Uma “Passion” de fim de semana


A primeira vez que vi um 207 Passion foi em algum blog de alguma revista. Logo imaginei uma finalidade para o espaço vazio entre as lanternas traseiras e o recorte das portas. Ali há espaço para colar alguns anúncios e bancar o combustível. Mas depois de passar alguns dias com o carro, reconsiderei muitas opiniões sobre essa “petite gambiarre”.

Primeiro que ele não é tão feio quanto nas fotos. Pra dizer a verdade, o que estraga o visual são as rodinhas pequenas com os pneus finos (mais tarde vamos ver que o problema não é apenas estético). Entrando no carro, você tem um deja vu – “já estive aqui antes”. É por que a parte de cima do painel usa o plástico duro com o padrão do Fit antigo (imitando couro, com furinhos) e a parte de baixo dele continua a mesma do 206 mas sem o buraco pra colocar o celular, que ficava à esquerda do volante.

O painel de instrumentos ficou com a aparência mais simples, as lentes do conta-giros e do velocimetro são de um plástico mais resistente porém meio ondulado, como as telas de celulares baratos. Cheguei a pensar que era um plástico de proteção. Não era.

O aspecto dos grafismos lembra os Renault, mudaram a fonte tipográfica dos números. Mais ao lado, os novos difusores de ar: são baratos e mal encaixados, por isso deixam o painel meio feio. O buraco do airbag tem uma tampa fixa, que não serve para guardar nada e o porta-luvas perdeu o revestimento de tecido na tampa. Agora também há um porta-objetos sobre a tampa do porta-luvas, abaixo da abertura do airbag. Serve pra guardar celular e canetas do passageiro, porque é longe demais do motorista. A manopla do câmbio é de borracha imitando um acabamento de couro com costura. Essa imitação da costura tinha rebarbas que me deixavam maluco toda vez que eu engatava as marchas pares.

Os bancos seguem aquele padrão esquisito que a Peugeot adotou na década de 80, tecido fino com um tipo de “canudinho” nas bordas e vinil nas laterais e na parte de trás do encosto, não é ruim mas a aparência é péssima.

Os ajustes pro motoristas continuam bons, dá pra encontrar a posição ideal pois todas as versões têm ajuste de altura. Mas uma criança do banco de trás pode puxar ou bater o pé na alavanca que ajusta o encosto e fazer você cair para trás, perder o controle do carro, cair da ponte e morrer afogado junto com toda a sua família.

Usei o carro em várias situações: cidade, rodovia, cheio e vazio. Na mais crítica, o porta-malas estava com capacidade máxima e havia 4 passageiros adultos.

O ângulo das portas da frente é pra gente jovem e flexível. As de trás são para crianças. Na frente, a senhora idosa com prótese na perna levou 16 horas para conseguir entrar.

Uma vez dentro do carro, vamos ver como ele anda. Vazio ele anda bem. O motor grita mais do que anda e começo a achar que isso é um mal dos 1.4. Foi assim com o Corsa, com o Punto, com o C3 e agora com o 207. Mas ele não anda pouco, o problema é que ele grita muito. E nem é por causa de giro elevado. É mais pelo isolamento acústico. A embreagem é macia mas é bem alta, apesar disso, ele arranca fácil e as marchas são suaves e fáceis de encontrar. Melhor que o câmbio do 1.6 16v.

E cheio? Como ele anda? Surpreendentemente bem! Com 5 adultos e o porta-malas abarrotado ele venceu as absurdas ladeiras da cidade sem esforço. Com algum embalo subi uma delas em terceira marcha e fiquei espantado com a capacidade do motor. Não precisaria dizer que em rodovia, embalado, basta reduzir uma marcha para fazer uma ultrapassagem segura.

Andando em paralelepípedos notei que os pneus estreitos deixam o carro instável em velocidades acima de 50km/h. Acho que o Passion merecia umas rodas de 15 polegadas com pneus 195/65. Contribuiria muito com o visual do carro – e não escrevo isso porque gosto de rodas grandes, escrevo pensando na harmonia da traseira do carro.

Outro ponto fraco do carro são os freios, não porque o carro estava carregado, usei ele também vazio e levei alguns sustos no primeiro contato.

Em resumo o carrinho é bem razoável. Melhor dizendo, é um produto satisfatório: a direção é boa, a posição de dirigir é boa e o desempenho é bom. Mas podia ser melhor. Por quê?

Porque a Peugeot tem umas coisas que eu não entendo. Uma delas é aquele pseudocomputador de bordo no topo do painel. No Passion basicão, ele só serve pra dizer qual porta está aberta e pra marcar data e hora. Acho totalmente desnecessário, um relógio no painel seria mais barato. E o aviso de portas abertas poderia ser feito por luzes-espia, que são muito mais eficazes. Luzes-espia ficam acesas lá no painel, gritando pra você que algo está errado. Nos Peugeot, é uma mensagem enorme que “circula” no pequeno display. Até você ler tudo para saber o que está acontecendo, um ônibus já arrancou a porta e o braço da sua filha de 10 anos.

Talvez economizando nisso, poderiam colocar uns difusores de ar melhores ou até arrumar um lugar menos inconveniente para a trava central e para os controles dos vidros dianteiros. No 206 a trava central estava perfeitamente localizada no topo do painel, ao lado do pisca-alerta. Agora ela foi parar atrás da alavanca do freio de estacionamento. Não satisfeita com a inconveniente posição dos interruptores dos vidros elétricos, a marca resolveu colocar a trava ali no meio também, onde qualquer criança do banco de trás pode apertar a luzinha vermelha quando for pegar o pacote de bolachas que está apoiado no porta-objetos do final do console. Aí um sequestrador abre a porta, leva sua filha e você precisa vender o 207 Passion pra pagar o resgate.

O 207 Passion XR custa 39.990 reais (14.200 euros) e vem de série relativamente bem equipado, faltando apenas os airbags e ABS.



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