72 Horas Non-stop da Renault inspiram

É sabado à noite quando escrevo isto e enquanto o faço 5 Renaults andam às voltas no Circuito do Estoril nas "72 Horas Non-stop da Renault". Trata-se de um evento publicitário da Renault, em que qualquer um podia participar via a página do Facebook da Renault portuguesa e ao qual fui convidado participar (obrigado por se lembrarem de mim), mas por motivos profissionais infelizmente não pude ir. E aos que perguntam "O que e que se pode provar em ter 5 carros às voltas num circuito durante 3 dias?" - eu digo: muito.
 
Neste evento a ideia é manter 5 automóveis comuns (Clio TCe 90, Clio Sport Tourer dCi 90 EDC, Captur 1.5 dCi 90, Mégane Sport Tourer dCi 110 e Mégane Coupé 1.6 dCi 130) em pista o máximo de tempo possível durante 3 dias. O que significa que os automóveis apenas param para combustível, mudar de pneus e de piloto. Para terem uma ideia do quanto a Renault está a levar isto a sério antes de qualquer piloto se sentar atrás do volante o pessoal da organização perguntam se este fez o xíxi antes de entrar porque não o deixam parar para isso!

Conduzir em pista é mais duro e exigente que uma “vulgar” estrada: ritmos são mais elevados, fazem-se mais quilómetros, travagens são mais fortes e longas, temperaturas dos vários órgãos mecânicos são mais elevadas por mais tempo e suspensões mais esforçadas. Tive hipótese de participar num track-day em que houve a demonstração de um sedan de luxo híbrido e após algumas voltas recolheu às garagens porque os componentes sobre-aqueceram e entrou tudo em modo de segurança.
Neste evento da Renault não há pontos para quem acabe em primeiro ou banho de champanhe - chegar ao fim significa provar qualidade e fiabilidade. Provar que ao contrario do tempo dos nossos pais, é possível ir a um concessionário e comprar um automóvel que nos pode levar à outra extremidade do continente sem problemas.

Mas seguir este evento pelo Twitter fez-me pensar sobre se vale a pena participar em track-days. Sejamos sinceros qual é o objectivo?

Há quem diga que os track-days nos fazem melhores condutores, mas sinceramente isso é o que organizadores dos track days dizem. As mulheres não gostam assim tanto dos carecas, são os carecas que dizem isso. Elas não acham que um pénis maior é melhor, nós homens é que o dizemos.
Track-days não nos tornam melhores condutores porque os circuitos não são nada como na vida real - não há peões, passadeiras, buracos e toda a gente vai na mesma direcção. Só há um único elemento comum entre a condução em pista e na vida real é que todos se comportam como condutores de Audi's importados: a 1 milímetro do nosso para-choques traseiro.

Tirar o medo/receio da condução? Já várias vezes referi a minha estrada favorita, que vai da Marinha Grande a Alcanena atravessando a serra. É uma mistura deliciosa de curvas, inclinações, com paisagem a condizer e tudo termina numa sequência de curvas e contra-curvas com um desnível incrível - perderia toda a piada se alguém coloca-se 3 cones vermelhos antes da curva e disse-se: "tens que travar até ao ultimo cone". Há coisas que sabem melhor se formos nós a descobrir.

Há quem diga que os track days podem revelar algo novo sobre o seu automóvel. Sim, ao fim de 2 minutos e 5 segundos volta ao ponto de onde partiu a precisar de pneus novos ou enfiado numa parede de pneus velhos a precisar de um automóvel novo.

Então e o prazer da condução? Ok, torpedo directamente à minha teoria. Dizem que a velocidade mata e pedem-nos para andar devagar - não conduzimos depressa porque estamos com pressa mas porque aperta os botões certos, porque nos faz sentir humanos, vivos. E umas voltas na pista pode dar-nos o cocktail de hormonas necessário. Mas se está fechado num circuito, como poderá apreciar a estrada lá fora?
Não a auto-estrada, mas aquelas estradas que começaram como pequenos caminhos na antiguidade e que apesar com o tempo tenham sido convertidas em estradas mantiveram detalhes como ultrapassar montes e montanhas, ou evitar terrenos mais instáveis - todos estes pequenos pormenores ficaram na estrada moderna e isso torna-as interessantes. Divertidas. Sim, a pista pode apertar alguns botões mas a estrada certa na altura certa pode apertar todos - só tem que partir à descoberta. E não tem que ir muito longe - veja o que eu encontrei em Portugal ao virar da esquina.
Resumindo, os track-day são um pouco futeis - uma afronta à liberdade e indepêndencia dada pelo automóvel e aos incríveis feitos de quem desenha e constroi estradas. Mas encontrei nestas "72 Horas Non-stop da Renault" uma nobre excepção, duas alias - com um track-day "comunitário" conseguiram não só provar que os seus automóveis são capazes de sobreviver à tortura da condução em pista, mas também ajudar a fazer outras pessoas sorrir: por cada volta realizada por cada automóvel, um euro vai ser doado à Operação Nariz Vermelho.

Acho que isso merece um donativo pessoal à Operação Nariz Vermelho - convido os leitores a fazerem o mesmo.

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