Fiat larga Renault no altar

Como já tinha partilhado antes a Fiat olhou para as condições do acordo pré-marital com a Renault e disse "que se lixe, a vida é curta demais" - yup, cancelem as flores e o catering porque parece que a união entre Renault e FCA não vai acontecer (para já pelo menos). Pena, da noite de núpcias deste casamento sairia o 3º maior construtor automóvel do mundo...ok, eu paro com as metáforas!
A reunião dos diretores da Renault (incluindo o Chairman Renault Jean-Dominique Senard), FCA (incluindo o Chairman da Fiat Chrysler John Elkann) e representantes do governo francês (liderados pelo ministro das finanças Bruno Le Maire) em que foi analisada a proposta da Fiat durou até longas horas de quarta-feira. Quando foi a votação final os representantes da Nissan abstiveram-se (como já tinham avisado que iriam fazer, apesar do governo francês ter pressionado para os japoneses votarem a favor), o sindicato CGT votou contra e todos os diretores votaram a favor. Quando foi a vez dos representantes do governo francês votarem insistiram que a votação fosse adiada.

Eles queriam adiar a votação para conversar com os parceiros japoneses em Tóquio depois da reunião do G20 e votar na terça-feira seguinte. O CEO da Renault Senard pediu o adiamento à Fiat Chrysler, mas esta simplesmente levantou-se e foi-se embora.

Segundo os franceses a Fiat Chrysler estava a tentar fechar o acordo rapidamente demais e a oposição da Nissan (não votaram a favor) levantou dúvidas se os japoneses ficariam na aliança se a fusão entre Renault e FCA fosse para a frente. Segundo o governo francês só 3 das suas 4 condições para votar a favor da união foram atingidas:
- respeitar atual aliança com a Nissan;
- manter os empregos em França;
- formar um estrutura de governância equilibrada entre a Renault e Fiat;
- garantir que a nova empresa desenvolva baterias para automóveis com os alemães;
Sem o apoio da Nissan não era possível votar na proposta. O CEO da Nissan Hiroto Saikawa já tinha dito que se iria abster já que a fusão proposta iria alterar significativamente a estrutura da Renault e que seria fundamental rever a relação entre a Nissan e Renault.

A Fiat Chrysler (em boa tradição italiana), não esteve com meias medidas e acusou o governo francês de descarrilar o acordo com exigências impossíveis - citando pessoas com conhecimento no tema, o governo francês queria mais controlo sobre a nova empresa que o atual sobre a Renault e os Agnelli não gostaram da ideia. Assim que se apercebeu que era uma questão politica retirou a FCA proposta.

Bruno Le Maire disse que o governo francês está aberto a fusões com a Renault mas desde que os interesses industriais franceses estejam protegidos, e que neste caso a atual aliança com a Nissan seja respeitada.


Quem é o maior perdedor?
É possível que este acordo seja salvo, que esta saída da FCA seja apenas showmanship, mas a ficar por aqui todos perdem - torna-se num exercício de determinar qual é o maior perdedor.

A FCA perdeu um parceiro para partilha de plataformas, mercados e electrificação em que a FCA está muito muito atrasada. A Renault fica sem acesso ao mercado norte-americano e as lucrativas Jeep e RAM, confinada no mercado europeu estagnado e continua amarrada à Nissan numa aliança desconfortável, que depois do CEO da Nissan Hiroto Saikawa ter recusado a proposta de fusão do chairman da Renault Jean-Dominique Senard (semelhante ao que a FCA propôs à Renault) parece também estar em espiral graças a politiquices de ver a um concurso de quem tem o maior pénis.

Para mim o maior perdedor em tudo isto é o governo de Macron - chegou ao governo prometendo menos intromissão do governo no mercado e acabou com as suas exigências de garantias e concessões por assustar a FCA colocando a Renault sem parceiros: a Mercedes está de saída, a Nissan está melhor que a Renault e não quer fusão e a FCA acabou de puxar o tapete ao fim de 10 dias depois do anuncio. Segundo a Reuters, o governo francês tentou trazer a FCA de volta à mesa mas até agora recusaram.

Quem é que vai querer trabalhar com a Renault quando o governo local pode entrar em cena e estragar tudo?


Algum vencedor?
Creio que a Nissan jogou de forma inteligente e saiu por cima - não estava a ser considerada, não teria voto na gestão da nova entidade por ter a menor participação acionista na Renault que seria ainda mais diluída mas como uma grande quantidade das tecnologias que a Renault tem actualmente são também propriedade da Nissan jogou inteligente abstendo-se e deixou o negócio cair o negócio FCA-Renault fortalecendo a sua posição. 

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