Renault quer fusão com Nissan e aponta à FCA?!

A Renault procura nos próximos 12 meses recomeçar as conversações sobre uma fusão com a Nissan resultando num grupo automóvel capaz de rivalizar com o grupo VW e Toyota. Mas não quer ficar por aqui: se a fusão acontecer, segundo a Reuters, o próximo passo será fazer uma oferta pela FCA....que raio andam os franceses a fumar?!

Carlos Ghosn foi preso em Novembro, o julgamento ainda nem sequer começou e vai demorar, ele era o maior proponente de uma fusão que a Nissan não estava de acordo e agora não só querem recomeçar as conversas de fusão e pelo meio tentar adquirir a Fiat Chrysler Automobiles?! Esqueçam reabrir feridas recentes, isto soa mais a esfregar sal na ferida.

A aliança atual entre a Renault e Nissan sempre foi considerada um exemplo porque conseguiam ser bem sucedidos em partilhas de tecnologia e poupanças sem uma fusão oficial.
Até acredito que as relações entre Renault e Nissan tenham melhorado agora que Ghosn está fora de cena, mas os franceses recusam-se a dar à Nissan uma melhor posição na aliança e querem forçar a fusão - cheira a desespero. 

É que se olharmos para as fusões e alianças entre construtores automóveis a história não é bonita ou feliz. Eis alguns exemplos:
- Leyland Motor Corporation completa com a Jaguar, Daimler, Guy, Coventry Climax, Henry Meadows, Rover, Alvis, Standard Triumph, AEC, Morris e Wolseley para em 1994 sere vendida à BMW e em 2000 os alemães desistem vendendo a Land-Rover à Ford e a Rover aos chineses em 2005;
- Daimler-Benz e Chrysler (Daimler compra Chrysler por 36 mil milhões, em 2007 paga à Cerberus Capital Management para se ver livre da Chrysler);
- General Motors compra a Saab (1989) e Opel (1928) para serem vendidas aos chineses e grupo PSA respectivamente;
- Ford compra Mazda (anos 80), Aston Martin (1987), Jaguar (1990), Volvo (1999), Land-Rover (2000) para em 2008 vender tudo;

Mas então porque é que temos noticias de mais tentativas de aproximação e fusões? Simples - reduzir/partilhar os custos do mais recente salto de evolução da industria automóvel: a electrificação, condução autónoma e a ascensão dos serviços como car-sharing. E a solução é "escala" - quantos mais um construtor produzir menores os investimentos em tecnologias, software e fábricas, mas o investimento é tal que coloca em risco a existência de um construtor no caso de problemas.

Recentemente tivemos o grupo PSA tentou cortejar a Fiat (e a acreditar nos rumores levou nega), o grupo VW e a Ford já assinaram uma parceria e mais vêem a caminho, a Mercedes e BMW discutem automóveis eléctricos e condução autónoma, a Mercedes assinou um acordo com a Geely para a construção dos futuros Smart, a Jaguar Land Rover está em grandes sarilhos financeiros arrastando a Tata e procuram parceiros, a Renault pressiona a Nissan para o altar enquanto também cobiça a Fiat...


Será possível uma fusão entre a Renault e Nissan?
Mesmo com a alteração na direção duvido: a Renault não vai abrir mão da usa posição dominante (detém 43% da Nissan enquanto esta só detém 15% da Renault) algo que a Nissan vai exigir renegociar já é o maior valor da aliança (a Renault pouco valor tem sem a Nissan) e pelo meio fazer que o estado francês aceite perder poder sobre ambas as marcas. Fusão era o objectivo de Ghosn e  mesmo com o carisma e respeito que impunha antes de ser preso tinha forte resistência da Nissan e do seu CEO Hiroto Saikawa

A única conclusão lógica é que é do interesse da ambos Nissan e Renault manter a sua aliança de 20 anos - especialmente quando têm o CEO da Nissan, que meteu Carlos Goshn na cadeia, contra essa ideia. Uma fusão é basicamente impossível e desmonta-la muito dispendioso especialmente agora que os mercados norte-americano e chinês dão sinais de desaceleração.


A aliança Renault-Nissan-Mitsubishi precisa da FCA?
Verdade que o mercado dos SUVs e pickups nos EUA é muito lucrativo mas precisam de ficar maiores? Afinal atualmente já estão entre os 3 maiores construtores automóveis do mundo ao lado da Volkswagen e Toyota, e ambas Nissan e Mitsubishi já têm presença nos EUA.

Se as dores de cabeça já são grandes entre franceses e japoneses, imaginem com italianos e americanos ao barulho! A FCA faria mais sentido para a PSA já que esta está dependente demais da Europa. Curiosamente o maior obstáculo quer à PSA e Renault para a compra da FCA é o mesmo: o estado frances que é accionista em ambos construtores franceses e não quer diluir a sua posição.

Pelo meio há também a ascensão do populismo/nacionalismo bacoco - é que aumento de custos, encerramento de excesso de capacidade produtiva, partilha de recursos e a electrificação vão custar milhares de empregos na industria no futuro relativamente próximo.

Dá para perceber porque é que as empresas tentam estes acordos impossíveis no papel - mas concretiza-los é outra história. Citando uma regra da engenharia: "se funciona não mexe!"

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