Industria automovel Europeia em 2013

O salão de Genebra 2013 já fechou a algum tempo, mas fiquei com a sensação que houve um tema importante que não abordei: já tinha falado do que modelo que achei mais importante, já tinha listado as ausências e pelo meio tivemos o Volkwsagen Golf a receber pela segunda vez o titulo de automóvel do ano 2013 - mas um outro tema andou em todas as bocas no Salão de Genebra destes ano: como vai ver ser o ano de 2013 para a industria automóvel europeia?

2012 pode ser resumido numa única palavra - ruinoso. Para todos os construtores, excepto os alemães: a PSA poderá ter perdido mais de 2 mil milhões de euros, a Renault perdeu pouca mais de 35 milhões de euros, a Ford 2 mil milhões...e a lista deprimente continua.
Lendo a maioria das declarações dos CEO's durante o Salão de Genebra deste ano todos parecem concordar que o mais certo seria em 2013 ver-mos uma queda média de 5% no mercado Europeu, mas o cenário que todos temem (e Carlos Goshn referiu-se a ele) e que é incomportável é uma queda de vendas de 10%.

Mas se os primeiros meses são alguma indicação do que está para vir, os números de Fevereiro de 2013 vemos essa mesma queda, com a Ford e a GM a levarem o maior corte - houve uma queda de 9.5% relativamente ao mês de Janeiro (que já foi mau) e comparando com Fevereiro de 2012 a queda foi de 10.5%. Tirando o Reino Unido que subiu 7,9%, todos os restantes mercados estão no vermelho: Espanha - 9.8%, Alemanha -10.5%, França -12.1%, Itália - 17.4% e a lista continua. Em termos de marcas a Ford e GM levaram o maior tombo: uma queda de 21% para a Ford e 20% para a GM (a Opel caiu 15% e a Chevrolet 38%!). Até a VW, que ate agora se estava a aguentar, teve uma queda de 7.4%. Mais números aqui.  

Portanto, 10% a menos em 2013?
Parece ser o cenário mais provavel - com o continuado desemprego, salários em queda, aumento de impostos, queda de procura estrutural (segundo estudos a nova geração está pouco ligada à propriedade de um automóvel ou de uma marca) - tudo somado e temos excesso de capacidade produtiva (estima-se que as fábricas europeias estão a trabalhar abaixo dos 70% da capacidade), capacidade excedentária que está difícil de eliminar e a crescente capacidade produtiva mais barata na Europa de Leste e Índia.
Esta combinação de sobre-capacidade e vendas em queda esta a criar uma guerra de preços e os mais fortes (como o grupo VW que tem maior capacidade económica) esta a conseguir aumentar a percentagem de mercado e espremer os mais fracos - em 2012 a VW passou de 22.9% para 24.2 enquanto todos os concorrentes perderam mercado. Mas a Volkswagen não é o unico papão - as marcas japonesas estão a aproveitar a queda do yen que lhes dá alguma margem de preços para introduzirem uma vaga de novos modelos na Europa.

Com este cenário, vamos ver cada vez mais racionalização de meios (sejam materiais ou humanos), ajudas do estado (a Opel e actualmente a PSA Peugeot-Citroen), fusões ou mesmo falências de empresas - se bem que como estamos a falar de grandes empresas a nacionalização é mais provável.


Ou seja, estamos todos lixados?
As previsões mais optimistas é que o mercado apenas caia 4% em 2013, com recuperação em 2014 mas muito lenta e gradual e nunca para níveis anteriores. Curiosamente há exemplos em ambas as direções - o Japão cujo mercado caiu para níveis anteriores aos anos 90 e nunca mais recuperou; e temos o exemplo americano que depois do debáculo do sub-prime as vendas de 2012 foram 13.4% superiores as de 2011 e 39% superiores as de 2009 - algo que ninguém achou ser possível, eu incluído.


Explica lá essa do problema estrutural da procura
A geração que até recentemente comprava automóveis "está de saída", e os proprietários europeus estão a manter os seus automóveis mais tempo, já que são cada vez mais fiáveis e a conduzem cada vez menos. Ao mesmo tempo o custo de ter um automóvel esta cada vez mais alto e não ajuda o facto que cada vez mais cidades estão a limitar ou mesmo proibir o uso de automóveis em partes da cidade. E a nova geração de compradores, segundo sondagens recentes, têm identificado uma queda de interesse por parte da nova geração em adquirir um automóvel e os jovens que têm sido mais castigados pelas más condições económicas actuais. Mas um estudo recente da McKinsey vem concluir que os jovens ainda sonham com um automóvel mas com prioridades/desejos diferentes - procuram um automóvel que exiba que o comprador se preocupa com o ambiente, individualidade e sustentabilidade e o tamanho do motor é substituído na lista de prioridades pela tecnologia multimédia. Personalização parece ser a nova palavra-chave.

E era visível no Salão de Genebra - uma das tendências que parece ter-se generalizado é a facilidade de personalização como forma de cativar o publico mais jovem: cada vez mais marcas oferecem a possibilidade acessível de ter um automóvel à medida do comprador.


E incentivos ao abate?
É certo que muitos países estão a considerar novos incentivos ao abate, principalmente países com grande industria automóvel nacional (França, Alemanha, e outros), mas a existirem serão específicos ou pequenos demais para fazer a diferença já que todos os países europeus estão a tentar reduzir dividas e deficit.
Muitos vão provavelmente apontar o dedo ao mercado britânico que tem tido crescimento de vendas nos últimos meses - infelizmente não vai durar muito mais porque é um aumento baseado em grandes descontos e em breve até isso perde o efeito.


Resumindo, perdidos por 5% perdidos por 10%?
Para ajudar à festa, tivemos as eleições (ainda) inconclusivas de Itália, as Alemãs a 22 de Setembro e em Portugal temos os mesmos que nos meteram neste buraco a abanarem o barco só para ver se voltam ao governo - adicionar o desacelerar das vendas automóveis de marcas europeias na China e nos EUA e temos um cenário imprevisivel e perigoso.

Foi Carlos Ghosn (já aqui o citei) que disse na abertura do Salão de Genebra - a única pergunta é se 2013 vai ser mau ou muito mau. A minha aposta vai (infelizmente) para a ultima possibilidade. Este é daqueles momentos que espero estar redondamente enganado.

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