Turbo-lento vê a luz nas 2 rodas

Não faço segredo do que penso sobre as motos - não muito. Afinal, não são tão rápidas como dizem, são perigosas e os fatos de cabedal parecem tirados de um filme de S&M. Mas tenho novas - algo mudou.

Durante uma viagem de trabalho pela A1 senti-me algo aborrecido, cansado e apertado tendo decidido parar na área de serviço de Pombal para um café e um xixi (a 1ª vez que esta palavra é usada neste blog).

Com o café na mão sentei-me a porta da loja da Galp a mirar uma linda Ducati 996 em preto a reluzir com o sol da tarde.

E assim fiquei até ouvir uma voz feminina dizer "Te Gusta?" Acordei sobressaltado da hipnose para encontrar atrás de mim uma jovem galega de longo de cabelo louro, olhos azuis e um fato de cabedal vermelho justo. Diga-mos apenas que se pensamentos contam como pecado, fui logo para o inferno!

Conseguindo tirar o pé da boca, consegui manter uma conversa (em Portenhol) com a bela jovem e a sua equipa. Eram um grupo de 25 motociclistas que vinham da Galiza a caminho de Lisboa. E sim, fui sincero sobre não apreciar motas - curiosamente ninguém fez menção de me agredir mas falamos/discutimos durante 20 minutos.
Infelizmente tive partir - meti-me no anémico Clio de aluguer e parti direcção a casa. Comecei a fazer a subida para Leiria e ia ainda na faixa central quando me vi repentinamente rodeado por motas por todos os lados! Tinha motas à frente, à esquerda, à direita e atrás! Não tinha tecto de abrir mas pelo barulho juro que devia ter pelo menos uma no tejadilho! Estava cercado.
Estava completamente aterrado - não sabia o que se passava ou que fazer...até olhar pela direita e reconhecer o fato vermelho numa Ducati preta e juro que por 1 segundo consegui ver um par de olhos azuis por detrás da viseira. E nesse segundo, nesse momento, as motas fizeram sentido.


Neste mundo acolchoado dominado pelo pessoal da higiene e segurança,o motociclista é o equivalente ao cavaleiro que parte em conquista com o seu cavalo e lança ou soldado num desembarque a uma praia. talvez sejam o ultimo reduto do espirito aventureiro e desafiador humano.
Frequentemente cito que conduzir um veiculo (seja automóvel ou mota) depende das leis da física e do quanto sabemos explorar-las sem as ultrapassar. Mas enquanto num automóvel somos apenas passageiros dessas leis da física, numa mota somos parte integrante - uma parte activa de como a maquina se comporta e cada movimento do corpo contribui para o equilíbrio (ou desiquilibrio) e performance.

Os doentes dos automóveis (eu incluído) recordam as múltiplas experiências em que se provou que as motas não são assim tão rápidas como os automóveis - sejamos sinceros, as motas podem parecer muito excitantes nas curvas mas não se dão muito bem com elas. E o mundo real esta cheio de curvas.

Mas sejamos igualmente sinceros relativamente à principal razão porque a maioria das pessoas não andam de mota - porque em criança a nossa mãe não nos deixava ter uma! E ao ver alguém a abrir com um Porsche ou Ferrari pela estrada fora, não posso deixar de pensar - a mãe dele ainda não deixa o ter uma mota.

Mas isso significa que mudei? Não - citando Jeremy Clarkson na sua epica viagem de mota através do Vietnam:

"No dia que um dos meus filhos traga uma mota para casa vou compreender...mas vou pegar-lhe fogo na mesma!"

5 comentários:

  • Nelson Cruz says:
    2 de setembro de 2010 às 20:03

    Eh pá... Muito bom artigo. Mesmo!

    Contaste esta história da galega à Sra. Turbo-lento? Não ficaste a dormir no sofá? :)

  • Turbo-lento says:
    2 de setembro de 2010 às 23:24

    Aconteceu como contei, e sim contei à minha cara-metade...curiosamente ela só acreditou que algo tinha mesmo acontecido quando lhe disse que já percebia as motas. Algo que ela nunca esperava ouvir da minha boca

  • Herege says:
    4 de setembro de 2010 às 14:37

    Nunca é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos, neste caso em relação as motOs.
    Não é a moto nem o carro que faz o condutor, mas precisamente ao contrário.
    Fico satisfeito, não por mim seja claro, mas por alguem que mostrou contrição. De qualquer modo é sempre bom, constar que os seres humanos continuam a evoluir.
    Fez-se luz.

  • danisousa says:
    27 de setembro de 2010 às 18:46

    Parabéns pelo artigo, mas parabéns pela mudança de mentalidade. As motos não são mais perigosas que os carros, as pessoas isso sim, são as responsáveis pelo que fazem e não fazem, pelos seus comportamentos e atitudes.

  • Turbo-lento says:
    6 de janeiro de 2012 às 12:00

    Ou como um sábio uma vez disse: "Armas nunca mataram ninguem, pessoas sim".