Ano novo, novo condutor?

Ano novo, vida nova...e fazemos sempre o mesmo? Em particular a mesma rotina dos desejos para o ano que começa. Sejamos sinceros: ou desejamos algo que não depende de nós (ganhar o Euromilhões) ou desejamos algo sem antes ter a mínima ideia de como vamos lá chegar. 

Não há nada de errado em desejar algo, ter objetivos é bom - o problema é que não pensamos que caminho precisamos de percorrer para o atingir, não basta apenas desejar. E ao ver este vídeo dos desejos de ano novo da Mercedes americana fez-me pensar se, além de nos dar melhor com a sogra, perder peso ou deixar de fumar, será que podemos ter desejos automobilísticos de Ano Novo?

Eu digo que sim - creio que todos precisamos de ser melhores condutores. Mesmo aqueles que se acham bons condutores, aqueles que nunca puseram o pedal na argola ou tiverem um acidente: porque como seres humanos devemos constantemente esforçar-nos para melhorar e porque podemos salvar vidas. Como disse antes o problema com os desejos de Ano Novo é que não fazemos um plano realista de como lá chegar - o segredo é "um passo realista de cada vez". Se conseguirmos eliminar um "pequeno mau hábito de cada vez", os que se seguirem vão ser mais fáceis - se tentar eliminar todos ao mesmo tempo falhará e acaba por desistir. 

Eis o que planeio fazer no meu caminho para ser um melhor condutor - primeiro deixar de usar o telemóvel dentro do automóvel, com o Bluetooth e smartphones acessíveis porque pegar no telemóvel ao volante? Outra coisa que vou tentar deixar de fazer - as "paragens em andamento" nos stops. Vocês sabem o que me refiro porque todos o fazemos - circulamos numa estrada, surge um sinal de Stop ou rotunda mas como vemos que "ainda temos espaço", não imobilizamos o automóvel. Além de poupar uma possível multa, é perigoso. 

Há mais possibilidades por onde escolher - quando esta numa fila de transito e há uma via sem prioridade com outra fila de automóveis a tentar entrar na sua via, porque não deixar entrar 1 automóvel à sua frente? Já está numa fila de transito, mais um carro não vai fazer-lhe diferença e sempre ajuda outra pessoa - e quem sabe, essa pessoa um dia pode deixa-lo a si entrar. E se alguém deixa-o entrar ou facilita-lhe a vida na estrada porque não agradecer? Abra a janela ou mesmo dentro do automóvel levante a mão em sinal de agradecimento - vai ver que sabe bem. 

Mas à medida que escrevo isto penso porque é que é preciso pedir às pessoas para serem cordiais, corretas na estrada? Ao fazer uma arrumação lá em casa tropecei num artigo da revista do ACP intitulado "porque somos Bestas ao volante"? O artigo faz mais uma abordagem dos diferentes tipos de "bestas" que encontramos na estrada (se bem que ignoraram a propriedade de um Mercedes\Audi\BMW em 2ª mão), mas eu quero ir ao fundo da razão - porque somos assim? O problema é que melhor condução começa com melhor educação do condutor e sinceramente em Portugal é quase uma questão cultural. 

Temos condutores egoístas, grosseiros, pessoal que a entrar nas autoestradas ou vias-rápidas convencidos que têm prioridade ou que chegam a um cruzamento incapazes de perceber quem vai primeiro - quase todos as manhãs tenho tentar evitar pessoal que desconhece a regra da prioridade à direita e ainda por cima discutem quando alguém lhes chama à atenção. E aqueles que nos veem a chegar na autoestrada e saltam para a faixa de ultrapassagem no último segundo só para nos bloquear porque acham na superioridade moral?! 

E o pessoal que adora circular a 1 mm do nosso para-choques (Audi's usados principalmente)? 

Temos os telemóveis e os modernos sistemas multimédia - passei as passas do inferno no outro dia ao aceitar a boleia de uma colega mais velha que ao conduzir passou a maior parte do tempo a comparar o que o GPS do iphone e o do carro indicavam e depois discutia com ambos recusando seguir as indicações dadas. Olhar pelo para-brisas era opcional...envelheci vários anos por cada quilómetro percorrido. 

Não usamos os piscas ou conseguimos manter-nos na linha de trânsito e apesar de ser proibido (eç6 dar uma multa valente), continuamos a ter centenas de pessoas a conduzir na faixa da esquerda ou central quando a faixa da direita está desocupada - apenas por que lhes apetece. 
 
Pior - recordo uma colega da faculdade que dizia, com grande convicção, que quando entrava na autoestrada encostava na faixa da esquerda acelerando a 120km\h e não sai de lá porque afinal era esse o limite de velocidade. Nota a todos que concordam com a idiota da minha ex-colega (algo que tive hipótese de lhe dizer na cara) - a faixa da esquerda é e sempre foi apenas para ultrapassar. Esse comportamento leva a que haja condutores a ziguezaguear pela estrada, que pode gerar acidentes e/ou episódios de fúria atrás do volante e multas mesmo quando a pessoa culpada é outra. 

O problema começa no processo de tirar a carta que cada vez mais se corta no treino pratico e na exigência do mesmo - antes tirar a carta era um desafio, um evento memorável. Hoje parece mais uma cordialidade, algo que saiu na caixa dos Chocapic (e muitas pessoas parecem ter encontrado a carta de condução assim). O problema começa nas escolas de condução - onde os instrutores têm exatamente as mesmas dores de cabeça mas tem que ser muito mais diplomáticos ao lado dos alunos - se conseguir tirar os olhos da minissaia da aluna claro

Conheço várias pessoas no mundo do ensino da condução e são unanimes - dar aulas de condução a um condutor "veterano" (a quem lhe tiraram a carta por exemplo) é bem mais perigoso e exasperante que a um condutor "verde". E nem são os alunos que dão mais dores de cabeça, mas sim os condutores distraídos à sua volta - se há uma grande placa no topo do automóvel a indicar "Automóvel de Instrução" não tão à espera do mesmo desembaraço pois não? 
Não é um trabalho fácil - como ele diz, "é preciso ter uma paciência de santo e ser capaz de passar a mensagem". E essa é a parte difícil - passar a mensagem. Sejamos sinceros - só o nome "etiqueta atrás do volante" é aborrecido. Dar este género de aulas e ser capaz de passar a mensagem não é para todos. Doentes dos automóveis não servem e acredito que os "fãs dos automóveis" não seja necessariamente a pessoa certa. Também não pode ser uma pessoa com "pavio curto" para alunos abusadores ou que não conseguem manter calma ao volante. Gritar ou como já vi um instrutor a levar uma aluna a lagrimas também decididamente não funciona. 

Sejamos sinceros, é muito possível que eu e você também não tenhamos o que é necessário para "educar" os outros condutores. Portanto irei controlar a vontade de arrancar alguns condutores pela janela e irei fazer o que eu posso fazer - se não podemos fazer nada pela "falta de educação" dos outros condutores, podemos (cada um de nós) melhorar a condução, respirar fundo e contar até 10 (e quando isso falhar conte até 100), reduzir distrações, tornando as estradas mais seguras e esperando que inspiremos os outros...sim, sou um otimista. E citando o grande e eterno Robin Williams,

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