Ponto de situação Dieselgate 02-05-2016

A semana passada foi muito preenchida em termos do dieselgate e está na hora de mais um ponto de situação neste tema. Como de costume sem tretas, conservantes ou adoçantes acrescentados.

PSA visitada pelo governo francês
O governo francês continua a sua investigação às emissões automóveis e voltou a visitar 5 instalações da Peugeot-Citroen (Saint-Ouen, Velizy, La Garenne-Colombes, Carrieres-sous-Poissy e Montbeliard) na quinta-feira passada - segundo o governo francês devido a anomalias encontradas em testes de emissões de oxídos de azoto a 3 veículos. 

A PSA diz-se surpreendida e que ira colaborar - isto é a continuação do trabalho da comissão que o governo francês montou para estudar a diferença entre as emissões em laboratório e na vida real. Curioso que a Peugeot até agora manteve-se fora destas noticias... 
E porque é que as autoridades francesas voltaram à Peugeot? Como outros governos europeus, o governo francês também testou a diferença nas emissões de CO2 e óxidos de azoto entre os resultados em laboratório e reais, neste caso em 52 automóveis de 15 marcas - e apesar de não ter encontrado de dispositivos de falsificar emissões mas encontraram grandes diferenças entre os valores de laboratório e de estrada em automóveis da Renault, Fiat Chrysler, Mercedes, Volkswagen, Nissan, Opel, Ford e claro PSA Peugeot Citroen.


Daimler\Mercedes investiga "possível irregularidade"
A pedido do Departamento de Justiça americano a Mercedes iniciou uma investigação interna a uma possível anomalia no processo interno de certificação de emissões. Quer a Mercedes ou departamento de justiça americano não dizem grande coisa mas provavelmente é devido ao processo legal de uma empresa de advogados que afirma que os motores diesel BlueTec terem um dispositivo semelhante aos dos motores Volkswagen que desliga o tratamento de emissões abaixo de uma determinada temperatura poluindo acima dos limites legais. 
Esta acusação e investigação poderá ser baseada numa outra acusação feita à Mercedes na Europa - que o construtor alemão usa um "dispositivo auxiliar de controlo de emissões (auxiliary emission control devices ou AECD) para melhorar consumos/emissões mas estes dispositivos são legais para fins de proteção e gestão do motor mas têm de ser declarados durante a homologação. 
A Mercedes recusa a acusação e diz que a investigação não irá encontrar nada - o que é o que provavelmente vai acontecer: a Volkswagen falseou os resultados de emissões porque queria continuar a usar o sistema mais barato e menos eficaz de captura de emissões, mas os Mercedes BlueTec já usam o sistema mais dispendioso com injeção de adblue portanto não tem grande coisa a ganhar em falsear as emissões.


Mitsubishi continua a dar
Os americanos estão a investigar a Mitsubishi e uma fonte na NHTSA a dizer que há mais um modelo com consumos/emissões falseadas e outros sob suspeita. Até agora eram apenas K-cars do mercado japonês, mas pelos vistos a autonomia do i-MiEV (que já não é grande coisa) pode ser otimista demais e o jornal japones Sankei diz que o construtor terá usado a "mesma metodologia" nos RVR, Outlander e Pajero. 

O ministério de transportes japonês deu uma semana ao construtor para entregar todos os dados relativos aos seus automóveis e a NHTSA fez igual pedido para os veículos que entraram no mercado norte-americano. O CEO da Mitsubishi admitiu que desde 1991 que a marca japonesa anda a falsear os resultados dos consumos, além do admitir que podem existir mais modelos afectados - a Mitsubishi diz que não sabe ainda quais. A marca japonesa criou um painel constituído por 3 ex-promotores públicos para investigar a questão, incluindo a forma como compensar os clientes. 

O governo japonês criou um grupo que ira estudar formas de impedir que este tipo de manipulação volte a acontecer. A Mitsubishi já comunicou à EPA (Environmental Protection Agency) que os consumos e emissões dos modelos à venda no mercado americano estão conforme a legislação em vigor. Autoridades europeia esperam resposta da marca japonesa, mas parece que o problema está cingido ao mercado japonês - por agora pelo menos.


Mercedes, Opel, Porsche e VW recolhem 630.000 automóveis diesel
A Audi, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen aceitaram recolher 630.000 automóveis diesel na Alemanha depois da investigação do governo ter detetado algumas irregularidades com as emissões - ao avaliar as emissões em "testes em mundo real" o governo alemão detetou valores de óxidos de azoto que considerou excessivos particularmente porque os sistemas de controlo de emissões só trabalhavam a certas temperaturas. Há mais construtores automóveis com irregularidades mas ainda não anunciaram se vão tomar medidas. A Audi e Opel anunciaram que vão aplicar as correções em todos os automóveis afetados na Europa. 
Automóveis com emissões excessivas segundo o governo alemão:
Alfa Romeo Giulietta 2.0l
Audi A6 V6 3.0l
Chevrolet Cruze 2.0l
Dacia Sandero 1.5l
Fiat Ducato 3.0l
Ford C-Max 1.5l
Ford C-Max 2.0l
Hyundai ix35 2.0l
Hyundai i20 1.1l
Jaguar XE 2.0l
Jeep Cherokee 2.0l
Land Rover Range Rover 3.0l
Mercedes-Benz V250 Bluetec 2.0l
Nissan Navara 2.5l
Opel Insignia 2.0l
Opel Zafira 1.6l
Porsche Macan 3.0l V6
Renault Kadjar 1.5l
Renault Kadjar 1.6l
Suzuki Vitara 1.6l
Volkswagen Amarok 2.0l
Volkswagen Crafter 2.0l

Os seguintes automóveis estão a ser recolhidos na Alemanha:
Audi Q5 (22.000 unidades)
Audi A6 (29.000 unidades)
Audi A8 (15.000 unidades)
Opel Zafira (58.000 unidades)
Opel Insignia (31.000 unidades)
Opel Cascada (1000 unidades)
Mercedes Classe A e B (211.000 unidades)
Mercedes Classe V (36.000 unidades)
Porsche Macan (32,000 unidades)
VW Amarok (70.000 unidades)
VW Crafter (124.000 unidades)

Segundo a Reuters estes automóveis abusam de uma clausula na legislação que permite a alteração dos sistemas de emissões para evitar o enferrujar dos catalisadores chamada “thermal window”. Ou seja, tecnicamente estes automóveis poluem demais mas não é "totalmente" ilegal. Giro, não? 
Esta "thermal window" permite que os construtores automóveis desliguem a baixas temperaturas o tratamento de emissões para que os catalisadores acumulem condensação e enferrujem. Parece que pelos vistos os construtores estão a abusar do conceito de baixas temperaturas - um construtor estava a desligar o catalisador a 18º centígrados. 
Segundo a Reuters esta recolha é forma de pressionar os construtores a reduzirem o intervalo de temperaturas em que desligam o tratamento de emissões - qual será o efeito nos consumos ou longevidade dos catalisadores ninguém sabe aparentemente. 

O governo britânico chegou a semelhantes conclusões (que as emissões de automóveis diesel excedem os limites legais quando na estrada real) mas nunca chegou a ordenar a reparação. Ao ver a reação dos construtores alemães lá decidiram que vão pressionar para que as mesmas reparações cheguem também ao mercado britânico...espero que se lembrem dos restantes países da Europa. 
Quando o dieselgate rebentou o Departamento de Transportes britânico testaram 37 modelos diesel (18 automóveis Euro 5 e 19 mais recentes Euro 6) de 20 marcas diferentes (do Citroen C4 ao Range Rover Sport) e apesar de todos os veículos estarem conforme a legislação em vigor, notou-se uma grande diferença entre os valores em laboratório e os na estrada real - se olhássemos apenas para os valores em estrada nenhum estaria conforme os limites legais. 

Para terem uma ideia, e citando o estudo britânico, nos Euro5 o pior de todos foi o Opel Insignia que no teste de estrada produzia 1,881 mg de Nox por quilometro quando o limite legal era de 180 mg/km no Euro5. Nos Euro 6, em que o limite para as emissões de NOx é de apenas 80 mg/km, o Peugeot 3008 atingiu no teste de estrada 1,104 mg/km.  

Falando no resto da Europa, a Opel já tinha iniciado um programa de melhorar as emissões de óxidos de azoto nos automóveis com sistemas SCR e os Euro6 já vendidos, e a Audi anunciou que ira actualizar todos os Q5, A6 e A8 Euro5 e Euro6 equipado com o V6 e caixa manual na Europa. 

Tecnicamente estes construtores não quebraram nenhuma lei mas basicamente a aproveitarem-se de um buraco na legislação que permite alterar os sistemas de controlo de emissões para assegurar a fiabilidade dos motores (parece que o sistema de tratamento de emissões nos Mercedes a diesel desliga-se abaixo dos 10ºC e na Opel abaixo dos 17ºC). É que estes testes "Real World" não são considerados na legislação europeia mas com todo este descalabro da Volkswagen estão a ganhar tração como forma de investigar e pressionar para melhorias nos sistemas de controlo de emissões. Esperemos que passem rapidamente da teoria para legislação.


Et tu, Fiat?
Devem ter notado um novo nome deste dieselgate: a Fiat está debaixo da lupa na Alemanha com o jornal Bild am Sonntag a publicar que tal como a Volkswagen a marca italiana está a usar um truque de software para enganar os testes de emissões. E segundo este jornal, será uma abordagem bastante italiana no novo Fiat 500X. Basicamente a Fiat percebeu que os testes de emissões NEDC duram 20 minutos daí que supostamente colocaram um relógio no sistema de controlo de emissões: este fica ligado durante 22 minutos depois de ligado o motor e depois desliga-se aumentando as emissões de óxidos de azoto. Segundo o jornal terá sido a Bosch a dar a dica às autoridades alemãs. É importante dizer que há algum tempo atrás a Fiat diz ter feito uma auditoria interna sobre as emissões e concluiu que os seus motores diesel estão conforme a lei. Mas verificar-se esta batota a Fiat é tão culpada como a Volkswagen.


Acordo nos EUA significa fim dos problemas para a VW?
Numa palavra, não. O grupo VW conseguiu chegar a um acordo preliminar para resolver os problemas com os consumidores e autoridades sobre os automóveis afetados pelo dieselgate, mas esse acordo não inclui a investigação criminal pelo departamento de justiça norte-americano e os consumidores tem que desistir de processar a volkswagen e aceitar uma das compensações oferecidas pelo grupo alemão. Os clientes americanos podem escolher entre a Volkswagen comprar os automóveis de volta, corrigir os motores, cancelar alugueres de longa duração e ainda receber uma compensação adicional. Isto para os automóveis com o 2 litros TDI, o V6 3 litros não está incluído neste acordo. A marca alemã e as autoridades têm até 21 de Junho para apresentar para aprovação uma moção a detalhar o acordo. Mas tendo em conta a mentalidade americana de processar tudo e todos duvido que a Volkswagen consiga evitar os tribunais.


Volkswagen muda de ideias
E não publicou os resultados da sua investigação interna - o que é pena porque daria magnifica leitura noturna. Segundo a VW a decisão deve-se a "fortes objeções dos seus advogados e riscos inaceitáveis para a empresa". Ou seja, continuamos sem saber se aquele suposto pequeno grupo de engenheiros fugidios que terá criado o software já foram capturados... Parece que o relatório ficara entre os investigadores e a direção do grupo alemão, para ja pelo menos - os alemães dizem que a investigação interna ainda não está completa e publicar agora o que já se sabe não só iria complicar as já difíceis negociações com os americanos e também dificultar encontrar os culpados dentro da Volkswagen. Parece que só depois de todas as dores de cabeças legais estarem resolvidas é que talvez saibamos o que realmente aconteceu.


Reparação do Volkswagen Golf TDI arranca enfim
A Volkswagen conseguiu enfim a luz verde para avançar com a reparação dos Volkswagen Golf (carro e carrinha) equipados com o 2.0 litros TDI na Alemanha e em seguida o resto da Europa. A seguir deverá ser o Passat assim que a KBA alemã estiver satisfeita.


Dieselgate em Powerpoint?
O New York Times está a noticiar que foram contactados por 2 pessoas dentro da investigação interna da Volkswagen que dizem ter sido encontrada uma apresentação powerpoint feita por um executivo de topo da Volkswagen em 2006 explicando como o construtor automóvel poderia enganar os testes de emissões norte-americanos. Só não sabem é se esta apresentação chegou a ser distribuída ou a quem terá sido apresentada. A ser verdade confirma quando começou a ser preparada a falsificação das emissões mas também que é possível que isto afinal não seja só o trabalho de um pequeno grupo de engenheiros.

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