Sim, sarcasmo. A Electrek esteve a rever as transcrições do recente julgamento em que o Autopilot foi parcialmente responsabilizado por um acidente mortal e pelos vistos foram apanhados a esconder dados/provas do acidente, mentir sobre provas e às autoridades para ocultar as falhas do Autopilot. Isto é um alerta a quem usa o Autopilot - se tiver um acidente com este sistema ativo a Tesla irá quebrar a lei para se assegurar que você seja o único responsável. Abaixo está o resumo cronológico do que aconteceu, segundo registos do tribunal acedidos pela Electrek:
25/04/2019 - acidente e o upload (que a Tesla disse não ter acontecido)
Nos 3 minutos seguintes ao acidente o computador do Model S comprimiu num ficheiro vídeo dos sensores, CAN‑bus, EDR, dados do Autopilot e outras informações num ficheiro denominado “snapshot_collision_airbag-deployment.tar” e enviou-o para o servidor da Tesla. E em seguida apagou a copia local do ficheiro.
23/05/2019 - advogado da Tesla manipula pedido judicial de provas
O investigador entrou em contacto com o advogado da Tesla para obter a telemetria do acidente, mas não sabia o que incluir no pedido. O advogado da Tesla disse para ele fazer o pedido de ajuda por escrito e ele indicaria o que pedir. Com a desculpa de "facilitar o trabalho das autoridades" o advogado da Tesla conseguiu que este fizesse um pedido sem incluir os dados do acidente que tinham há um mês! A policia apenas recebeu dados do sistema multimídia com o registos de chamadas e manual do utilizador.
07/2019 - teatro de mau gosto
Ainda considerando a Tesla como cooperante, o investigador da policia pediu ao advogado da Tesla que o ajudasse a aceder ao MCU (computador do sistema multimídia) e à ECU (unidade controladora) do Autopilot. Indicaram-lhe um técnico da Tesla numa oficina oficial que o ajudaria no que fosse necessário. Sob a supervisão do investigado o técnico "tentou ligar" os dispositivos mas segundo o técnico a informação estava corrompida e não podia ser acedida. Mas 2 factos surgem mais adiante - o técnico da Tesla confessa que apenas ligou o MCU e nunca ligou a ECU do Autopilot, e o engenheiro mecânico contratado pela acusação conseguiu mais tarde ligar a ECU do Autopilot e encontrar a informação sobre o acidente.
2019 a 2024 – negar, recusar e adiar
Desde desviar a atenção da policia a afirmar que a informação estava corrompida a Tesla tudo fez para que a informação nunca viesse a publico. Em nenhuma das comunicações neste processo\investigação de 5 anos a Tesla nunca disse que tinha desde o dia do acidente toda a informação sobre como o Autopilot se comportou nos seus servidores.
Fim 2024 – tribunal bate o pé
No fim de 2024 o tribunal permitiu que a acusação aceda à ECU do Autopilot para tentar aceder aos dados que a Tesla disse estarem corrompidos. O engenheiro contratado porem conseguiu não só ativar a ECU mas aceder e copiar toda os dados, metadados e informação ECE (error correction code).
02/2025 – analise forense
Na analise dos dados da ECU do Autopilot o engenheiro conseguiu encontrar muito mais dados sobre o acidente incluindo provas da existência do ficheiro "snapshot_collision_airbag‑deployment.tar" e onde foi armazenado no servidor da Tesla.
05/2025 – juiz força Tesla a obedecer
Com os dados obtidos a acusação convenceu o juiz a dar-lhes uma ordem para que a Tesla produza os ficheiros que tinha no seu servidor. Depois de muita oposição a Tesla enfim entregou o que tinha, incluindo o registo que confirma a receção dos dados do Model S nos 3 minutos seguintes ao acidente.
07/2025 - julgamento em tribunal
No tribunal o júri foi confrontado não só com os dados do acidente, mas também com a tentativas de encobrimento pela Tesla. Os dados permitiram as seguintes conclusões:
- o Autopilot estava ativo;
- o Autosteer estava a controlar o carro;
- não foi detetada qualquer tentativa do condutor para recuperar o controlo no volante ou travões;
- não existe registo do Autopilot emitir alerta “Take Over Immediately”;
- mapa do Autopilot identificava área do acidente como “restricted Autosteer zone” mas mesmo assim o Autopilot foi ativado;
Este ultimo ponto foi critico - a acusação demonstrou que a Tesla conhecia e mapeou a zona, e mesmo assim permitiu o uso do Autopilot em zonas em que não devia. O sistema não se desativou ou deu qualquer alerta.
O condutor admitiu a sua responsabilidade no acidente, mas a acusação conseguiu que a Tesla era também responsável ao permitir que o sistema seja ativado/utilizado apesar dos riscos - se o geofencing funcionasse o condutor não teria sido capaz de usar o Autopilot e não seria colocado na situação que levou ao acidente.
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