Após uma longa e difícil gestação de quatro anos a Tesla Cybertruck finalmente chegou ao mercado - 10 unidades para ser exato e todas vendidas/entregues a funcionários da Tesla, a um preço bastante mais alto (em média 53% mais cara) que o anunciado e uma autonomia bastante mais baixa que a anunciada. Há muito ruido e fogo de artificio em torno da versão de serie - tento abaixo escrever sobre o que é importante e o que é fogo de vista.
A versão de produção do Tesla Cybertruck foi apresentada na fábrica do Texas e definitivamente continua a parecer algo saído do filme Blade Runner com o perfil em cunha e todos os ângulos com um coeficiente aerodinâmico de 0,335. Tem 5,69 metros de comprimento (20 centímetros abaixo do anunciado) por 2,41 metros de largura calçando jantes de 20 polegadas. Graças à suspensão pneumática a distancia ao solo pode ir até 43,2 centímetros em modo Extract - mas não se sabe se estará disponível em todas as versões.
A carroçaria em aço inoxidável é anunciada como resistente a armas ligeiras (não especificam a que distancia) e o vidro capaz de resistir a impactos (mas não a balas) de uma bola de baseball a 110 km\h (se bem que a demonstração pelo designer não chegou nem perto disso).
A caixa de carga é construída em materiais compósitos com um comprimento de 1,83 metros e 1,22 metros de largura capaz de transportar até 1,6 toneladas. Tem um sistema de carga bidirecional V2G com 5 tomadas para um total de 11,5 kW o que significa que é capaz de alimentar ferramentas elétricas ou até carregar outros EVs.
Continuando na caixa de carga ao rever a página de acessórios notei alguns detalhes interessantes. A Cybertruck não traz um pneu suplente de série, é um opcional de 1.150 euros, nem kit de reparação que é um opcional de 506 euros. Tendo em conta que o pneu tem um diâmetro de 88 centímetros isso significa que rouba quase metade da caixa de carga (que tem 1,83 metros de comprimento) - será possível montar o pneu suplente com a bateria Range Extender que também rouba espaço de carga? Se for fazer todo terreno é uma combinação de equipamento que faz sentido. Se calhar é possível montar o pneu na vertical mas isso será compatível com a cobertura da caixa de carga?
Tendo em conta que o pneu suplente vem com ferramenta e macaco parece de série nem isso a Cybertruck recebe.
No interior a Cybertruck tem espaço para 5 ocupantes, abandonando o banco de 3 lugares à frente. Seguindo a filosofia minimalista da Tesla com quase nenhum botão visível com a maioria das funções a passarem para um grande ecrã táctil de 18,5 polegadas que domina o tablier e uma nova evolução do volante tipo manche da Tesla. Os passageiros atrás recebem um ecrã táctil de 9,4 polegadas, mas se é de série ou opcional é uma boa pergunta.
Algo curioso é que o tejadilho de vidro integral não tem qualquer proteção contra o sol - é um opcional.
A Tesla Cybertruck estará disponível em 3 versões: Propulsion, All Wheel Drive e Cyber Beast. E como de costume a Tesla não comunicou valores da capacidade de bateria - apenas o Youtuber Marques Brownlee, já tendo conduzido a Cybertruck, disse que a capacidade é de 123 kWh.
- O modelo base Rear-Wheel Drive apenas com um motor elétrico deverá chegar em 2025 custará (estimativa segundo o site) $60,990 (mais que os inicialmente anunciados $40,000) acelera dos 0 aos 100 km\h em 6,5 segundos, atinge uma velocidade máxima de 112 mph, uma autonomia máxima de 402 quilómetros e uma capacidade de reboque de 7.500 pounds.- A versão intermédia All-Wheel Drive com uma motorização dual-motor com 600 cavalos deverá chegar em 2024 com um preço estimado de $79,990 acelera dos 0 aos 100 km\h em 4,1 segundos, atinge uma velocidade máxima de 112 mph, uma autonomia máxima estimada de 547 quilómetros e rebocar até 4990 quilogramas.- O modelo para já disponível é o de topo de gama chamado Cyberbeast que debita 845 cavalos da sua motorização tri-motor deverá chegar em volume em 2024 custará $99,990 sendo capaz de acelerar dos 0 aos 100 km\h em 2,6 segundos, atingir uma velocidade máxima de 130 mph, uma autonomia estimada de 514 quilómetros e rebocar até 4990 quilogramas.
Sem duvidas números impressionantes mas notem alguns detalhes:
- todas as autonomias são ainda estimadas, nada de valores EPA oficiais;- nenhum modelo consegue atingir as 500 milhas/804 quilómetros de autonomia que Musk sempre prometeu;- não inclui os valores do binário porque são claramente apos multiplicação e não o debitado pelo motor;- por alguma razão a aceleração dos 0 aos 100 km\h da versão mais potente foi medida de de maneira diferente: são 2,6 segundos "With rollout subtracted", ou seja tal como nas drag races o tempo apenas conta após o pneu dianteiro ter atravessado completamente o feixe que demarca a linha de partida. E com uma jante de 20 polegadas ainda é algum tempo.
Também queria abordar a questão do vídeo do Cybertruck fazer o 1/4 de milha a rebocar um Porsche 911 mais depressa que um Porsche 911 - vídeo abaixo. Consultei um amigo que é um grande conhecedor dos 911 e ele concorda que usaram o Porsche 911 Carrera T, o 911 menos potente de todos. Segundo o site da Porsche este 911 acelera dos 0 aos 100 km\h em 4,2 segundos e se corrigirmos o tal "with rollout subtracted" dos 2,6 segundos anunciados para o Cybertruck o mais certo é termos um tempo entre 3,6 e 4 segundos. Um 911 Carrera S faz isso, um 911 GTS faz melhor e nem falemos nos Turbos ou GT3. E o que também faz dos 0 aos 100 km\h? A Rivian R1T quad-motor consegue fazer isso em 3 segundos.
Segundo a Tesla com um carregador de 250 kW a Cybertruck carrega 218 quilómetros em 15 minutos.
Ainda no tema da autonomia a Tesla anunciou que um "range extender" pode ser adicionado às versões Cyberbeast e All-Wheel Drive - resumidamente uma bateria adicional que vai na caixa de carga. Este extra permitira aumentar a autonomia da Cyberbeast para 708 quilómetros e para 756 quilómetros na All-Wheel Drive. Não foi oficialmente comunicado o preço (rumor indica 16.000 euros) ou peso, mas ocupa 40% da caixa de carga. Uma coisa tenho quase a certeza - esta bateria extra será algo instalado e não amovível. Uma bateria capaz de acrescentar 210 quilómetros a uma pickup de 3,2 toneladas não será nem pequena ou leve.
Na tecnologia a Cybertruck estreia uma direção "by wire" (sem ligação mecânica entre volante e rodas) com desmultiplicação variável - algo que já devia ter quando insistiu nos volantes tipo manche nos outros modelos. É uma tecnologia difícil de acertar (combinar a informação da velocidade do veiculo e do sensor do volante para alterar a desmultiplicação da direção) e será interessante de ver se conseguiram.
Para lidar com todo-terreno além da suspensão pneumática capaz de alterar a altura ao solo em 10 centímetros, é capaz de bloquear os diferenciais, direção nas 4 rodas e torque vectoring - infelizmente a Tesla não confirmou se todo este equipamento é de série ou opcional conforme as versões.
E chegará à Europa? Atualmente, a Tesla Cybertruck não está disponível na Europa e tendo em conta a longa lista de espera nos EUA duvido que a exportação seja uma prioridade. Sinceramente não sei se aquela frente é capaz de passar as exigências de proteção de peões na Europa, é enorme e muito muito pesada: a versão para já disponível pesa 3.200 quilogramas e a carta de condução B que a maioria tem apenas permite conduzir massa máxima autorizada não superior a 3.500 quilos. Há uma diretiva europeia que permite que portadores de carta B possam conduzir um veiculo até 4.250 se este for elétrico, mas certos países podem recusar a homologação.
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