Dacia Duster - ensaio

Chega a vez do Dacia Duster, o SUV da Dacia e bem vistas as coisas devia ter começado logo pelo Duster.
Não só a Europa está em completa febre de SUV's mas também porque é o Renault mais vendido em todo o mundo - e como ainda não o tinha conduzido estava bastante curioso por ver afinal o que o Duster tem de especial.

Introdução
A Renault reinventou a Dacia em 1999 para produzir automóveis resistentes, fiáveis a baixo preço para os mercados emergentes da Europa de Leste e do Magrebe mas o sucesso foi tal que a Renault resolveu não só expandir a Dacia para outros mercados como também chegar a mercados os Renault que conhecemos não funcionariam. Parece familiar?

Actualmente a Dacia chega a 44 países e em muitos destes os Dacia são vendidos como Renaults - por exemplo no Brasil (2º maior mercados da Renault) e Russia (3º maior mercados da Renault). Nos últimos 10 anos apenas a Dacia já vendeu mais de 3 milhões de automóveis e o mais vendido de todos é o Duster, seja como sob a marca Dacia seja como um Renault.
É um modelo tão importante que em Portugal a Renault só começou a fazer qualquer género de publicidade à Dacia foi após a chegada do Duster a terras lusas - para referencia, a Dacia só chegou cá em em 2008 com o Logan MCV diesel.
Tal como os restantes Dacia a fiabilidade e preço são os elementos chave, se bem que a este Duster podemos acrescentar mais um factor - todo-terreno. Mas já lá vamos. Em termos de fiabilidade as associações de consumidores de França, Portugal, Bélgica e Itália distinguiram a Dacia como a marca mais fiável em 2012 e 2ª mais fiável 2013. Mas a "piece de resistence" é mesmo o preço.
O Duster compete com o Qashqai, pode não parecer mas são quase do mesmo tamanho - comprimento: 4,315 metros para o Duster e 4,377 metros para o Qashqai; largura: 1,560 metros para o Duster e 1,806 metros para o Qashqai; altura: 1,695 metros para o Duster e 1,590 metros para o Qashqai. Mas enquanto o Qashqai começa nos 25.000 euros (4x2 com o motor de 1,2 litros turbo de 115 cavalos a gasolina), o Duster começa nos 15.000 euros exactamente com o mesmo motor - a Renault tem uma aliança com a Nissan e partilham muita coisa. O mais próximo que arranjei foi o Skoda Yeti que começa nos 21.000 euros mas não me parece tão capaz fora da estrada.

Porque a diferença de preços?
- mão de obra barata: são construídos na Roménia e em Marrocos;
- formas simples: formas e dobragem simples não precisam de maquinaria complexa;
- componentes comprovados: usam componentes já compensados e fiabilizados como a transmissão integral do Nissan Murano;
- soluções inteligentes: usa a mesma plataforma dos Logan e Sandero, assentos iguais à frente, os fechos das portas são todos iguais, os vidros laterais são iguais, etc;
- materiais simples e duradouros

Resumindo: foram concebidos de forma inteligente e simples para serem robustos e baratos. Mas como são a conduzir? E viver com eles? Será mesmo capaz de sair da estrada?

Primeiro contacto
Um pouco como o Sandero Stepway, o Duster é atraente, musculado e não parece nada um produto de uma marca low-cost.

Custa a acreditar que é baseado na mesma plataforma B0 que a Dacia usa nos Sandero e Logan, e que pelo preço de um citadino mais equipado podemos ter um SUV.

Claro que se for para o modelo mais barato a imagem "não é assim tão rosada": o modelo base Pack recebe jantes de aço, para-choques em preto mas subindo para o nível Tour já recebe os para-choques, espelhos e puxadores das portas pintados na cor da carroçaria, faróis de nevoeiro, jantes mais agradáveis à vista e as barras e protecções das embaladeiras cromadas o que lhe dar um ar mais moderno e menos utilitário.

Bem-vindo a bordo
No Duster não temos o mesmo interior dos Sandero ou Logan, é um interior especifico ao Duster (e também ao Lodgy e Dokker) com muito material de Renaults presentes e passados, mas até é agradável à vista e está bem organizado. Infelizmente os plásticos continuam duros e menos agradáveis ao toque.
A posição de condução é boa se bem que a direcção não é regulável em profundidade o que pode ser complicado para o pessoal mais alto como eu. A posição de condução é elevada e a visibilidade para o exterior é boa.
O assento do condutor é regulável em altura (em alguns níveis de equipamento) e relativamente confortável, mas a base era pequena demais e sem grande apoio lateral para um automóvel que faz todo-terreno, como tivemos hipótese de testar. Tirando talvez os comandos da ventilação que estavam um pouco baixos demais, todos os restantes estavam à mão de semear e o sistema multimédia que tínhamos era muito fácil de usar.
O espaço interior não é o mesmo do Sandero ou Logan (esses eram cavernosos) mas não deixa de ser espaçoso. Atrás, apesar de trazer 3 lugares são apertados demais e aquele túnel de transmissão não ajuda nada. A mala é bastante espaçosa com uma abertura larga mas cuidado que o banco só é rebativel fraccionado em alguns níveis de equipamento.

Em termos de equipamento, é o mesmo esquema dos restantes modelos - a versão base Pack recebe basicamente o automóvel e mais nada: recebe direcção assistida, vidros eléctricos à frente, encostos de cabeça atrás e mais nada. Nem espelho de cortesia recebe. A versão Tour é a que faz mais sentido porque por mais 1.500 euros recebe radio, ar condicionado, vidros eléctricos com função de impulso, computador de bordo, volante e assento do condutor regulável em altura, banco traseiro rebativel e algumas actualizações visuais que tornam o Duster mais moderno e bonito.


Se quiser algo mais pode ainda ir para o nível de equipamento Prestige que por mais 1.000 euros que a versão Tour acrescente algumas aplicações de couro no interior, cruise-control, o sistema multimédia Medianav, vidros eléctricos atrás e radar traseiro.

Como o Sandero as possibilidades de escolha não são muitas, apesar de haver 3 níveis de equipamento estes não estão disponíveis com todos os motores - se bem que não recomendo a versão de base apenas disponível com o 1.2 litros a gasolina de 125 cavalos.

Condução
O Dacia Duster está disponível com 4 motores: o 1.2 litros TCe de 125 cavalos, o 1.6 litros de 110 cavalos Bifuel (gasolina e GPL) e a diesel o 1.5 dCi disponível com 90 ou 110 cavalos - infelizmente apenas conduzi a versão 4x4 que apenas está disponível com o 1.5 dCi de 110 cavalos.
Para o género de automóvel que é, o motor diesel parece ser a melhor escolha - pode ter mais potência nos motores a gasolina, mas binário é mais importante. Não é um automóvel que se espera grandes performances mas apesar do peso ele mexe-se muito bem, com binário disponível logo nas rotações mais baixas, quase não há demora do turbo e a caixa de 6 velocidades que parece mais bem guiada (se bem que ainda se sente os carretos a encaixar) que as restantes de 5 velocidades.
A transmissão integral é do Nissan Murano e tem 3 modos de funcionamento selecionaveis por um botão rotativo no tablier - automática (a electrónica decide conforme as condições de estrada), tracção dianteira apenas e bloquear em 4WD. Não recebe redutoras mas a 1ª velocidade é mais curta para ajudar a sair das situações mais complicadas.
A suspensão consegue absorver bem as irregularidades da estrada mas adorna bastante nas curvas. A travagem pareceu razoável mas direcção não dá muita informação sobre a estrada e o 1.5 dCi faz-se ouvir no interior e não atingi grandes velocidades - a insonorização podia ter sido mais bem feita. Não sei se nos motores a gasolina estará mais bem controlado, mas no diesel é excessivo.

Mas a surpresa veio quando tivemos hipótese de percorrer uma pista que parecia de moto-cross na serra - confesso que inicialmente não via muitas capacidades todo-terreno no Duster mas tive que engolir cada uma das minhas palavras porque se safou muito bem. Mesmo com algumas passagens mais dificieis e terreno mais mole o Duster lidou muito bem com as dificuldades - tiro-lhe o meu chapéu e deixo algumas das fotos falarem por si.




Como eu disse acima, conduzi apenas a versão 4WD mas a maioria das vendas é feita com a versão de apenas tracção dianteira e há outra grande diferença entre elas: enquanto ambas têm à frente uma suspensão pseudo Mc-Pherson com braços triangulares e barra estabilizadora, as versões 2WD tem atrás um eixo torcional com perfil em H mas as 4WD tem um sistema multi-braço tipo Mac-Pherson que permite um mais controlo e melhor comportamento. E come um pouco à capacidade da mala também já agora.
Em termos de comportamento o Duster fica muito abaixo da concorrência, conduzi recentemente o novo Qashqai e era muito bom - mas também digo que não sei se o metia na mesma pista em que vi os Duster a andar, e nem falemos no preço...

Conclusão
Se parece que me estou a repetir é porque é verdade - comparado com um Qashqai ou outros do segmento o Duster não tem o melhor acabamento ou comportamento na estrada, mas a verdade é que até é atraente e na cor certa nem parece um produto Low Cost, tem bastante espaço interior e se precisar de algo capaz de sair verdadeiramente fora da estrada não encontrará nada parecido por aquele preço.

O modelo mais caro (tracção integral, diesel mais potente e quase todas as opções) custa 23.850 euros, e por esse preço não compra o Qashqai mais barato e um Skoda Yeti com tracção integral fica por 35.000 euros.
Se estiver pronto a abrir mãos de alguns confortos humanos e ter um comportamento dinâmico menos actual é que provavelmente ficará muito satisfeito com o Duster - sim, o comportamento pode não ser o melhor e alguma tecnologia não ser a mais actual e ter algumas imperfeições digamos, mas é barato, eficaz e pelo preço que pagaria por um Clio pode ter um Duster. Afinal a Renault já despachou mais de um milhão deles por alguma razão.

Positivo
- Visual moderno musculado
- Preço
- Espaçoso
- Possibilidades TT

Negativo
- Ruído do motor diesel
- Comportamento/suspensão

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