Não conheço a versão portuguesa da expressão "Badge engineering", resumidamente quando empresas trocam apenas o logo e o nome num produto pré-existente - não estou obviamente a referir-me ao outro significado "Badge"null (partes intimas femininas). Voltando aos automóveis, que tal recordar alguns exemplos de "Badge engineering" e podem comentar com outros exemplos.
Kia Elan
Em Setembro de 1995 a Kia queria um modelo icónico para a sua gama e resolveu comprar à Lotus os direitos e a maquinaria para produzir o Elan. Trocaram as jantes, o volante, alteraram a suspensão e usaram o motor atmosférico de 1,8 litros de 205 cavalos do Kia Sephia.
Cadillac Catera
Se as imagens do Cadillac Catera lhe parecem familiares não se preocupe, não está errado. Nos anos 90 a Cadillac queria comercializar um modelo mais acessível e por alguma razão acharam que o Opel Omega seria o carro certo para o objetivo. Mudaram o logotipo, deram-lhe um nome ridículo semelhante a cratera e tuto para venderem cerca de 95.000 unidades em 5 anos.
Subaru Traviq
Conhecida pelos seus carros com tração integral e motor boxer este Subaru Traviq não o tem nada disso - mas sendo um Opel Zafira incluía o sistema de bancos Flex7 desenvolvido pela Porsche e o kit de carroçaria OPC na versão Traviq S.
Mas não foi a única mudança de logo no Zafira - além de um Subaru, o Opel Zafira também foi um Chevrolet, um Holden e um Vauxhall.
Opel Kadett E
Esta é uma entrada dupla por prismas diferentes: aqui por "Badge engineering" mas também irei registar este modelo para o artigo "Automóveis com longas vidas". O Opel Kadett E lançado em 1984 foi o ultimo dos Kadett antes da passagem para o nome Astra em 1991 e foi um modelo extremamente bem sucedido.
Este Kadett foi tão bem desenhado de raiz que chamou a atenção da direção da General Motors que decidiram espremer o Kadett E por tudo o que tinha, e assim que o Opel Astra foi apresentado licenciaram múltiplos clones a várias marcas por todo o mundo. Eis uma lista de 14 clones que encontrei (podem haver mais) e alguns dos mercados em que foi comercializado (definitivamente há mais):
Daewoo LeMans e LeMans Racer (Coreia do Sul)
Chevrolet Kadett (Brasil)
Daewoo Cielo (Coreia do Sul)
Asüna GT e SE (Canada)
Daewoo 1,5i (Austrália)
Daewoo Fantasy (Tailândia)
Daewoo Pointer (China)
Daewoo Racer (China, Checoslováquia, Líbia)
Guangtong GTQ5010X (China)
Passport Optima (Canada)
Pontiac LeMans (EUA e Nova Zelândia)
Daewoo Nexia (Europa, Coreia do Sul)
Chevrolet Nexia (Uzbequistão)
Volkswagen Taro
A Volkswagen Taro/Toyota Hilux foi um daqueles casos de um parceiro ter exatamente o que o outro procurava e vice-versa. Nos anos 90 a Volkwagen queria um pickup para encaixar entre as versões pickpup da Caddy e da Transporter, e a Toyota expandir as vendas da Hilux na Europa: assim nasceu a Volkswagen Taro, lê-se "tarō" que é o sufixo japonês aplicado ao filho primogênito, neste caso o 1º filho da Hilux.
A produção da Volkswagen Taro decorreu de fevereiro 1989 a Março de 1997 e era simplesmente uma Toyota Hilux de 5ª geração com um nome e logo diferente: segundo o acordo a Volkswagen produzia as versões de tração traseira (da Hilux e Taro) na sua fábrica de Hannover, enquanto as versões 4WD vinham da fábrica de Tahara no Japão.
A Taro foi substituída pela Volkswagen Amarok apresentada em 2010.
Suzuki Vitara
Acho que é seguro dizer que todos conhecemos o Suzuki Vitara - apresentado em 1988 era uma versão suavizada do Samurai/Jimny e um dos primeiros SUVs no mercado mas que ainda retinha alguma capacidade todo terreno.
Curiosamente no mercado japonês ainda é comercializado como o Suzuki Escudo (pronuncia-se Esukūdo) como referência à nossa moeda antes do Euro - sim, mais uma influencia portuguesa! A primeira geração foi extremamente popular sendo comercializada até 1998 sobre várias marcas e nomes.
- Asüna Sunrunner (Canada, 1992-93)
- Santana S350 (Espanha 2005–11)
- Mazda Proceed Levante (1995-97)
- Suzuki Escudo (1988-1993)
- Chevrolet Tracker (1990-98)
- Geo Tracker (1991-98)
- Suzuki Sidekick (1991-98)
Honda Concerto TD
Este é um caso peculiar de troca de logos porque ao mesmo tempo não é...deem-me espaço para explicar. Como muitos sabem a Honda e a Rover tinham uma parceria e nos final dos anos 80 colaboraram novamente para o seriam os Rover200/400 R8 e o Honda Concerto. A Honda forneceu a base mecânica do Honda Civic, mas o estilo e outros órgãos mecânicos eram específicos a cada marca. Sim, partilhavam muitos componentes mas não era possível confundir um pelo outro...exceto numa versão em particular.
A Rover desenvolveu muitas mais variantes, desde o coupé à carrinha passando pelo descapotável e o 400 de 4 portas. Debaixo do capot a Rover estreou a sua família de motores K, mas também usou motores da Honda (os 1,6 litros D16A6 SOHC e D16A8 DOHC) e nas versão diesel usou motores Peugeot Citroen (XUD9 e XUD7T).
Devido à grande procura de motores diesel em França, Espanha, Itália e Portugal a Honda decidiu também oferecer uma variante diesel, mas não se deu ao trabalho de trocar o motor nos seus Concerto: trocou apenas os logos nos Rover 200 diesel e vendeu-os como os Honda Concerto TD.
Lancia Delta
Sim, houve um clone do Lancia Delta e provavelmente no mercado menos esperado: esta é a curta historia do Saab-Lancia 600. A historia começa quando a Saab precisava de substituir o 96, mas não tinha os fundos necessários para desenvolver um novo modelo de raiz. Foi ai que a família Wallenberg que detinha a Saab entrou em contacto com os seus amigos de longa data - a família Agnelli. O mercado nórdico era desconhecido para os italianos e rapidamente um acordo foi conseguido. Além da venda dos Autobianchi A112 nos concessionários da Saab na Suécia, Finlândia, Noruega e Dinamarca foi também acordado a venda de uma viatura abaixo do Saab 900 em 1980 e o Lancia Delta foi o escolhido com a Saab responsável por o adaptar ao clima - assim nasceu o Saab-Lancia 600.
Se bem que discretas varias modificações foram efetuadas. Disponível apenas com o quatro cilindros de 1,5 litros de 85 cavalos e 123 Nm binário o Saab-Lancia 600 recebe logos da Saab, à frente um avental dianteiro com os faróis de nevoeiro, atrás o fundo da mala é em preto (versão GLS) ou na cor da carroçaria (versão GLE), escovas limpa-vidros específicos e aplicações de plástico preto. Mecanicamente partes da carroçaria foram reforçadas para evitar a corrosão, novo motor de arranque, bateria e sistema de ventilação/aquecimento.
Infelizmente os esforços dos engenheiros da Saab não foram suficientes. Além dos problemas com o sistema de aquecimento/ventilação, o sal colocado nas estradas causou sérios problemas de corrosão. Lançado em 1980 o Saab-Lancia 600 foi retirado do mercado 2 anos mais tarde tendo vendido apenas cerca de 2.000 unidades...das quais poucas devem restar.
Isuzu Tropper 2
A segunda geração do Isuzo Tropper é mais um produto da parceria entre a General Motors e a Isuzu, mas mudando apenas o logotipo e (às vezes) o nome este modelo foi vendido por 10 marcas diferentes durante 11 anos (entre 1991 e 2002). Eis uma lista dos clones:
- Isuzu Tropper 2
- Acura SLX (EUA)
- Chevrolet Trooper (América Latina)
- Holden Jackaroo (Austrália)
- Holden Monterey (Austrália)
- Honda Horizon (Japão)
- HSV Jackaroo (Austrália)
- Opel Monterey (Europa)
- Sanjiu 3-Nine Trooper (China,Isuzu com uma placa atrás)
- Subaru Bighorn (Japão)
- Vauxhall Monterey (Reino Unido)
Mitsubishi Outlander
Inicialmente a PSA Peugeot-Citroen não deu grande valor aos SUVs, achando que era uma moda que rapidamente iria passar. Infelizmente (para a PSA e para nós) tal não foi o caso e tinham que arranjar algo rápido para aproveitar a onda enquanto desenvolviam algo internamente. Acabaram por chegar a acordo com a Mitsubishi para rebatizar o Mitsubishi Outlander de 2007 para criar os Peugeot 4007 e Citroën C-Crosser.
A diferença, além do nome, está na dianteira recebendo capot, para-choques e farois específicos. A produção arrancou no Japão com o objetivo de mais adiante mudar a produção para a Holanda, mas as vendas nunca atingiram os objetivos e terminaram em 2012.
Mitsubishi RVR
Continuando com o acordo PSA-Mitsubishi para tapar a falta de SUVs nas marcas francesas, outro modelo japonês foi retocado. Neste caso o Mitsubishi RVR de 2010 recebeu novos farois, capot, para-choques e volante para dar origem aos Citroën C4 AirCross e Peugeot 4008 de 2012. O RVR foi também comercializado como o Mitsubishi ASX e Outlander Sport.
Mitsubishi RVR, ASX e Outlander Sport
Citroën C4 AirCross
Peugeot 4008
Nissan Cherry
No inicio dos anos 80 a Alfa Romeo tinha falhado como construtor independente e estava sobre controlo do governo italiano, que não estava muito interessado em dar os meios e dinheiro necessário para substituir o velho Alfasud. E numa manobra universalmente classificada como sacrilégio a Alfa resolveu tentar um casamento de conveniência com a Nissan: a Alfa precisava de um substituto do Alfasud e a Nissan de produzir na Europa para contornar os impostos de importação. E o primeiro filho desse casamento foi o Alfa Romeo Arna.
Colocaram a suspensão dianteira, motor e caixa de velocidades do Alfasud no chassis de um Nissan Cherry e mudando basicamente apenas o logotipo e o volante era comercializado como um Nissan Cherry ou um Alfa Romeo Arna.
Ford Versailles
Este é um momento crossover com o artigo "Automóveis com longas vidas" - neste artigo referi o Volkswagen Santana B2 e os seus 32 anos de produção continua, mas curiosamente também foi vendido com ligeiras modificações como o Ford Versailles no Brasil e Ford Galaxy na Argentina. "Ligeira modificação" significa trocaram o logotipo e o nome.
Ambos Volkswagen Santana e Ford Versailles\Galaxy foram produzidas no âmbito da parceria Autolatina, mas enquanto o Santana B2 teve uma carreira de 32 anos, o primo da Ford foi produzido entre 1991 e 1996 na fabrica da Volkswagen de São Bernardo do Campo.
Genesis - como começou
No outro dia uma pergunta colocou-se: qual foi o primeiro caso de "Badge engineering", em que com apenas uma troca de nome e alguns detalhes menores temos um novo modelo? Se perguntares à internet miutos referem o Chevrolet Chevy II/Nova de 1962, mas infelizmente é mais um aso de americanos apropriarem-se de algo que os europeus inventaram. Sim, o primeiro caso de Badge engineering surgiu na Europa (Inglaterra para ser exato) em 1959 com os Morris Mini-Minor, Austin Se7en, Wolseley Hornet e o Riley Elf - mas que nós conhecemos como o Mini original.
- Morris Mini-Minor: 1959 a 1962
- Austin Se7en: 1959 a 1962
- Riley Elf: 1961 a 1969
- Wolseley Hornet: 1963 a 1966
Dacia Duster
O Dacia Duster é, a seguir ao 1º Logan, o modelo mais importante da marca renascida pela Renault. Lançado em 2010 já vai na 3ª geração (se bem que em certos mercados a 2ª geração ainda é produzida) e já foram produzidas mais de 2,5 milhões de unidades em todo o mundo. Mas o que provavelmente não sabem é que o Dacia Duster (todas as gerações) tiveram clones - foi comercializado como um Renault e até como um Nissan.
- 2010 a 2022 (mk1): Dacia Duster, Renault Duster e Nissan Terrano (Rússia e Índia)
- 2017 a hoje (mk2): Dacia Duster e Renault Duster
- 2024 a hoje (mk3): Dacia Duster e Renault Duster
Fantástica compilação.
👏👏👏