Carros eléctricos - o futuro ou treta ?

Nos ultimos meses, dezenas de construtores têm anunciado ou mesmo exibido veiculos electricos que pretendem produzir. Já temos o Tesla, em breve vamos ter o Nissan Leaf:

E o Renault Fluence e companhia não demoram muito a chegar.

Governos e ecologistas celebram o que para eles, é o futuro imediato do automovel e muitas revistas automoveis concordam: a mudança esta ao virar da esquina. Mas tenho as minhas dúvidas - principalmente porque isto soa muito a Deja Vu.

Nos anos 90, cerca de 10.000 Peugeot 106 e Citroen Saxo electricos foram produzidos e vendidos a frotas de empresas mas também a privados em França. Curiosamente alguns ainda andam por aí. Mas como podemos ver, não correu bem. O público não apreciou um carro com uma velocidade máxima de 90 km\h e um alcance de apenas 80 quilometros. Isto depois de 10 horas de carga.

Mas a tecnologia avançou, principalmente as baterias de litio que aumentaram o alcance, diminuriam o peso e tempo de carga. Na teoria, o carro electrico é um vencedor - não produz ruido ou emissões directas, sem embraiagem ou caixa de velocidades que complica a vida a muita gente. O motor eléctrico é do tamanho de uma melancia e feita para trabalhar nos ambientes mais extremos, não tem velas, filtros ou correias para mudar. E como o motor é tão pequeno e sem todos os sistemas que o motor a combustão necessita, o design de automoveis torna-se muito mais livre.

Mas teoria é uma coisa, a realidade é outra coisa completamente diferente. E há vários problemas na passagem do papel para a realidade.

A maioria destes automoveis anunciam um alcance de 150 a 200 quilometros, algo que satisfaz a maioria dos percursos diários - segundo um estudo europeu, 70% das deslocações não ultrapassam os 60-80 quilometros. Mas não consigo descobrir como chegaram a este valor! É que o rádio, aquecimento, ar condicionado, direcão assisitida, travões e outros equipamentos gastam electricidade, logo são 200km mas conduzidos como?

E isso tras-me a outro problema - e as restantes deslocações que ultrapassam os 60-80km? É que 200km de alcance, significa que pode fazer 100km numa direção antes de ter que voltar para casa. Se esta em Lisboa, vai demorar 1,5 dias a chegar ao Algarve! As baterias de litio são um passo em frente mas um passo pequeno.

Para terem uma ideia, se eu meter 5 euros de combustivel no meu Renault Megane dCi consigo fazer 100 quilometros - um carro electrico faz o mesmo com menos de 1 euro de electricidade. Mas o problema é que o carro electrico tem que carregar 200 quilogramas de baterias (que podem custar entre 6.000 a 8.000 euros) e demoram 5 horas a carregar (isto se recorrer a um dos tais pontos de recarga rápida - em casa demoram entre 8 a 10 horas). O meu Megane apenas tem que parar e meter mais combustivel e seguir viagem.
Neste momento alguns de voçes devem estar a pensar - uso o carro electrico como segundo carro durante a semana e tenho o automovel "classico" para as viagens maiores.
E isso traz-me ao preço - sei que o chefe da Nissan Europa disse que o Nissan Leaf deve custar cerca de 18.000 euros, mas ele estava a falar do preço base ou de venda? E as baterias quanto acrescentam ao preço? Para exemplo, o Dacia Logan MCV 7 lugares com todos os extras e o motor diesel de 85 cavalos tem o preço base de 8.000 euros e 18.000 euros depois impostos. Para garantir que o carro electrico mantem um preço acessivel, as marcas alugam as baterias - por quanto ainda não se sabe. Será mais barato ou caro que o custo da gasolina?
E para comprar um segundo carro para usar na cidade...não fica mais barato ir comprar um usado?

E o custo previsto é baseado no custo actual das matérias primas - se a procura de carros electricos disparar, o custo das materias primas raras como o litio e cobre vai tambem aumentar, arrastando consigo o automovel electrico.

E guardei para o fim o detalhe mais controverso para o fim - os automoveis de emissões zero (outra designação para o automovel electrico) é um mito não existe uma vez que tem emissões indirectas de CO2.
O problema é que todos os paises usam uma percentagem de electricidade de fontes termoelectricas (queima de carvão ou gas normalmente) o que significa que para produzir electrecidade é produzido CO2. Segundo o que li, para o consumo electrico actual na Europa, um carro electrico teria emissões indirectas de 60 mgCO2/km. Se for num pais que dependa mais do carvão como a China ou India (que dependem a 90% destas fontes de energia) as emissões indirectas seriam de 160mg CO2/km - mais que um Mercedes serie S!
Mas estes 60 mg CO2/km são para o consumo actual - se todos começarem a comprar carros electricos o consumo de electricidade vai disparar e a forma mais rapida e barata de aumentar a produção é mais electricidade termoelectrica, ou seja, as emissões indirectas vão aumentar.

E há ainda uma grande incognita - os governos. O automovel sempre foi e ainda é uma verdadeira galinha dos ovos de ouro: é o imposto automovel, é o imposto sobre os combustiveis, é o iva sobre o automovel e sobre o combustivel, é o imposto de circulação entre outros. O automovel electrico vai cortar com a maioria destes impostos - será que os governos vão abrir assim sem mais nem menos dos impostos? Ou será que sabem que isto não passa de uma moda que não vai ter grande impacto nas estradas portuguesas?

12 comentários:

  • anarquista_duval says:
    24 de novembro de 2009 às 18:07

    Um assunto interessante. Primeiro, eu não sou grande adepto de carrinhos a pilhas.

    Como alguém disse, os carros eléctricos são o futuro, e sempre o serão. Basta ver que ao longo da história sempre houveram as "febres" do carro eléctrico, e, no entanto, nunca tiveram sucesso comercial. Porquê?

    Os motores eléctricos funcionam mto bem em comboios: são rápidos e fiáveis. Só k os comboios têm catenárias que fornecem energia eléctrica, coisa que é impensável transferir para os automóveis.

    Aqui o grande problema é o armazenamento: as baterias nunca foram uma alternativa viável de armazenamento nem o serão num futuro a curto ou médio prazo, e os tão aclamados supercondensadores, que são quase instantâneos a carregar, ainda têm problemas de fiabilidade.

    Além disso, as baterias não são como os microcontroladores, não funcionam em economia de escala: quanto mais se fabricam mais caras ficam: as de iões de lítio sofreram uma descida até 2005 e desde então o preço tem sido constante. E acresce ainda os custos de fim de vida, uma vez que não são recicláveis, ou pelo menos de um modo ecológico e barato.

    Quanto à autonomia, isso é como ter um carro que dá 250km/h e gasta 5 litros aos 100: pode gastar, mas não àquela velocidade. Além disso, não existe nenhum teste padrão de medições de consumos (e autonomia) como existem para os automóveis com motores térmicos, portanto, cada um diz o que lhe apetece.
    A autonomia varia consoante o percurso, cargas associadas e, extremamente importante, com a temperatura.

    Há sempre os híbridos em série, como o Volt, que têm um MCI (motor de combustão interna) a funcionar a regime constante, o que resolve o problema da autonomia e diminui as emissões, mas não o do peso e custo das baterias.

    Na minha opinião acho que podem haver algumas mudanças, mas não de grande relevo; pode haver um maior sucesso dos veículos eléctricos relativamente a tentativas passadas, mas será um mercado de nicho, tanto mais que continua a haver um desenvolvimento bastante forte em MCIs mais pequenos, potentes e económicos por parte dos construtores.

    Os MCIs ainda têm um enorme potencial de desenvolvimento, e não vão desaparecer tão rapidamente.

    Relativamente aos impostos, há sempre mta criatividade em quem os inventa, portanto, não é motivo de preocupação.

  • Arqº Lopes da Silva says:
    25 de novembro de 2009 às 10:12

    Eu muito sinceramente não vejo outra alternativa viável para além da Fuel-cell. Aperfeiçoada a tecnologia e acho que a podemos encarar o hidrogénio como um combustível alternativo. Tudo o resto soa um pouco a subterfúgio.

  • Turbo-lento says:
    26 de novembro de 2009 às 18:44

    Acho que o principal problema é que o motor a combustão habituou os consumidores a algo que o carro electrico não pode dar. Atestar o carro, conduzir 500/600km, atestar o carro, conduzir ainda mais. O carro electrico não consegue.

  • Besedaeste says:
    6 de dezembro de 2009 às 16:48

    De facto, é uma preocupação cada vez mais real, para a qual nos devemos de preocupar. A sério! Contudo, e corrijam-se se estou enganado, o problema reside essencialmente na forma como os veículos "diferentes", como os eléctricos, híbridos e outros, são taxados pelos nossos governantes!
    Aliás, como todos o são. Acho que é uma questão central na discussão deste assunto, e ainda não ouvi nenhum representante governamental comprometer-se com o país de modo a baixar drasticamente o preço de, provavelmente, uma das fontes de receitas mais importantes do Governo Português...

    Por mim, e apesar de adorar carros e tudo o que estiver relacionado com eles, jamais darei 18000€ ou mais por um carro para fazer 80km's! Não é que diariamente faça muitos mais km, às vezes muitos mais até, mas se quiser fazer, quero ter a 99% de certeza que o veículo aguenta. Estes veículos eléctricos são uma boa opção, é verdade, mas apenas se o preço ficasse, sei lá... 4000€? 5000€? para ser um 2º carro, uma 2ª opção... Digo eu, não faço ideia, mas acima disto, ou desta ordem de valores, ficam economicamente inviável comprar um carro destes!

    Caso práctico: No Natal, vou a Penafiel, à casa dos meus avós. São +/- 40 km pela A4, e quase o mesmo pela Nacional, ou seja, cerca de 80/90km total. Se no regresso, houver daquelas filas enormes nas portagens, arrisco-me a ficar com o carro parado a meio das portagens... ou a meio da AE! E depois, como faço? Vai lá a carrinha do ACP com baterias para substituir ou ligar o carro ao isqueiro da carrinha reboque? Quando, por 8800€ compro um Nissan Pixo 1.0 a gasolina (ou um Smart), com consumos combinados de 4.4 L/100km e faço tranquilamente a minha viagem de ida e volta (é apenas um exemplo prático, já que até nem acho piada nenhuma ao carro, mas é o mais acessível...) e a sua quota parte de CO2 é de 103... imaginam o Série7 ou Classe S do Sócrates... porque é que estes senhores não andam de Pixo, Smart ou de Leaf? Talvez porque no caso do Leaf ou outros equivalentes, demoravam 1 semana a chegar ao mercado de Matosinhos em tempos de campanha (80km+80km+80km+80km + tempo de carregar...).

    Por isso, acho que o Governo devia de focalizar a sua intervenção em áreas fulcrais, de onde a poluição advêm de forma berrante mas ninguém parece se importar: autocarros velhos da Resende, dos SCTP, dos TCG, camiões que ninguém sabe bem como ainda andam em circulação, os próprios V8 e V10 dos funcionários do Governo e Cãmaras... o consumo brutal dos aviões e dos F-16 que existem para combater melancias no Campo de Tires e pouco mais... enfim, acho que este assunto é muito importante e deve de ser debatido, mas com rigor e objectividade, reduzindo cabalmente os impostos que são aplicados aos veículos novos, ou seja, mais eficientes e menos poluidores que o meu Fiesta de 90'. Só para terminar, andei enamorado pelo Renault Megane Coupe 1.54dci...
    Preço base: 17.634,92€
    Preço PVP: 24.200,00€
    Diferença: apenas teria de pagar ++++ 6565,08€...

    Já viram algum Deputado, ou Ministro dizer que vão baixar em 50& os impostos sobre veículos? Por isso, desculpem, mas enquanto tivermos governantes como temos, dificilmente estes carros eléctricos terão pernas para andar... fiquem bem!

  • Besedaeste says:
    6 de dezembro de 2009 às 17:45

    A combination of Nissan LEAF's regenerative braking system and innovative lithium-ion battery packs enables the car to deliver a driving range of more than 160km (100 miles) on one full charge*. Parece-me bem, mas... o preço de certeza que vai parecer mal... gostava de saber é se esta autonomia é se se consegue, realmente esta autonomia de noite, com faróis ligados, luzes de nevoeiro, limpa para-brisas a funcionar sempre, ar condicionado ligado, 5 pessoas dentro do carro, leitores DVD nos encostos cabeça, GPS ligado... ou seja, tipo uma viagem à Serra da Estrela em pleno Inverno, a chover e com um frio de rachar... se aguentar e custar ai uns 10.000€, talvez até nem seja mau... mas deve rondar os 20 e tal mil... de certeza...

  • Cristiano says:
    15 de janeiro de 2010 às 02:39

    turbo lento quanto aos 500/600 Km ve por exemplo o Chevrolet Volt.

    Modo eléctrico roda 65km o suficiente para mim por exemplo e quando exceder tem um motor de combustão a funcionar como gerador.
    Nos dois modos combinados da para quase 500 Km. Isto com 150CV... Eu não me importava de ter um Híbrido destes.

  • Pinta o meu quarto says:
    30 de maio de 2010 às 10:46

    Os actuais hibridos são uma anedota (incluindo Prius e afins), pelo impacto negativo que dão a economia, deviam ser proibidos.

    Relativamente aos electricos, apesar de anteriormente terem existido tentativas de introdução de veiculos electricos, penso que desta vez temos tudo o que é necessário para esta opção vingar.

    Maior parte dos problemas que voçês referiram, são facilmente ultrapassados, não é nada que não se resolva.

    De facto o imposto sobre os combustiveis é o grande Calcanhar de Aquiles para o governo, mas também não será nada que não se resolva, já fizeram tantas asneiras que os fizeram perder milhões... esta será só mais uma.

    O outro Calcanhar de Aquiles dos electricos, mais uma vez esta relacionado com o combustivel, pois como sabem o poder do Ouro Negro é demasiado grande. E pode fazer muita coisa não acontecer!

    Gostava no entanto de deixar aqui um pequeno alerta. Podem ter a certeza que os nossos governantes só irão mudar, quando nós cidadãos mudarmos (vejam o exemplo que os cidadãos nordicos dão, e vejam os seus governantes... e para contrastar, vejam o exemplo dos cidadãos de paises mais quentes, tipo Brazil, Mexico, Angola e vejam como são os seus governantes. Os nossos governantes são cidadãos do nosso país, tal como todos nós, se nós não mudarmos eles serão tal e qual como nós).

    Pensem nisto!

  • Turbo-lento says:
    30 de maio de 2010 às 22:35

    Cris, Um hibrido não é uma solução porque continua a precisar de combustivel seja gasolina ou diesel, é muito caro e complicado de contruir e não faz sentido.

    Xango, os problemas não são assim tão simples, caso contrario já teriamos os electricos em massa nas ruas. E do ponto de vista ambiental, tendo em conta de onde vem a maior parte da nossa electricidade, um electrico vai poluir tanto quanto um hibrido normal.

    Há um problema que um colega da EDP recentemente de confessou - na maior parte do pais, a rede electrica normal não vai aguentar a massificação do automvel electrico. Além de mudar os politicos, há que mudar a EDP pelos vistos!

  • sousal says:
    4 de junho de 2010 às 22:24

    A primeira câmara de vídeo custava um balúrdio.
    O primeiro gravador custava um balúrdio.
    O primeiro televisor custava um balúrdio.
    O primeiro LCD custava um balúrdio.
    O primeiro...bem já perceberam.
    O que eu quero transmitir é que em termos eléctricos e electrónicos, a evolução é fantasticamente rápida, mais do que noutras tecnologias.
    O importante é que temos que fazer algo e mudar, só se for para melhor.
    Quanto às baterias... o meu primeiro telemóvel era maior que um portátil (muito maior e pesado) e tinha que o carregar todos os dias. verifiquem a evolução em poucos anos.
    Num futuro proximo, tenho a certeza que veremos pequenos geradores eolicos nos nossos telhados (o que tornará as nossas deslocações gratuitas), os parkimetros serão carregadores e que entraremos nas autoestradas e poderemos dormir do Porto ao Algarve com um sistema semelhante ao comboio.
    A proposta da Renault é a troca de automática de baterias em três minutos em postos de abasticimento.
    Ainda à bem pouco tempo tinhamos que trocar a bilha do gás.
    Um abraço.
    Sousal.

  • Turbo-lento says:
    1 de julho de 2010 às 18:52

    Sim, mas muita tecnologia valida, viavel e positiva é rejeitada/descartada pelas razões mais inuteis. Veja-se o caso da recente guerra HD-DVD e Bluray. O HD-DVD era melhor, mais barato e mais expansivel que o bluray mas a sony fez valer o seu peso na secretaria e acabamos com o Bluray.
    Se o automovel electrico falhar na satisfação dos clientes (e vai ser feita a comparação com os motores classicos) podera demorar anos até que os clientes aceitem tentar de novo.

  • Turbo-lento says:
    16 de julho de 2010 às 16:27

    Novidades - pelo que li, não podemos recarregar os hibridos plugin ou electricos directamente da tomada caseira: parece que esta não consegue fornecer a corrente em segurança.
    É necessária uma linha independente de 220v 16A com ligação a terra e um dijuntor diferencial de 30mA e uma tomada especial.
    Ou seja, mais um custo a acrescentar: custo de mais uma linha e um contador da EDP.

  • Os Terriveis says:
    18 de julho de 2010 às 19:49

    Já ninguem aqui tem a paixão pelo verdadeiro automovel?
    é verdade que o motor de combustão interna é poluente mas existe outras soluções por exemplo a Saab desenvolveu um motor v6 bi-turbo que funciona a 100% etanol, a BMW tambem desenvolveu um V12 que funciona a 100% Hidrogenio liquido.
    e concordo a 100% com o anarquista_duval que o motor a combustão interna ainda vai ficar por ca durante mais um tempo, quem me dera que ficasse para sempre.
    Para mim esse carrinhos electricos nao sao automoveis por que para serem automoveis tinham que ter muita masi mecânica, esse carrinhos sao mas e carrinhos de brincar da NIKKO este pais vive numa fantasia de carros electricos se for preciso poluem mais do que os MCI com aquelas baterias de litio que sao dificies de armazenar no fim de vida.

    Motores de combustao interna para sempre!! viva o automovel!!

    Fiquem na boa