Viver rápido, morrer jovem...mas viver

É com grande desgosto (e dor física) que estou proibido de conduzir - não fui multado ou algo parecido: escorreguei nas escadas húmidas do escritório e bati com o joelho na esquina do degrau. Estou a escrever da sala de espera do Hospital da Cruz Vermelha em Lisboa.



E durante o questionário feito pela seguradora e pelos médicos notei a preocupação em "identificar o culpado". Mas não havia nenhum culpado: os sapatos tinham a sola correcta, as escadas estavam conforme a lei e a chuva tinha sido prevista atempadamente pelo instituto de metrologia.

Mas não existe tal coisa como "acidentes" hoje em dia. Se você tropeçar numa pedra da calçada vai haver um inquérito, um culpado vai ser apontado e medidas vão ser tomadas para não volte a acontecer.
Temos tido um inverno bastante violento com frio, chuva, neve e estradas cortadas. Mas não foi um gesto do dedo mindinho de Deus ou um acidente da natureza - segundos os políticos é culpa da Protecção Civil.

Mas o que esquecemos é que o ser humano esta programado para correr riscos. Se Pedro Alvares Cabral não tivesse decidido virar à esquerda a caminho da Índia ainda hoje se pensava que a Terra era quadrada...e estaríamos a perder muita coisa...

Graças a Deus que evoluímos - temos o forno micro ondas e o computador portátil, mas lá no fundo continuamos a ser homens das cavernas e o que queremos é a adrenalina a subir, a pancada da endorfina e o prazer da dopamina. E a única maneira de aceder a este cocktail 100% natural é correr riscos.

Porque é que os desportos radicais são tão populares? É a reacção humana a esta sociedade almofadada sem estímulos sem riscos e sem perigos em que vivemos.


Tememos as radiações dos telemóveis que fritam neurónios, as alergias ao nickel das moedas do Euro, um estudo recente diz que os teclados dos computadores estão mais contaminados que uma sanita publica e agora temos o Estado a querer cortar no sal do pão.
Dai que dizer que a velocidade mata e pedem-nos para andar devagar não funciona - não conduzimos depressa porque estamos com pressa mas porque aperta os botões certos, porque nos faz sentir humanos.
E de onde veio esta fobia? Das Americas do Norte sem dúvida - do pais que acredita ser possível fazer guerra sem perder um homem. Ainda recentemente vi um programa no Discovery Channel sobre o estudo de furacões porque querem melhor protecção. É um furacão, se virem um saiam do caminho, que mais se pode fazer?!
Eles, e cada vez mais nós, acreditamos que a vida não deve ter riscos, que todos os acidentes podem (e devem) ser evitados e que morrer só acontece as pessoas que fumam, comem carne, fazem sexo e conduzem depressa.
Estou lesionado e acabam de me dar o meu primeiro par de muletas da minha vida ...e já desafiei o meu companheiro da sala de espera numa cadeira de rodas para uma corrida pelo corredor do hospital!

3 comentários:

  • Richard says:
    17 de fevereiro de 2009 às 15:53

    As melhoras para ti Turbo em nome da equipa ;) põem-te novo pq precisamos de ti lá fora a reparar naqueles pequenos pormenores que todos vêm mas não ousam reclamar!

    "pessoas que fumam, comem carne, fazem sexo e conduzem depressa." - Gosto disto tudo :p

    PS- Estamos a torcer por ti para venceres o picanço aí no hospital! Bom post!

  • Turbo-lento says:
    17 de fevereiro de 2009 às 19:14

    Infelizmente perdi mas ele tinha 2 rodas. e pelos vistos, descobri hoje, tenho uma ruptura do menisco.

  • Richard says:
    18 de fevereiro de 2009 às 12:13

    Turbo toma conta desse menisco, lembraste do meu verão :s isto dos joelhos é muito mau. Desejo-te a melhor das sortes amigo. Um grande abraço!