Consumos de combustivel irrealistas

Quem segue o mundo automóvel já deve ter visto noticias como estas - nos EUA marcas são processados por clientes que se sentem enganados pelos números de consumos anunciados (exemplo: Ford vs proprietários dos C-Max hibridos ).
 
Já tivemos vários comentários e discussões sobre a diferença entre os consumos de combustível anunciados (aqueles que as marcas indicam nos anúncios) e os que temos na realidade, e creio que nunca escrevi especificamente só sobre esse tema. Antes de mais creio que é importante dizer que o problema não são os automóveis, eles estão mais económicos e menos poluentes que no passado. Então porque é que hoje em dia, a diferença é maior entre números oficiais e reais?
 
 
De onde vêem estes consumos fantásticos?
Estes "consumos" são determinados por laboratórios específicos que pegam nos modelos fornecidos pelas marcas e submetem-nos ao New European Driving Cycle ou NEDC. E são estes resultados que são então utilizados na publicidade. Se pensa que é feito na estrada esqueça - este teste demora pouco mais de 20 minutos, é efectuado num laboratório climatizado (mantido entre os 20 a 30ºC) fechado numa plataforma onde o automóvel "percorre" 11 quilómetros onde chega a atingir 120 km\h mas por pouco tempo.
 
A verdade é que o New European Driving Cycle (NEDC) é como os testes do Euro-NCAP: não nos diz o quanto o automóvel é seguro na vida real, apenas indica que um automóvel é mais seguro que outro, mas no caso do NEDC apenas indica (que nas mesmas condições) um automóvel é mais económico que outro. Não foi feito para prever consumos na vida real - nunca foi o objectivo.
 
 
Porque é que antes os números até batiam certo?
A diferença é maior hoje que no passado porque antes quase todos os motores eram atmosféricos enquanto que hoje quase todos são turbo-comprimidos - é que durante a maior parte do NEDC estes motores turbo-comprimidos modernos não usam o turbo resultando em consumos extremamente baixos e pouco realistas.
 
Além disso, devido às pressões ambientais e competição, os construtores automóveis cada vez mais "jogam o jogo" a seu favor recorrendo a todo o género de truques para melhorar os resultados - truques que o método não proíbe: encher os pneus acima das especificações, tapar as ranhuras e grelhas com fita adesiva, uso de combustíveis e oléos especiais, uso de modelos com caixas de velocidades optimizadas, etc.
 
 
E porque não se muda o método?
Segundo o SAE esta em desenvolvimento um novo ciclo de homologação: o Worldwide Harmonised Light Vehciles Test Procedures ou WLTP. Mas soa a mais do mesmo excepto que será mais longo, atingem-se velocidades mais altas por mais tempo e metodologias diferentes para diferentes relações peso-potência - se bem que ao ser mais exigente será "mais realista".
 
Infelizmente este método ainda a cerca de 4 anos de se implementado e ainda esta a ser "negociado" já que tem que ser aceite por políticos e construtores. Continuará a ser uma forma de comparação em igualdade de condições, mas mais exigente logo (espera-se) mais próximo da realidade.
 
 
Então são os testes e os construtores os culpados?
Temos os construtores automóveis que tentam melhorar os números, políticos que protelam mudanças para não chatear os antes citados construtores mas também não posso deixar de citar um ultimo culpado - o seu pé de chumbo.
 
A verdade é que as pessoas conduzem muito mais depressa hoje em dia. Cresceu a cobertura de auto-estradas, melhoraram as estradas nacionais e a crescente carga de equipamentos de segurança tem levado muitos a abusar do acelerador. Eu percorri muita da A2 e A1 estas férias e uso sempre o cruise-control e seguindo a 120km\h até sou ultrapassado por camiões! E nem vou falar nas estradas nacionais. Sim, o seu automóvel gasta mais que o anunciado, mas pode reduzir consideravelmente os consumos se conduzir com mais calma e sair de casa alguns minutos mais cedo.

3 comentários:

  • Marco C. says:
    19 de agosto de 2013 às 16:23

    Quem quer poupar, tem que andar no limite da velocidade e nada de pé ao fundo. Tudo bastante soft e calmo, caso contrário fica bem longe dos consumos.
    E não acreditem no computador a bordo, é para enganar o pobre :)
    Uma vez testei, fiz os cálculos e tinha média de 8.6 (gastei um depósito sempre abrir numa viatura 1.6hdi), fui ver no computador e estava 6.4. Fora disso o normal é estar 6.1-6.2

  • Turbo-lento says:
    20 de agosto de 2013 às 19:50

    Reaprendi algo de interessante com o Twizy - não é a velocidade que interessa mais mas sim como lá chegamos. Como aquilo tem um indicador de consumo era uma questão de dosear a aceleração até chegar a velocidade que pretendia e chegava lá consumindo menos energia.

    E a importancia de manter o movimento - é no parar e arranca que se gasta mais.

  • Marco C. says:
    21 de agosto de 2013 às 13:13

    "é no parar e arranca que se gasta mais" Sem dúvida, mas não digas isso aos tugas, senão parar nas passadeiras por vezes já é o que é, então assim ninguém pára nas passadeiras, sinais, etc... lol