Os carros "design"


Nota: no Brasil alguns modelos comuns, de entrada de gama em Portugal, são vendidos como carros diferenciados, a um preço elevado e em segmentos definidos como "carros de nicho". Recentemente, a publicidade local do Kia Soul o definiu como "carro design". Daí o título.

Depois de algum tempo tentando conquistar o sucesso profissional, com aquele salário bacana que você sempre quis, você acha que finalmente chegou a hora de comprar um carro legal para curtir por aí.
Você pensa nos carros que sempre sonhou, mas eles estão todos fora de linha. Aí você começa a pensar nos carros que chamaram a sua atenção na rua ultimamente. Há o Renault Sandero, mas você logo desiste porque lembra que ele é um carro meia-boca feito para países emergentes. Você também não quer comprar um 307 porque ele ficou barato e agora todo mundo tem um. E você não pode comprar um i30 porque as pessoas vão pensar que você é estúpido por acreditar nas mentiras que as propagandas contam. Focus, Polo e Civic são escolhas óbvias demais. Você é bem-sucedido porque, além de tudo, é criativo e diferente.

Então o que você quer é um daqueles carros chamados de “modelos de nicho”. E os primeiros nomes que vêm à cabeça são Beetle e PT Cruiser, mas você pára, pensa por um minuto e desiste quando percebe que é mais fácil encontrar um Beetle que um Fusca original nas ruas.

Na verdade o que você quer é o que os marqueteiros da Kia brilhantemente definiram como “carro design” (apesar de “design” não se referir somente ao estilo do carro). São carros do tipo ame-ou-odeie. Carros que os mais racionais achariam caros demais pelo que oferecem porque não podem perceber que o valor deste carro está na satisfação de ser o dono de um objeto incomum, de dirigir um carro que avisa de longe que está passando e faz a garota do carro ao lado te dar um sorriso no semáforo.

Logo, o que você procura pode estar em um exótico Kia Soul. Ou em um pequeno smart ForTwo. Talvez em um charmoso Fiat 500 ou quem sabe, em um elegante MINI Cooper.
O mais acessível destes é o Kia Soul, mas o preço baixo tem uma explicação: o Soul tem acabamento pobre perto dos outros. É feito de plástico duro, semelhante ao usado no Honda Fit e não tem tecido algum nos painéis das portas. Mas ele tem um volante com controles do rádio que faz você pensar “uau! Tem até controle no volante!”.


Por outro lado, o Soul tem o melhor motor 1.6 de aspiração natural que você vai encontrar no mercado nacional e os engates do câmbio lembram os de Porsches – você posiciona o câmbio na entrada do engate e a caixa “chupa” a alavanca para a marcha.
Vale a pena comprar um? Até vale. Não a versão top de linha. Só vale realmente nas versões intermediárias, sempre com câmbio manual.

Um pouco acima do Soul (na tabela de preços) está o smart ForTwo, que parte de 55 mil reais. Cuidado com esse carro: se você não for uma mulher, ou o Ricardo Almeida, as pessoas vão achar que você é gay (o que não é problema se você realmente for um).
Outro inconveniente é que o smart tem um câmbio preguiçoso. Você empurra o câmbio para trocar a marcha e o tempo que ele demora para efetuar a troca é o mesmo que você levou pra ler essa frase. Com seu curto entre-eixos e relação peso x potência otimizada ele parece (e é) ágil, mas o Ka e o Picanto também são.

Felizmente a chance do smart ForTwo não acaba por aqui. Isso porque resolveram trazer o smart BRABUS. Com um câmbio mais esperto e motor de 100cv, o carro chega aos 100km/h em menos de 10s (morra de inveja Fiat!). Suas rodas gigantescas de 16 polegadas na frente e 17 polegadas atrás ajudam o ESP a manter o pequeno BRABUS no chão. E a melhor parte é que ele não te deixa com cara de moderninho da FNAC . O que parece é que você realmente entende de carros, anda de AMG nos fins de semana e simplesmente não quer qualquer condução pra ir ao trabalho. Custa 80 mil reais, o que parece muito dinheiro até você descobrir quanto custa o Fiat 500 Sport.

O Fiat 500 é um carro bonito pra chuchu. Ele tem exatamente o porte do antigo Ka e aquela cara de “viajei no tempo”. Lendo as especificações você imagina que ele será um foguetinho, um carro que faria seus dias mais felizes. Eu imaginei.

Mas então você entra nele. A posição de dirigir é péssima. A coluna de direção é inclinada demais e só tem ajuste de altura. Ajuste este que o banco do motorista não tem e por isso é alto demais. E se você tiver altura suficiente para não parecer um garoto de 16 anos roubando o carro da irmã, é melhor ter um pente no bolso, porque irá bater a cabeça no forro do teto o tempo todo. O 500 é pequeno por fora e apertado por dentro. A faixa no painel com a cor do carro é belíssima e remete aos antigos esportivos italianos, mas os reflexos da luz mostram que o material usado é um pouco ondulado. Um pouco frustrante, para ser sincero.

Quando o 500 tem teto solar, o forro é rebaixado para que possa comportar os braços que movimentam o vidro e por isso você pode dar uma esticada no pescoço e dirigir com a cabeça pra fora do carro, sem as inconvenientes colunas do pára-brisa para criar pontos cegos. É como dirigir um legítimo spider de corrida.

Custa desde 62 mil, mas por esse preço ele vai parecer um Palio por dentro. A versão que todo mundo deseja custa 72 mil (a regulagem de altura do banco está incluída no pacote do teto solar, que custa uma fortuna). Pouco menos que um smart BRABUS. Muito mais que um Soul.

E lembre-se que este não é o 500 Abarth, o pocket rocket que assombra o MINI Cooper, mas infelizmente não é vendido no Brasil (ainda).

E por falar em MINI Cooper, se você tiver uns trocados na reserva vá procurar um. Ele é um autêntico hot hatch. É o oposto do conceito original, pois é grande por fora e pequeno por dentro. Mas mantém o excelente comportamento dinâmico, é bem acabado (um BMW travestido de carro inglês), e tem um motor quente, de 160cv, que junto com seu estilo inconfundível satisfaz os olhos e o tesão de acelerar.

Só não vá comprar o previsível british racing green.

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