Desmontar os consumos dos hibridos plug-in

Recentemente postamos 2 noticias que me deixaram com a pulga atrás da orelha - a futura Volvo V60 2.4 hybrid plug-in que anuncia consumos de 1,9 l/100km e o Range Rover Sport TDV6 híbrido plug-in que faz apenas 3,36l/100km. E não só os consumos - as emissões da Volvo caem de 183 para 49g/km e as do Range Rover Sport caem de 243 para 89g/km. Sou só eu que acha estes números bons demais para serem verdade?
Afinal, a Volvo normal com o mesmo motor faz 6,9l/100km e o Range Rover Sport faz 9,2 l/100km...E como diz o adágio, é porque não são verdade. Então como é que os construtores conseguem estes números? Aproveitando uma falha no circuito de homologação que favorece para os híbridos plug-in.
Para os curiosos, os consumos e emissões de CO2 que servem para homologação dos automóveis são determinados pelo NEDC - New European Driving Cycle. Este protocolo define um percurso citadino de 1,013 km à velocidade média de 18,7km\h feito 4 vezes e um unico percurso extra urbano de 6,955km à velocidade média de 62,6km\h. Ou seja, uma distancia total de 11km com apenas uma ligeira passagem pelos 120km\h que é a velocidade máxima limitada que se pode atingir neste protocolo. É assim que se determinam aqueles consumos que vemos nas publicidades das marcas e que quase ninguém consegue atingir.
Mas para os híbridos plug-in este ciclo teve que ser adaptado - bastava ter uma bateria suficientemente grande para fazer 11km e o consumo seria 0l/100km! Para isso foi adaptado: os híbridos plug in têm que fazer um percurso com a bateria cheia e um percurso com a bateria descarregada e fazer a média entre eles ponderada com a autonomia eléctrica determinada pelo ciclo ECE R101.
E ai entram as falhas do sistema - os construtores estão a usar baterias suficientemente fortes para percorrer o circuito NEDC em modo eléctrico e desde que o sistema permita atingir os 120km\h momentaneamente, a passagem com a bateria cheia dá consumo 0. E a segunda falha é que a norma estipula que, em média, os condutores não fazem mais de 25km com o motor clássico depois de esgotaram a bateria.
Ou seja, o consumo homologado que se obtém é o consumo do motor clássico em 25km divido pela distancia total percorrida - a autonomia eléctrica mais estes 25km estipulados. Mas se a bateria der para 25km de autonomia eléctrica, o consumo real é basicamente dividido por 2.

E isto é assim que se fazem as contas maravilhas - mas o que mais me impressiona é que não vejo os governos ou os ecologistas chateados da vida, é que estão a ser enganados. Então porque é que se chegou e permitiu esta norma? Fácil, a União Europeia quer reduzir as emissões de CO2 em 2020 em 20% relativamente a 1990 e sabe que não pode apertar muito os construtores automóveis visto serem uma grande fonte de impostos e emprego, assim vão conseguir o seu objectivo da mesma forma que Sócrates conseguia tapar o buraco no orçamento - mentindo! Não digo que estes híbridos plug-in venham a contribuir para uma redução de emissões, mas o seu custo elevado não vai permitir que um número suficiente chegue à estrada para fazer diferença.
Creio que o mais acertado seria indicar ao consumidor qual é a autonomia eléctrica com a bateria carregada e qual o consumo de combustível quando a bateria estiver descarregada.

1 comentários:

  • Marco C. says:
    14 de abril de 2011 às 23:16

    Consumos desses é o que o pessoal quer. Mas Range Rover 3,36l mas é parado, ou a empurrar. Deve ser na descida com o motor desligado e mesmo assim gasta lol.

    Se tiver um motor eléctrico para velocidades baixas e o motor bem explorado acredito visto que o mundo tem que melhorar.