesa sem pelos vistos estarem dispostos a dar o apoio e confiança necessária para que ela fizesse o seu trabalho de limpar o nome do grupo alemão.


União Europeia endurece posição com países membros
A Comissão Europeia publicou guias em como os estados membros devem policiar os construtores automóveis, algo que poderá no futuro servir de base para acções legais contra países que não controlem a evasão às normas de emissões. É uma reacção ao facto que apesar de tudo o que se descobriu sobre como a industria automóvel os países com industria automóvel pouco ou nada fizeram para controlar a industria.

E o documento inclui referencia à famosa "janela térmica", a possibilidade legal de desligar os sistemas de controlo ambiental em certas condições para proteger o motor - agora para justificar alterações nos controlos de emissões são os construtores automóveis que têm de fazer prova de que há risco de dano irreparável para o motor se a modulação não for feita, fazer a modulação para reduzir o custo de manutenção não é aceite.


Volkswagen fez marosca no CO2?
Quando o dieselgate irrompeu ao mundo uma das questões que veio logo ao de cima era se o grupo Volkswagen também teria feito batota nas emissões de CO2 - um fator chave para decidir impostos sobre automóveis em toda a Europa. Na altura a Volkswagen correu para repetir testes e provar que num reduzido número de modelos o de emissões/consumos era negligenciável.

Mas segundo o jornal alemão Berliner Zeitung, que cita um email da autoridade alemã para os automóveis (KBA), esta suspeita que esses testes em 2015 foram feitos com veículos "optimizados" e não automóveis iguais aos que seriam comercializados. A KBA terá indicado que iria verificar os valores da VW com veículos no mercado testados por laboratórios independentes porque não acreditam que os testes feitos pela VW fossem de confiança. A KBA não comenta a noticia já que a investigação ainda está em curso.


Mitsubishi multada em 4.2 milhões de dólares no Japão
A agência de proteção do consumidor japonesa multou a Mitsubishi Motors em 4.2 milhões de dólares pelo uso de consumos falsificados na sua publicidade escrita e digital.


VW e Bosch aceitam acordo de 1.6 mil milhões nos EUA
A Volkswagen e Bosch aceitaram pagar pelo menos 1,6 mil milhões de dólares para reparar ou comprar de volta cerca de 78.000 automóveis de 2009 a 2016 equipados com o V6 TDI de 3 litros - a lista inclui VW Touareg, Porsche Cayenne, Audi Q7, A6, A7 e A8. O acordo da Bosch cobre ambos o V6 3 litros e 4 cilindros 2 litros TDI. Quem optar pela reparação vão receber uma compensação entre os 7.000 e 16.000 dólares, e mais 500 se após a reparação houver uma diminuição da performance. Quem optar por entregar o automóvel recebe 7.500 dólares mais o valor de mercado do veiculo.

Este acordo ainda tem que receber luz verde do juiz federal que segue o dieselgate (deverá ocorrer a 14 de Fevereiro) e a VW tem que desenvolver uma reparação que a EPA aceite - se não conseguir os custos da VW para encerrar o V6 TDI pode facilmente ultrapassar os 4 mil milhões. É um acordo importante para a VW porque encerraria os problemas com o governo federal americano, ficando apenas por resolver os processos de investidores e alguns estados americanos e alemães.

Separadamente a Bosch (que fornece as ECUs usadas nos motores afectados pelo dieselgate) aceitou pagar 163,3 milhões de euros para compensar os proprietários do 2.0 litros TDI (350 dólares cada) e 113,3 milhões para compensar os proprietários de veículos com o V6 3.0 litros (1.500 dólares cada). Até agora apenas proprietários individuais acusaram a Bosch de estar dentro de todo o esquema do dieselgate e teria ajudado a desenvolver o tal software que permitiu à Volkswagen fintar os testes de emissões.

A Bosch está, provavelmente tal como a VW, a tentar encerrar este tema o mais rápido possível para não ser alvo da fúria infantil trumpetiana...

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