Pneus ecológicos - o verde também mata

Li recentemente um estudo de um grupo ambientalista chocado com o facto que os laboratórios que testam os automóveis para os construtores para determinar o consumo médio homologado (aquele que vemos nos anúncios e que ninguém se fia) recorrem a truques como tapar as frinchas com fita gomada ou encher os pneus ao máximo para que os resultados sejam os melhores possíveis. 

O que esperar de um método de teste com 30 anos, feito numa altura que poucos se preocupavam com consumos e emissões e não se deram ao trabalho de fechar todas os buracos no procedimento? Já agora, os ecologistas estão chateados (e chateados tipo Bloco de Esquerda) com os construtores, não com a União Europeia que criou e a introduziu o dito procedimento. Mas há outro "truque" que os construtores aplicam e que apesar de colocar as pessoas em perigo, os ecologistas estão perfeitamente de acordo - os pneus ecológicos.

Desde a introdução em massa dos sistemas de ABS nos anos 90 e o o desenvolvimento de pneus mais eficientes, as distancias de travagem têm vindo a diminuir cada vez mais. Mas desde que começou a corrida as emissões que andamos para trás e as distancias de travagem estão a aumentar - principal culpado: uso de pneus de baixo atrito, os conhecidos pneus ecológicos.

Este pneus "verdes" oferecem um atrito mais baixo e conseguem reduções de emissões de 5 a 10g de CO2 por quilometro - a resistência ao rolamento do pneus, que provem da energia necessária a deformação do pneu entre a jante e a estrada, é responsável por 20% do consumo de um automóvel. Dai o interesse em a reduzir - os construtores tentar fazer os pneus com o flanco mais fino e mais duro para consumir menos energia. Reduziram também o peso do pneu em si - logo menos borracha a deformar melhor. Trabalharam também a química da borracha incluindo compostos que permitem que as moléculas de borracha aqueçam o mínimo possível durante o esmagamento. Resumindo - menos peso e menos aquecimento asseguram que um pneu consuma menos.

Excepto que para a borracha aderir à estrada é preciso que esta atinja uma certa temperatura mínima para que se deforme e adira as irregularidades do piso. Este comportamento assegura 25% da eficácia de travagem do pneu. Ou seja, baixo atrito e boa aderência são "um pouco" incompatíveis. Mas os construtores encontraram uma forma de minimizar este problema (e quando pergunta porque é que certos pneus são mais caros que outros aqui poderá saber porque) - misturas especiais de borracha que aquecem mais ou menos conforme a solicitação.
Basicamente, quando o pneu roda normalmente gera pouco calor, mas quando em travagem as moléculas destas borrachas vibram a frequências muito elevadas gerando mais calor para melhorar a aderência quando necessário.

Mas mesmo com todas estas ideias (geniais diga-se) os resultados são tudo menos bons. E aí entram as medições certificadas ISO 9001 feitas pela revista Automobile que comparam os mesmos modelos antes e depois de receberem pneus verdes - travagem de 130km\h até parar pode aumentar 7 metros. Ou seja, se 2 automóveis circularem a 130 km\h, um com pneus normais e outro com pneus verdes, e ambos travarem ao mesmo tempo, o verde ainda vai a 40km\h quando o primeiro parar! Se for para pneus mais desportivos, como nos que a revista testou com um Audi A4, ai a distancia de travagem (de 130km\h) aumenta em 11 metros - ou seguindo o mesmo exemplo acima circula a mais de 50km\h quando o outro já parou. E isto em piso seco...imagine em molhado.
Abaixo ficam 2 exemplos das medições que a revista fez - reparem que os pneus verdes chegam em série em 2011 nestes modelos e notem a evolução (m significa metros):
Audi A4 2.0 TDI
(2011)Michelin Energy Saver 205/60 VR16: 43 m (100km/h) e 72 m (130km/h)
(2010)Bridgestone Potenza RE 050 A 225/55 R17: 37 m (100km/h) e 61 m (130km/h)
(2009)Michelin Primacy HP 225/55 YR16: 39 m (100km/h) e 66 m (130km/h)

Renault Clio 1.5 dCi 85/90
(2011) Michelin Energy Saver 185/60 HR15: 41 m (100km/h) e 70 m (130km/h)
(2009) Michelin Pilot Primacy 195/60 VR16: 38 m (100km/h) e 63 m (130km/h)

Um novo truque que esta a ser aplicado, pelos vistos desenvolvido pela Peugeot, é programarem o ABS para que no inicio da travagem esta seja feita de forma a que a borracha atinja uma vibração mais elevada e assim aqueça. Mas o problema é que esse truque apenas funciona quando o condutor aperta o travão a fundo - se circular numa estrada normalmente os seus pneus são mantidos à temperatura mais baixa possível (ou seja, menor aderência) e isso significa menos aderência numa curva que surja à sua frente. E ai não vai haver ABS que o salve. E mesmo com este truque as distancias de travagem não são iguais as de um pneu classico, muito menos de um mais aderente.

Proponho que deixemos as emissões de lado e deize-me colocar uma pergunta - segundo a Continental, estes pneus podem poupar-lhe entre 50 a 60 cêntimos a cada 100 quilómetros. A sua vida vale mais ou menos?

1 comentários:

  • Unknown says:
    7 de novembro de 2015 às 16:21

    130 km/h ja esta fora do padrao de velocidades das rodovias brasileiras!