Novo Renault Zoe 50 - ensaio

Antes de mais queria agradecer à Roques VT por permitirem o ensaio do novo Renault Zoe - estava curioso por testar o novo ZOE para responder a uma questão importante. É fácil esquecer que o Renault Zoe já cá anda desde 2012, é um dos primeiros automóveis de série criado de raiz 100% elétrico a aparecer no mercado e desde então foi constantemente refinado e melhorado, um pouco como a Porsche faz com o 911 - evolução acima de revolução. O Zoe tornou-se um modelo popular: é atraente, fácil de conduzir, mas também tinha a vantagem de não ter concorrência direta...até agora. 


Com a atual crescente oferta de automóveis elétricos a Renault resolveu fazer uma revisão profunda para provar aos novatos que o Zoe ainda "está para as curvas" com mais autonomia, mais tecnologia e mais conforto. A pergunta é - será que conseguiram?


Exterior
O designe exterior foi refrescado, consegue perceber que é um Zoe mas com design muito mais atual e em linha com o novo Clio: novos para-choques à frente e atrás, um capot mais nervurado, o losango da Renault na grelha dianteira que esconde a tomada de carga é maior e recebe de série novos faróis LED muito mais arrojados à frente e atrás.



O perfil mantem-se, incluindo a característica linha das portas subida para reduzir a área vidrada (entra menos luz do sol, logo menos calor logo menos necessidade de ar condicionado).

Definitivamente não o vai confundir com a anterior geração 40, mas só pelo exterior ficamos com a impressão de que é apenas um restyling quando é muito mais que isso - algo que começa a ser evidente assim que passamos ao interior.


Interior 
No interior temos um habitáculo moderno, leve, com cores mais claras e com materiais de melhor qualidade e mais agradáveis ao toque. O tablier é novo com um conjunto de instrumentos digital de 10 polegadas de fácil leitura que dá a informação da velocidade e autonomia bem como outras informações, incluindo mapa completo do GPS.

Esta unidade ensaiada vinha com um ecrã de 9.3 polegadas em orientação vertical para o sistema multimédia EasyLink compatível com Apple CarPlay e Android Auto com gráficos de qualidade e com bom tempo de resposta. Está ligado a internet permitindo a receção de dados de transito e outros serviços conectados. Como muitos comandos passaram para o sistema multimédia temos poucos botões espalhados pelo tablier.

O modelo que conduzi incluía câmara e sensores de estacionamento à frente e atrás, aviso de saída de faixa, faróis com passagem entre máximos e médios automático, e reconhecimento de sinais de trânsito.
Tem uma nova iluminação interior e a insonorização foi definitivamente melhorada - conduzi um dos primeiros ZOE e esta nova geração é muito melhor, ainda se ouve algum ruido de rolamento especialmente a velocidades mais altas, mas em condução normal é uma calma quase desconcertante.
Confesso que no inicio estranhei estar sentado tão alto devido à bateria que se esconde por debaixo, mas rapidamente nos habituamos e até permite uma boa visibilidade para fora - quase parece que estamos a conduzir um SUV. O assento do condutor não tem regulação vertical, mas para compensar a direção tem regulação da altura e profundidade. 

Tem 5 lugares uteis e uma mala de 340 litros o que permite transportar não só 5 passageiros como as suas bagagens. Se rebater os bancos a capacidade da mala pode atingir 1225 litros, mas não cria uma superfície completamente plana. Mesmo assim consegue ser extremamente pratico - fomos 4 graúdos à praia com toda a parafernália necessária sem qualquer problema.

Apenas os botões colocados ao lado esquerdo do condutor estão muito baixos dificultando apertar o botão certo e uma das peças do topo do tablier que ainda reflete para o para-brisas incomodando um pouco.



Condução 
A condução do novo Zoe é relaxada, Zen acima de tudo...até apertar o acelerador, mas já lá vou. A posição de condução tipo SUV é agradável e os bancos dianteiros aceitam "costas largas" como as minhas facilmente, atrás temos algum espaço, mas os bancos dianteiros com costas completas e linha de janelas alta pode ser um pouco fechado para os passageiros traseiros.
O comportamento é leve, ágil e ligeiro - infelizmente a direção continua a não dar tanta resposta como desejável, mas melhor que a geração anterior. É equilibrado e o comportamento especialmente bom em cidade, mesmo com a suspensão um pouco mais firme devido ao peso da bateria.

Gostei particularmente do toque dos travões fácil de dosear e suave. A insonorização é ótima se bem que surgem alguns ruídos aerodinâmicos a alta velocidade, a suspensão agradável e está à vontade na circulação calma da cidade ou fluida de uma estrada nacional. Uma das novidades deste ZOE é que a caixa tem um modo B que aumenta a travagem regenerativa - particularmente útil em cidade (para onde o zoe foi desenhado e continua ótimo) porque permite conduzir usando apenas o pedal do acelerador.

Apenas 2 detalhes que não gostei na condução do Zoe e ambos tem a ver com o modo Eco de condução. Primeiro se usarem o cruise control na estrada com o modo Eco ativado o sistema não mantem a velocidade em subidas mais inclinadas, recuperando assim que nivela - sei que é para poupar a bateria, mas chateia. E se transitarem entre os modos de condução normal e Eco (ou vice-versa) com o cruise-control ativado este é desativado automaticamente sem pré-aviso.

Resumindo direção leve, boa visibilidade graças à posição de condução elevada e binário que permite bater qualquer um nos semáforos. Falando nisso...


Mecânica 
O melhor desde novo Zoe está debaixo do metal, debaixo dos assentos para ser exato - uma nova bateria de 52 kWh (o anterior Zoe 40 tinha uma de 41kWh) que permite com o novo motor R135 uma autonomia WLTP de 386 km. Este novo motor debita 135 cavalos e 245 Nm de binário e isso nota-se ao acelerar: fiz um ensaio com a esposa e tive que parar rapidamente para ela poder sair e vomitar. Sim, acelera dos 0 ao vómito mais depressa do que atinge os 100km\h. Levei vários vizinhos para umas voltas com o Zoe e todos eles faziam barulhos de "criança excitada" ao acelerarem. A potência é notória e o binário instantâneo é inebriante - não é um desportivo nem o pretende ser, mas é capaz de lidar com ritmos mais acelerados do que os modelos anteriores.

O Zoe está disponível com 2 motores - o anterior e mais acessível (menos 500 euros) R110 com 110 cavalos e 225Nm de binário e o acima referido R135 com 135 cavalos e 245Nm de binário. A autonomia é basicamente a mesma, mas não a performance: o R110 demora a 11,4 segundos a atingir os 100 km\h enquanto o R135 demora apenas 9,5 segundos. 

Ambos os modelos vêm de série com uma porta de carga capaz de lidar com cargas até 22kWh, pode escolher uma tomada CCS DC para 50 kWh mas é um opcional de 950 euros - algo que só faz sentido se fizer viagens na autoestrada. Para carregar completamente a bateria de 52 kWh demora quase 9 horas na wallbox caseira (que atualmente a Renault oferece) de 7,4kW, quase 3 horas num ponto de carga de 22kW e se incluir a porta de carga CCS de 55kW consegue carga completa em 1 hora e 10 minutos. Infelizmente o cabo para carregar na tomada caseira de 220 volts 16 amperes é um opcional.


Em termos de autonomia, não consegui fazer uma volta para tentar ver o quando se conseguia espremer da bateria, mas seria uma utilização irrealista e os valores WLTP apenas dão uma base de comparação em condições iguais, mas também não necessariamente representativas da realidade. Optei por usar os dados de 2 publicações francesas que testaram vários modelos em "circuitos reais" em 3 ambientes diferentes: circular em estrada nacional, em autoestrada e em cidade.
Incluí os Volkswagen e-up e Nissan Leaf e+ apenas para comparação, mas são segmentos diferentes: o e-up é um citadino e o Leaf um compacto. Como podem ver graças a sua maior bateria o Leaf e+ consegue mais autonomia em todos os cenários logo seguido pelo Zoe que é mais barato e mais pequeno para a cidade. Mas o Zoe também é mais caro que os concorrentes mais recentes...no papel. Enquanto a concorrência acabou de chegar e está a aproveitar o facto que tem o produto mais moderno não está muito interessada em regatear, mas a Renault sabe que tem que oferecer um melhor negócio para acompanhar, o que significa que se regatear é capaz de conseguir um bom preço. E quem sabe a oferta pode ser o suficiente para ignorar algumas das rugas do Zoe.
No que diz respeito à autonomia da minha experiência com o Zoe fizemos 2 viagens à praia de 110 quilómetros em cada direção, quase tudo autoestrada com o cruise control nos 120km\h com ar condicionado e autorrádio ligado. Como podem ver no final do dia ainda dizia ter bateria para mais 89 quilómetros.


Concluindo 
Comecei este ensaio com uma pergunta - será que as atualizações profundas da Renault conseguiram manter o Zoe atual e capaz de rivalizar com a concorrência mais recente? Ainda é uma escolha válida? A resposta curta é - sim.

O Renault Zoe foi um dos pioneiros do automóvel elétrico moderno, e com concorrência mais recente é fácil descarta-lo, mas fazê-lo seria um erro. Pode ter sido dos primeiros a chegar, mas graças à continua melhoria continua polivalente, prático e com 8 anos de experiência (em baterias e motores elétricos) é também dos modelos que mais garantias dá. Basta olhar para quanto tempo a Volkswagen demorou a começar as entregas do iD3... Passou da 1ª geração que era basicamente um 2º carro para a cidade para nesta nova geração com mais bateria e equipamento ser um automóvel com o qual pode viver - ele ainda tem muita vida para dar. Se está a pensar em adquirir um elétrico dê uma volta num Zoe - não se vai arrepender.

Costumo fazer outra pergunta quando testo um automóvel - se fosse o meu dinheiro comprava este Zoe? Bem, como a filha mais velha faz 16 anos em janeiro vou ficar sem o Twizy o que significa que terei de o substituir. Este Zoe ao preço certo seria bom, mas como faço poucos quilómetros em cidade e seria um segundo carro fiquei curioso para o novo Twingo elétrico que deve chegar no final do ano.

Pontos positivos:
  • condução relaxante
  • bem equipado
  • mais autonomia
  • melhores acabamentos e insonorização
  • bom comportamento
  • aceleração viciante
  • equilíbrio travagem


Pontos negativos:
  • design exterior
  • interior espartano 
  • carregamento rápido apenas até 50 kW
  • podia ser mais espaçoso
  • pouco à vontade na auto-estrada

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