Tesla-files - o que a Tesla esconde

O jornal alemão Handelsblatt recebeu de vários informadores internos mais de 100 gigabytes de dados internos da Tesla e está a publicar em partes os resultados da analise desses dados. São más noticias para a Tesla de qualquer ponta que se pegue … excepto claro para os membros do culto de Musk que pelos comentários na publicação do jornal alemão comentam desde ser falso a não ser nada de novo. Leiam e julguem por vós - como irá ser publicado em partes irei atualizando assim que novas publicações forem feitas.

Introdução
Antes de mais é importante dizer que o Handelsblatt recebeu os dados de informadores (aparentemente houveram vários) no final de 2022 e pediu ao "Fraunhofer Institute for Secure Information Technology" para avaliar a sua autenticidade. Esta organização não encontrou provas de manipulação ou falsificação nos ficheiros. Desde então editores na Alemanha, Japão e Estados Unidos participaram da avaliação dos dados.



Resposta da Tesla
Como seria de esperar a Tesla não respondeu a nenhuma questão especificado do Handelsblatt apenas dizendo que os envolvidos na fuga de informação fizeram-no em violação do acordo de não divulgação/confidencialidade que assinaram e do GDPR, e vão processar os envolvidos. 
Tendo em conta que já trabalhei com o GDPR posso dizer que a resposta da Tesla é treta - os acordos de confidencialidade são inválidos para ocultar um crime e a GDPR tem exceções para os informadores/whistleblowers. E a julgar pela reação inicial das autoridades alemãs um crime é definitivamente do que estamos a falar - mais abaixo.



Problema nº1: proteção de dados pessoais
Como disse acima vários informadores na Tesla alemã entregaram no final de 2022 mais de 100 gigabytes de dados internos da Tesla, desde procedimentos internos em como lidar com clientes a relatórios de acidentes e (certamente o que vai dar muitas dores de cabeça à Tesla) dados pessoais de clientes, funcionários e parceiros (incluindo os de Elon Musk). 

Ou seja, aparentemente a Tesla não tem qualquer procedimento/sistema interno para proteger os dados pessoais de clientes e qualquer um dentro da rede tem acesso a esses dados podendo ser usados para fraudes e roubo de identidade.

A confirmar-se que um técnico de um centro de assistência têm acesso a toda esta informação a Tesla estará em incumprimento do GDPR (General Data Protection Regulation) e pode resultar numa monumental multa. Segundo o Handelsblatt além dos dados confidenciais (de clientes, funcionários e parceiros de negócios) estão também documentos (emails, PDFs, PowerPoints, tabelas excel, fotos, vídeos, ficheiros áudio) confidenciais sobre o auto-pilot, desenvolvimento de novas baterias e sobre a Cybertruck.

Se estiver curioso em saber se os seus dados pessoais fazem parte desta fuga o Handelsblatt tem um formulário/motor de busca em que só tem que introduzir o número VIN do seu Tesla.

Os denunciantes e o Handelsblatt informaram o oficial de proteção de dados do estado de Brandemburgo. Este respondeu que a ser verdade são “sérios indícios de possíveis violações de proteção de dados. Tratam-se de dados confidenciais de funcionários que poderiam ser amplamente acessíveis dentro do grupo". "Particularmente grave do ponto de vista da proteção de dados, também pelo grande número de pessoas afetadas em todo o mundo”. A autoridade equivalente na Holanda, onde a Tesla está sediada na Europa, foi colocada ao corrente.



Problema nº 2: "o meu autopilot tentou matar-me"
O Handelsblatt não se ficou por reportar o que estava nos documentos - usando a informação que tinham contataram dezenas de clientes em diversos países. Todos eles confirmaram a informação destes ficheiros e partilharam as suas experiencias e comunicações com a Tesla.

Os Tesla-files contêm mais 2.400 queixas de aceleração espontânea e mais de 1.500 queixas por problemas de travagem (dessas 139 de falsa travagem de emergência e 383 "travagens fantasma") e mais de 1000 acidentes. Uma tabela indica mais de 3000 queixas de clientes relativamente a problemas de segurança com as assistências à condução. Para referência estas são as queixas entre 2015 e Março de 2022, período em que a Tesla vendeu 2,6 milhões de automóveis com autopilot software.

Se o Autopilot do seu Tesla estiver com problemas ou comportamento errático (aparentemente uma das queixas tinha literalmente o titulo "o meu autopilot tentou matar-me") saiba que a Tesla pelos vistos não quer saber.



Problema nº 3: ocultar, ofuscar
Do contacto com os clientes houve algo que o jornal detetou em todas as descrições das interações com a Tesla - a marca tendia a ignorar os clientes que se queixavam de falhas/problemas com o autopilot e que todas as interações eram por telefone, nunca por email ou correio. Segundo os Tesla-files esse era o procedimento oficial da marca - entre os ficheiros estavam as instruções em como interagir com os clientes.

Para cada incidente ou “technical review” registado no sistema interno os funcionários eram repetidamente recordados que era para uso interno apenas e que que qualquer informação ao cliente só pode ser dada verbalmente, nada por escrito: “Do not copy and paste the report below into an email, text message, or leave it in a voicemail to the customer” / "não copiar e colar informação num email, numa mensagem de texto ou deixar em correio de voz". E se um cliente quisesse informação do seu veiculo este pedido seria recusado pela marca e um advogado teria que ser envolvido.

Ou seja, reduzir os registos de qualquer queixa/problema e se necessário qualquer contacto com um cliente que seja feito por meios que não deixe registo ou que não possa ser registada para que não possa ser usada contra a Tesla.

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