[update]Construtores vencem, nós perdemos

Mais uma vez temos uma noticia de políticos sem espinha: ontem o PS, Bloco de Esquerda e Partido Comunista, hoje é o parlamento europeu que vem ceder à pressão dos construtores automóveis (via os governos dos países com maior industria automóvel) fazendo aprovar os planos diluídos para controlo de emissões automóveis que já aqui cobrimos.
Assim sendo, apesar de todos os pedidos para reformas radicais no seguimento do escândalo da Volkswagen e das conclusões que os processos de homologação automóveis europeus são uma anedota, basicamente é "business as usual"

A comissão ambiental do Parlamento Europeu tinha dado a recomendação de veto à proposta da comissão e a primeira votação foi adiada porque era previsível que não iria passar. Foi agora a votos e recomendação de veto só conseguiu 317 votos contra 323 votos.

O parlamento europeu deixa assim passar a proposta da comissão europeia (apoiada pelos construtores automóveis e principais governos) que permite que as emissões de óxidos de azoto automóveis ultrapassem em 110% o valor regulamentar entre Setembro de 2017 e Janeiro 2020, e apartir daí podem ultrapassar o valor regulamentar em 50%.

Claro o lobby da industria automóvel veio logo dizer que o exigido era demais para os motores diesel actuais e que poderia ameaçar a tecnologia e emprego. Curioso que durante estes anos todos estiveram a aproveitar todos as falhas na legislação e metodologia de teste para não terem que melhorar e agora vêm queixar-se que não conseguem cumprir limites estabelecidos e pedir que não sejamos maus com eles...

Seja qual for o ponto de vista, as normas de emissão Euro6 foram diluídas: durante este período de 4 anos as emissões de óxidos de azoto podem ir até 168mg/km quando a norma Euro6 estipula que devem ser de 80mg/km - para referencia o Euro5 era de 180 mg/km. Ou seja, o parlamento europeu definiu os limites de emissões e depois criou regras para que os construtores não tenham que as cumprir.

Numa tentativa de apaziguar, a comissária da industria Elzbieta Bienkowska disse que iria haver uma revisão desta tolerância e imposição do limite legal (sem tolerâncias) antes de 2023 - relembremos que esta senhora também disse logo quando o dieselgate explodiu que iriam implementar regras e processos mais exigentes nas emissões automóveis portanto eu vou esperar sentado para que esta senhora cumpra o que diz...

Está mais que provado a ligação entre as emissões de óxidos de azoto dos motores diesel com doenças pulmonares e mortes prematuras mas face a provas cientificas e médicas escolheram proteger os construtores automóveis.

E ao escrever isto colocou-se a pergunta: como votaram os nossos parlamentares nesta questão? Será que votaram a pensar na nossa saúde ou simplesmente não quiseram saber? E com alguma pesquisa descobri e eis a lista dos parlamentares portugueses que ou não votaram, abstiveram-se ou votaram contra o veto.
Não apareceu/votou
Inês Cristina Zuber Partido Comunista
Paulo RANGEL PSD

Abstenções (contra vontade do grupo que integram)
Ricardo SERRÃO SANTOS PS (ver comentários)
Carlos COELHO PSD

Contra
José Manuel FERNANDES PSD josemanuel.fernandes@europarl.europa.eu
Cláudia MONTEIRO DE AGUIAR PSD claudia.monteirodeaguiar@europarl.europa.eu

Mas resolvi fazer algo acerca disso - como podem ver nos nomes que votaram contra a objeção estão os emails no Parlamento Europeu destes senhores e senhoras, e resolvi escrever-lhes com o que penso deste seu voto:

"Bom-dia
É com grande descontentamento que leio que votou contra a objeção à proposta da Comissão Europeia de diluir as regras de controlo de emissões automóveis, em particular para as emissões de óxido de azoto nos motores diesel.

Entre os construtores automóveis e a saúde dos cidadãos que diz representar escolheu, de livre vontade, votar contra a proteção da saúde dos cidadãos. Está mais que provado a ligação entre as emissões de óxidos de azoto dos motores diesel com doenças pulmonares e mortes prematuras e estava em posição de poder fazer algo acerca disso.

Não escrevo na tentativa de mudar a sua opinião ou de o fazer sentir culpado (sei que para ser político é preciso ausência, total ou quase, de valores morais e sentimentos para com o próximo) - apenas relembrar-lhe que da próxima vez que ouvir falar de pessoas com asma, cancro do pulmão ou outras doenças respiratórias tem a sua quota parte de culpa.

Atentamente
4Rodas1Volante"

Duvido que venha a ter alguma resposta mas posso sempre sugerir que se estiver de acordo com o escrevi acima, faça copy-paste dos emails e da mensagem e envie-a.

3 comentários:

  • CRA says:
    7 de fevereiro de 2016 às 00:51

    Isto faz-me lembrar alguma coisa...já sei os partidos politícos são todos controlados e pagos pelas empresas e grupos económicos?

  • Gabinete do Eurodeputado Ricardo Serrão Santos says:
    12 de fevereiro de 2016 às 11:11

    A menção feita ao eurodeputado Ricardo Serrão Santos não está correcta visto que, de imediato, o deputado corrigiu o seu voto, tendo votado a favor da objecção (ver página 29 da acta de votos). Ou seja, o deputado votou no mesmo sentido que todos os deputados do Partido Socialista, mas, infelizmente, não foram suficientes para alterar o sentido final da votação.

    Gabinete do Eurodeputado Ricardo Serrão Santos

    Acta de votos em: http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-%2f%2fEP%2f%2fNONSGML%2bPV%2b20160203%2bRES-RCV%2bDOC%2bPDF%2bV0%2f%2fPT&language=PT

  • Turbo-lento says:
    13 de fevereiro de 2016 às 17:57

    Tendo verificado que assim era, risco o nome do EuroDeputado Ricardo Serrão Santos do artigo e congratulo-o de ter feito a escolha certa. Pode não ter sido o suficiente para evitar o resultado final, mas sabe bem saber que se esteve do lado certo.