Auto-estradas não, eu gosto de conduzir...

Sabiam que durante os seus pouco mais de 125 anos de vida o automovel matou mais pessoas que todas as guerras juntas? Aquilo que se aprende a ler as revistas nas salas de espera dos dentistas. Mas parece que a Toyota Portuguesa leu esta mesma revista porque quando resolveram fazer a apresentação do Toyota GT86 alugaram o circuito do Algarve - perigoso demais deixar-nos na estrada aberta com tamanha máquina. Foram extremamente atenciosos e disponibilizaram um autocarro para nos transportar a todos até ao que acho ser um dos autodromos mais espectaculares que já visitei e proporcionou um dia que todos deviam ter uma vez por mês...pelo menos!

E já no regresso, em plena A2 e enquanto conversava com o meu novo amigo dos Toyotistas, cheguei à estranha conclusão que naquele momento preferia estar neste autocarro ou até num comboio do que num automovel, mesmo sendo o GT86!

Odeio recorrer a chavões, mas todos conhecemos aquele do "a vida é uma viagem" - mas é verdade e devemos aproveitar ao máximo a viagem antes de chegar ao destino final que nos espera a todos.

Mas a auto-estrada é talvez o pior sitio para viajar. Afinal o que é pedido ao condutor ou o que pode a auto-estrada dar? Quase nada, especialmente se ao volante do Lexus que também conduzi no Algarve que entre a enorme lista de equipamento tinha cruise-control adaptativo (menina bonita não faz parte dos opcionais) e um sistema que assegurava que não adormecessemos ao volante.

No autocarro podia mudar de conversa apenas mudando de assento, ler um livro, tirar uma soneca, exercitar, etc - na auto-estrada o autocarro, ou o comboio fazem mais sentido. É estranho que tendo conduzido um dos (raros hoje em dia) automoveis mais divertidos, regresso pela via mais imprópria para o mesmo. O Toyota GT86 devia vir com uma nota no manual - "Aviso: não conduzir na Auto-estrada, risco de aborrecer o automóvel!"

De onde vêm este fascínio e necessidade pela condução? É que na Europa quase todas as estradas começaram como pequenos trilhos de pastores e rebanhos, e com o tempo pessoas fixaram-se em torno destes caminhos. Caminhos que receberam alguma pedra quando os Romanos andaram por aqui, e se aguentarem o teste do tempo acabaram por receber alcatrão. A menos que seja em Lisboa...

E tal como a teoria da evolução de Darwin, as estradas mantiveram detalhes dos primordios da civilização, pormenores como ultrapassar montes e montanhas, ou evitar uma zonas de terrenos mais instaveis - todos estes pequenos pormenores ficaram na estrada moderna e isso torna-as interessantes.

Conheço uma estrada junto a onde moro que tem 2 curvas seguidas que posso melhor descrever como 2 curvas Karrosel (do Nurburgring) em ponto pequeno mas uma para cada lado. Começamos inclinados para a direita e a meio vira para a esquerda com um desnivel de vários métros pelo meio - é demais e passei tardes a subir e descer aquele troço de estrada. Numa auto-estrada teriam cortado pelo meio, mas a historia criou algo simplesmente...delicioso!

A auto-estrada provavelmente explica porque que os americanos nunca souberam fazer um automovel capaz de se comportar como deve ser.

Na Europa os construtores europeus tiveram, desde o 1º dia, que aprender a desenvolver chassis, suspensões, direções capazes de lidar com todo o tipo de estradas e pavimentos - são as estradas que desenham o automovel. Por isso é que os automoveis europeus serão sempre melhor que os Americanos.

Daí a minha decisão de largar as auto-estradas - vou ter que acordar mais cedo e passar mais tempo na estrada, mas troco as sandes embaladas à vácuo por um leitão da bairrada ou uma cerveja de lata em copo de plástico por um fino Super-bock em copo refrigerado logo ali à saida em Espinho. E quem sabe, se juntar o dinheiro das portagens talvez possa comprar o carro certo para estas viagens, como o Toyota GT86.