Colocar Darwin atrás do volante

Como devem ter notado tenho andado um pouco ausente estes últimos dias - isso deve-se ao facto que estou a passar umas férias no Algarve (regresso em força no próximo fim de semana). Isso mesmo: praia, sol e biquínis. E fica melhor - reservei um aparthotel de 3 estrelas e quando cheguei fui promovido para um de 4 estrelas mesmo ao lado. E não é que no dia seguinte à minha chegada ganhei uma estadia de 1 semana para gozar no proximo ano no Villas d'Águas? Juro e tenho a papelada para o provar. Só não tenho Wifi...


Tenho uma suite mesmo por cima da piscina do hotel e durante o dia é vê-las passar...mas com toda esta boa sorte e loiras vaporosas a rodearem a piscina confesso que há 2 coisas que não consigo tirar da cabeça!

Primeiro foi a minha cara-metade a dizer-me que a camisa que sujei ontem à noite no jantar precisa de ser "limpa a seco". Como é que é possível limpar algo a seco?! A sério!? Lavar a roupa sem a molhar...é que eu tentei isso com o dedo ao jantar e não funciona! A "outra mulher da minha vida" tem 7 anos, está na segunda classe e esta semana relembrou-me quanto complicado ser pai pode ser - perguntou-me se era verdade que as pessoas vieram dos macacos.


Ora, como explicar a teoria da evolução de Darwin a uma rapariga que esta na 2ª classe de forma a ela perceber e ao mesmo tempo não a chocar. E antes de responderem assistam a 2 cesarianas como eu fiz e depois respondam... Acho que me safei bem porque não fez caretas e não foi fazer a mesma pergunta à mãe logo a seguir.

Mas este recordar de Charles Darwin e da sua teoria de evolução relembrou-me o longo caminho que fizemos desde pequenos marsupiais a esconder-nos dos dinaussauros à espécie dominante neste planeta. E tudo graças a algumas caracteristicas que quase não damos valor hoje em dia - ter polegares por exemplo.


Foi o desenvolvimento do polegar oponível que separou o homem dos restantes animais e permitiu ao ser humano começar por pegar numa pedra e fazer utensílios de agricultura. Daí a deixar a caça, fazer barcos e mesmo com um desvio pelas bicicletas foi um instante até chegar ao importante - o turbo-compressor.


Sei do que falo porque pouco depois de responder à minha filha consegui falhar um prego e acertar no polegar direito! Só assim é que me apercebi de quantas tarefas rotineiras se tornam quase impossíveis. Apertar os botões de uma camisa, escrever este artigo no computador, fazer as camas ou mesmo conduzir - o meu carro até é fácil de conduzir, com a abertura e arranque mãos livres, direcção assistida mas quando surgiu na rádio o Francisco Louça foi extremamente complicado conseguir tirar-lhe o pio. Ponderei ter um acidente só para não ter que o ouvir. Normalmente rabisco os artigos numa bloco de notas para passar a limpo depois (sim, sou velho), este creio ser o primeiro que escrevo directamente no PC.


Isso traz-me à tecnologia e às ajudas electrónicas que invadem os automóveis modernos. Se olharmos à nossa volta a tecnologia esta por todo o lado, dentro de nós e no automóvel é o mesmo.


A tecnologia é capaz de fazer coisas incríveis - sabiam que os injectores de combustível Multec da Delphi conseguem injectar 20 gramas de combustível por segundo conseguindo abrir-se em 20 milisegundos e fechar-se em 0,4 milisegundos? E variando a pressão do combustivel de 30 a 230 bar? Tudo isto para colocar a dose de combustivel certa no motor a cada compressão - algo que acontece a cada 0,02 segundos.

E o pedal do acelerador do novo Peugeot 208 que conduzi recentemente? É um sistema sem fios que verifica a posição do seu pé direito inúmeras vezes por segundo e juntamente com informação de inúmeros sensores faz uma imensidão de cálculos para garantir que saímos da próxima curva que nem um gato escaldado.

Os computadores estão por todo o lado e são melhores que nós em tantas coisas que é impossível listar todas - jogar xadres, fazer contas difíceis, calcular o valor de Pi até à 14ª casa decimal, passar um sinal digital do outro lado do mundo para que possa ver a F1 confortavelmente no meu sofá e até travar o seu automóvel mais depressa que o seu pé consegue.
Para todos os efeitos, o homem foi ultrapassado atrás do volante, e segundo a teoria do acima mencionado senhor Darwin, o condutor-homem devia estar extinto atrás do volante. Os automóveis deviam ser conduzidos pelos computadores e nós pobres humanos reduzidos a meros passageiros do chip de silicone e jogar sudoku enquanto viajamos para visitar os sogros.

Mas eu discordo e creio que Darwin falha atrás do volante - as máquinas podem conseguir tudo o que citei e muito mais, mas conseguem pintar uma obra de arte ou mesmo subir as escadas? Fazer uma criança sorrir ou uma plateia inteira chorar? A electrónica é lógica e terá sempre um papel secundário para o computador humano - sim, a massa cinzenta.

E voces sabem do que estou a falar - quando estamos no automóvel certo, na estrada certa, no dia certo e aceleramos um pouco mais e podemos sentir que todo o nosso corpo a interagir com a máquina e descodificar a enorme quantidade informação que entra na nossa cabeça, (procura desesperadamente o cérebro em certos casos), e é traduzida pelo cérebro numa série de decisões e movimentos tão rápidos e naturais que nem nos apercebemos que os fizemos.


A melhor ajuda à condução de toda a história do mundo automóvel está instalada de série em todos os automóveis desde o 1º automóvel - você.


E mais electrónica só tende a arruiná-la, telemóveis principalmente.

3 comentários:

  • Anónimo says:
    15 de junho de 2012 às 10:06

    Por isso é que eu adoro carros clássicos...

  • Anónimo says:
    15 de junho de 2012 às 14:43

    Parabens pelo raciocínio da símbiose entre homem / máquina.

  • bigdevil says:
    1 de setembro de 2015 às 12:32

    Muitos parabéns!!!