Crise de identidade...

Recentemente, fui ver um espectáculo de dança no Forum Luisa Todi em Setúbal. O musical Extravaganza, para ser mais preciso.

E como todos os espectáculos neste pais, começou atrasado...o que me deu tempo para reflectir sobre o que dizer acerca do veiculo que nos transportou, um Opel Astra Caravan 1.3 CDTI 90cv.

E tenho a confessar que não consegui concluir grande coisa. Não é porque não haver nada de errado, apenas não há nada que chame a atenção. Nada de toques excitantes de design, equipamento ou performances surpreendentes. E ai atingiu-me, é um Opel - é Alemão. Vocês sabem, este pessoal.

Que bebem cerveja ao litro, muitas salsichas, sem qualquer sentido de humor e acham que o David Hasselhoff é um bom cantor.
Mas não totalmente Alemão, algo conseguiu penetrar a couraça: o motor 1.3l com 90 cv CDTI é italiano, é um motor FIAT. É um híbrido, portanto. Mas será que este funciona?
Pelo que me lembro das aulas de historia, Italianos e Alemães colaboraram 2 vezes: na 2ª Guerra Mundial (não correu lá muito bem), e mais recentemente, no Lamborghini Murcielago em que os italianos desenharam o carro e o motor mas foi desenvolvido por alemães. Graças a esta união, a Lamborghini atingiu o ano passado vendas recordistas.
Espero portanto que este Opel Astra seja como a bailarina que dança neste momento no palco. Quero que a bailarina seja toda italiana, loura, linda e energética mas que o espartilho, soutien, cinto de ligas e meias sejam feitos na Alemanha para que não caiam...mau exemplo porque secretamente eu quero que caia!
Outra metáfora mais própria: num casamento queremos que os Italianos façam a comida mas os Alemães façam as mesas e cadeiras!
E gosto do lado alemão deste carro. As linhas exteriores são dinâmicas e agradáveis mas sem a sensualidade Italiana ou a extravagancia francesa - simples. E tratando-se de uma carrinha, a traseira tem de ser apenas pratica e maximizar o espaço de carga. E assim é. Até se olharmos bem, parece que o designer que desenhou a frente nunca conheceu o designer que desenhou a traseira.
Há mais sinais de "germanização" neste carro, pequenos detalhes. Por exemplo, os fabricantes fabricam o carro e depois atiram lá para dentro o triângulo de sinalização. Mas os Alemães não: fizeram um espaço próprio no lado de dentro da tampa da mala com umas presilhas para segurar o triângulo. E a chapeleira corre sobre carris.
O interior também é Alemão : todo preto com excepção das aplicações de plástico cinza.

Até agora só encontrei um interior mais tenebroso que este: o do Volkswagen Touran (também alemão), em que tudo é preto! Já conduzi um Touran de um vizinho e digo-vos que é a mesma coisa que conduzir um automóvel de dentro da racha do rabo de alguém!
Os botões e manivelas parecem feitos de granito. Ao contrario dos comandos dos carros franceses que parecem terem sido colados com cuspe.
Então isso significa que este gosto deste carro?
Não...porque falta falar da componente Italiana - o motor e caixa de velocidades. Ao invés de um soprano de opera saiu um gigolo italiano, que anuncia ao mundo que é o melhor amante na cama (com a potência de 90 cavalos de um 1,3l) mas na verdade sofre de ejaculação prematura!
"Are you talking to me?"
O motor é completamente morto abaixo das 1850rpm e esgota as 2050rpm. Em cidade, é necessário um esforço sobre humano do braço direito para conseguir manter o motor na rotação correcta - com o constante relançar do carro, a minha filha enjoou no caminho. Verdade que em auto-estrada fica melhor. O cruise-control e a sexta-velocidade permitem uma viagem calma (a 130km\h o motor faz apenas 2000rpm).
Quando queremos algo bem feito, temos que ser nós a fazê-lo. A Opel resolveu confiar nos Italianos para fazerem a sua parte como deve ser, e eles deram-lhes o mesmo motor de um Fiat Punto e foram para tasca rirem-se dos Alemães. Tal como fizeram na WW2 e aquando do BMW M1.
Admiro os carros porque centenas de pessoas dedicaram o seu tempo e coração para darem o seu melhor, e no processo, colocaram um pouco de si no automóvel que criaram, conseguindo algo de extraordinário - dar-lhe alma. Eles não montaram uma fábrica e produzem carros apenas para melhorar o produto interno bruto do pais.
Mas ao poupar dinheiro no desenvolvimento de componente críticos, confiando noutros para fazer esse trabalho, desvirtuaram o produto final... e acabamos a conduzir um "Herman José". Parece Alemão, fala Alemão, tem sentido de humor de Alemão mas esta interessado noutro tipo de salsichas... logo não é Alemão. Tal como este Opel Astra.

22 comentários:

  • El Topo says:
    15 de abril de 2008 às 15:52

    Ao ler este post 2 coisas ficaram na minha cabeça...a primeira foi o comentário sobre os italianos e alemães terem já colaborado e não correu bem a coisa. Penso eu para mim "onde já ouvi isto?!Ah, já sei!Foi no episódio do famoso top gear, em que o anfitrião Jeremy Clarkson diz o mesmo quando testa o Gallardo."
    A segunda, de facto a Lamborghini, empresa outra hora italiana está associada a uma empresa alemã à Audi, tudo do Grupo VW, sendo que é incorrecto dizer que o Murcielago foi desenhado por italianos, quando foi desenhado pelo sr Luc Donckerwolke, um designer Belga nascido no Perú, nada a ver com italiano...do mal ao menos, seria dizer que foi desenhado pelos alemães...

  • Richard says:
    15 de abril de 2008 às 16:44

    True... mas eu agora lembrei-me agora de uma boa "parceria"... a Alfa com o antigo 'homem' da BMW M! Aumentaram exponencialmente a qualidade! Melhor do q isto? :)

  • Richard says:
    15 de abril de 2008 às 17:08

    By the Way, o Senhor Luc Donckerwolke, é actualmente o director de design da SEAT...

  • Fernando Ribeiro says:
    15 de abril de 2008 às 17:32

    Eu conheço algumas pessoas donas do Astra 1.3 CDTi,apesar do motor pequeno, penso que cumpre razoavelmente, ele foi feito para minimizar os consumos e ainda o preço final do automóvel e nesse aspecto tem sucesso, caso contrário os orgulhosos dos Alemães não iam busca-lo á Fiat.

  • Turbo-lento says:
    15 de abril de 2008 às 17:36

    o ponto que eu queria fazer era que deixados sozinhos, os Italianos não fazem a sua parte direita. Se querem outros exemplos historicos, podem ir ver o Citroen SM (Franceses+italianos), Maserati MErak (franceses+italianos) ou o BMW M1 (alemães+italianos). O elemento comum? todos correram muito mal. O Merak e SM desapontaram até na época e o M1 foi salvo mais porque a a Lamborghini na altura faliu e a BMW conseguiu recuperar o material de desenvolvimento e terminaram o projecto sozinhos.

  • Fernando Ribeiro says:
    15 de abril de 2008 às 17:42

    Uma coisa é certa, em termos de design os italianos são dos melhores, mas também diz-m uma marca em que o seu design seja tão excelente como as motorizações, qualidades de materiais e preços, que eu compro já!

  • Turbo-lento says:
    15 de abril de 2008 às 17:44

    Relativamente ap topico princiapl, o que eu queria falar era sobre "alma" dos carros. Algo que iniciou uma discussão acesa entre mim e o Richard sobre os desportivos japoneses.
    A "alma" é dada pela dedicação das pessoas que o desenham, desenvolvem e constroem. Ao ser o mesmo "grupo" acabamos por ter sempre as mesmas pessoas envolvidas em todos os carros. Mas ao ter uma empresa externa a desenvolver algo importante como motor e caixa, acabamos por diluir isso e tornar o automovel mais um produto marca branca tipo marcas de distribuição/supermercado em que dá para sentir que foi produzido por quem ofereceu o preço mais baixo.

  • Turbo-lento says:
    15 de abril de 2008 às 17:55

    Consumos do Astra: tenho uma Megane carrinha 1,5DCi 80cv que faz menos 0,8l/100km. Acho que em cidade o ter qur mudar muito de velocidades acaba por lixar o consumo
    Carro perfeito é coisa que não existe. E mesmo que houvesse um que equilibrasse, preço, design, perfornmance, conforto e economia...acho que não o comprava

  • Fernando Ribeiro says:
    15 de abril de 2008 às 18:42

    Pelos os donos dos GTC's que conheço falam muito bem dos consumos, e que se desenrasca bem na autoestrada. Consumos nunca consegues comparem bem em precisão, o Renault não deixa de ter uma cilindrada superior.

  • Anónimo says:
    15 de abril de 2008 às 21:59

    tenho um corsa sport com este motor. gostava d ler mais coisas sobre este motor, mas nunca consegui encontrar muitas coisas. até agora tem desempenhado bem o seu papel. só tem 4.000 km... anda muito bem... (ñ sei pq mas o motor do punto tem um binário superior ao OPEL!!!!) alguém m explica? além d tudo surpreendeu-m

  • Zé Miguel says:
    16 de abril de 2008 às 01:17

    0,8l/100Km??? lol, deves-te ter enganado! ;o)

  • Anónimo says:
    16 de abril de 2008 às 02:16

    "e eles deram-lhes o mesmo motor de um Punto e foram para tasca rirem-se dos Alemães." :D

    Os Alemães (Opel leia-se) é a marca económica vinda do pais das salsichas gordas, por isso aqui, deram prioridade ao preço do que própriamente ao resto. Julgo que pelo preço fizeram bem optar pela Fiat.(ponto)

    Agora que tem os Opéles dieséles com motoréles "made by Isuzo", que os estime...

    Aliás comercialmente falando, vê-se a fiat a subir nas vendas do que própriamente a opel, principalmente para frotas. Para quê uma cópia se pode ter o original, e mais barato. Desde que a Opel saiu do nosso pais, cortei relacionamento com a mesma. Um pouco de patriotismo tb me fica bem ;) mania...

  • Turbo-lento says:
    16 de abril de 2008 às 10:23

    A verdadeira "força" de um automovel é o binário e não os cavalos que desenvolve. E o binário depende da pontencia do motor e da desmultiplicação da caixa de velocidades. Dai que o mesmo motor pode ter diferentes binários. A dinmensão da jante tambem pode afectar.
    Relativamente aos consumos, eu calculei (não foi o computador de bordo) uma diferença de 0,8l. Verdade que fiz um pouco mais de cidade com o Astra que normlamente faço com o Megane, mas foi o valor que obtive. Acredito que seja a constante necessidade de mudar velocidades em cidade que penalisa o consumo.
    Relativamente aos diesel da Opel, creio que tem a haver mais com a má situação financeira da sua casa mãe americana a GM. Como esta basicamente falida, entrou em acordo com a tambem falida FIAT para partilha de elementos. A base do Corsa e do Grand Punto é a mesa.
    Porque é que a Opel desistiu dos diesel Izuso (de quem é proprietaria) ultrapassa-me. COmpraram motores a BMW, depois tentaram fazer os seus...sinceramente não percebo.

  • Fernando Ribeiro says:
    16 de abril de 2008 às 10:26

    Pelo sim, pelo não mais vale optar pela VW, ja ca temos o Eos, os Scirocco, e acho que vamos ter a nova Sharan. Apesar da qualidade Opel não ser má. Penso também que os motores diesel 1.7 sejam Isuzu, por isso um astra com este motor não é nada mau!

  • Unknown says:
    16 de abril de 2008 às 11:40

    Por acaso agora tb tenho por cá um corsa van 1.3 e um Mégane 1.5 DCI de 80.
    Até ao ano passado tb por cá andou um clio coemrcial de 70CV e em termos de motor mete este Opel Corsa a um canto.
    Quer em disponibilidade, Força e Consumos... este 1.3MultiJet está muito muito gastador. se csgo ter no meu megane consumos na ordem dos 5L para menos... já a minha mãe e seu corsa ( em inicio de vida diga.se) nao se conseguem valores abaixo dos 6/6.5 l/100

  • Obturador says:
    16 de abril de 2008 às 11:42

    Quanto aos regionalismos dentro desta multicultural Europoa... até acho que o casamento não é dos piores...se tivesses experimentado o mesmo carro em 1.9 ltrs de 150 cv trarias uma opinião diferente.
    De facto este motor não é feito pela alma, mas antes pela fiscalidade e preço. Devia ser aplicado apenas em carros com menos de 1000 kg? Sem dúvida!!!
    Estou ansioso de experimentar o 1,4 hdi no MAzda 2 (960 kg).
    Tive uma Astra G 1.4 de 90 cv (zolina) que surpreendia pela positiva, o que me traz alguma simpatia pela marca. Esperimentei o 1,3 cdti em carro e também odiei.
    Abraço M

  • Turbo-lento says:
    16 de abril de 2008 às 12:24

    O mazda 2, para mim, mostra o caminho a seguir no que toca a economia e a diminuir emissões: perder peso.

  • Anónimo says:
    16 de abril de 2008 às 22:27

    O 1.3 faz consumos de 4L e pouco sem nada custar... pelo menos o 75 cv... Não digam mal do motor, é impecável, gasta pouco, anda bem e ao contrário do que dizem, deixa muitos Clios pra trás. Pelo menos o d potência equivalente... Ñ podem comparar alhos com bugalhos. Não falem do q não sabem... e eu ñ estou nada ansioso pelo 1.4 HDI, cheira a material frances rasco...ppffff... áhh bommmm...

  • Turbo-lento says:
    16 de abril de 2008 às 22:55

    Nunca falo do que não sei - assim poupo ter que pedir desculpas por dizer asneiras.
    E não digas mal do 1,4hdi frances porque a BMW preferiu esse ao D4D da toyota para o actual mini.

  • L0p3sPT says:
    17 de abril de 2008 às 16:53

    No meu corsa 1.3cdti 70cv faço consumos muito bons, ligeiramente inferiores apenas o 1.5dci 65cv..

    Cumps

  • Anónimo says:
    17 de abril de 2008 às 21:30

    Mas o q é BMW? Não é exemplo. Agora comparamos alhos com cebolas. Até nem a Toyota deveria aceitar tal coisa... E a BMW sabe disso, por isso nem tentaram...lol

  • Richard says:
    17 de abril de 2008 às 22:46

    Até agora, este foi o meu post favorito do turbo-lento! E o pessoal gosta é de falar dos consumos :p

    Desculpem, é um desabafo, escrito a sorrir... Mas o pessoal (no qual me incluo/incluia) gosta mesmo da discussão do litro, e do binário... e então se mete marcas 'favoritas' ao barulho, é excelente :) Somos mesmo Lusitanos :p ... é que os comments começaram tão bem!!! :)

    Abraços a todos