PSA e FCA em conversas para união

Parece algo tirado de um telenovela - a FCA quer a PSA mas não tem a certeza que a PSA é uma boa escolha para o futuro logo larga a PSA e atira-se nos braços do seu eterno rival Renault. Assim que a Renault abusou da sorte a FCA larga a Renault no altar e lança-se chorosa nos braços da PSA que a recebe de braços abertos decidida a fazer a relação funcionar para bater o rival Renault.


Introdução
Esta união, entre FCA e PSA, tem como principal objetivo partilhar as despesas do desenvolvimento necessário para novos modelos, a redução de emissões, electrificação e tecnologias como a condução autónoma. A ocorrer cria um gigante de 50 mil milhões de dólares e 8,7 milhões de unidades vendidas mundialmente que a coloca em 4º lugar mundial atrás da Volkswagen, Toyota e Renault/Nissan - se conseguir ultrapassar os obstáculos políticos, financeiros e até pessoais que tem à sua frente.


Espera aí, e a Renault?
A união FCA-Renault\Nissan seria mais vantajosa, seriam logo os novos lideres mundiais do sector automóvel, mas como o governo francês insistiu que a Renault acertasse agulhas com a Nissan primeiro a FCA resolveu que era areia demais para a sua camioneta e foi-se embora.



Vantagens para a Fiat
A união FCA-PSA traria 2 grandes vantagens para a FCA - escala e tecnologia acedendo às plataformas da PSA para uma recuperação na Europa.

A FCA esta em 3 grandes mercados (Europa, América do Norte e América Latina) mas a partilha de plataformas e motorizações é mínima, enquanto a PSA está muito dependente da Europa onde vende 80% das suas viaturas. Na Europa a FCA já só tem 4,3% do mercado com a maioria dessas vendas a serem em Itália mas podia aproveitar as plataformas e motorizações modernas da PSA para automóveis pequenos e compactos poupando em desenvolvimento. Na Europa a Fiat já só vende os 500, Panda e Tipo todos a precisarem de rápida substituição - as plataformas PSA ajudariam imenso, basta ver com que rapidez refizeram o novo Corsa.

Os italianos estão terrivelmente atrasados no que toca a electrificação e tecnologias de condução autónoma - e se não tem dinheiro para novos modelos onde é que o encontra para novas tecnologias? Nos EUA já levou uma multa valente por não cumprir os padrões de eficiência e na Europa comprou créditos à Tesla para não levar multas cá também mas esse truque só vale até 2022. A PSA pode fornecer essas tecnologias híbridas e eléctricas.



Vantagens para a PSA
A união FCA-PSA traria 3 grandes vantagens para a PSA - aumenta escala na Europa (com a Fiat teriam 24% do mercado europeu com 4 milhões de unidades anuais), acesso ao mercado norte-americano (A PSA quer voltar aos EUA em 2026 mas com a guerra de tarifas que se avizinha a rede de concessionários e fabricas nos EUA pode ser uma vantagem) e partilha de despesas de desenvolvimento.

A PSA tenta à muito vingar no mercado premium com a DS mas sem sucesso - FCA pode fornecer à PSA a sua plataforma Giorgio de tração traseira e integral usada nos Maserati e Alfa Romeo para livrar-se da imagem de marca genérica requentada. 

O grupo francês quer voltar ao mercado norte-americano em 2026 mas faze-lo sem SUVs e pick-ups - a FCA tem tudo o que os franceses precisam na Jeep e Ram.



Então assim acabam-se os problemas?
Nem de longe. Mesmo escolhendo outro grupo francês "o problema" do governo francês mantém-se já que este detém 12% da PSA via o banco estatal BPI. Acresce ainda que a participação da Dongfeng Motor chinesa (12.2% mas noticias indicam que estariam abertos a venderem participação) na PSA pode ser problemática devido a atual disputa com Trump e problemas familiares - a família Peugeot ainda detém 12,2% da PSA e a Fiat é detida principalmente pela Exor (29% da Fiat) controlada pela família Agnelli que nunca facilita as coisas.

Infelizmente consolidação significa fechar fabricas e empregos. Neste tema Tavares conseguiu sucesso com os sindicatos alemães, mas estes também facilitaram porque a outra opção era o encerramento da Opel e a PSA foi a única interessada - a CGT em França é capaz de ser mais difícil de lidar. Do lado italiano o quadro é mais complicado - a Fiat tem todas as suas fabricas a trabalhar a meio gás (o enorme complexo de Mirafiori está abaixo de 50% da capacidade) com muitos dos seus trabalhadores em lay-off temporário e várias marcas que não conseguem sair do vermelho (Maserati, Alfa Romeo e Lancia).

Claro que depois há os problemas de sobreposição na Europa (a Citroen e Fiat estão a competir exatamente pelo mesmo publico) e não oferece grandes sinergias nos mercados atualmente lucrativos - EUA, China e América Latina.

E não podemos ignorar o elefante chinês na sala - quer a FCA quer a PSA não conseguem aproveitar o maior mercado automóvel do mundo: nos primeiros 9 meses de 2019 a Dongfeng PSA teve uma queda de vendas de 50% e a FCA Guangzhou Automobile Group caiu 46%. Juntos não chegam nem a 1% do mercado - e isto num mercado que está a dar sinais de saturação. Como esta fusão resolve este problema é uma boa pergunta.



Concluindo...noves fora nada?!
Não é bem assim - ambos PSA e FCA mostraram no passado o mesmo objetivo de consolidação, e se ambos conseguirem tomar as medidas duras necessárias e mandarem os políticos dar uma curva até é capaz de funcionar - e Carlos Tavares já provou ser pessoa capaz para o desafio.

Sozinhos não têm a escala/dimensão capaz de rivalizar com a Volkswagen ou Toyota que tem os recursos necessários para a revolução tecnológica que se avizinha - juntos conseguem a escala e partilha das despesas nestas novas tecnologias.

A PSA está em óptima saúde financeira conseguindo uma margem de lucro de 9% por automóvel e conseguiu dar a volta à Opel mesmo com um mercado europeu relativamente parado. A FCA pode não ter a mesma saúde financeira mas tem alguns atributos interessantes - os SUVs e pickups Jeep e Ram, além da rede instalada nos EUA para o muito desejado regresso aos "states" por parte da PSA.

Qual é o melhor parceiro para a FCA - PSA ou Renault? A união com a Renault era mais vantajosa mas a união com a PSA talvez seja menos complicada e realista porque estão ao mesmo nível e precisam igualmente um do outro. A Fiat Chrysler trás para a mesa o volume, acesso e lucros do mercado norte-americano (principalmente graças à Jeep e Ram) e PSA trás os lucros da Europa e tecnologias que a Fiat não tem como electrificação e autonomia.

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