Vaca Sagrada de 4 rodas

Segundo o filme "Doidos por Mary", não se vai a um jantar romântico com "uma arma carregada". Infelizmente essa dica não ajuda ao jantar que me calhou recentemente: fazer de babysiter a um Indiano e um Italiano. Arrancar as unhas com um alicate é uma das muitas coisas que estava preparado para fazer para me safar.
Mas quando um Português, um indiano e um italiano se juntam para jantar, do que falam? De carros claro! O jantar acabou por se prolongar até altas horas da noite acompanhado com grande quantidade de álcool de 100 octanas.
Algo que me fascinou foi descobrir a simplicidade do código de estrada indiano, ao ponto que pode ser resumido numa frase: "Might is right" que traduz-se em "o poderoso tem o direito". Ou seja, em qualquer cruzamento o camião é rei, seguido pelo autocarro, elefante, carrinha, carro, motorizada e no fim da escala temos o peão.

Mas como é que com um código tão simples, e em teoria eficaz, como é que morrem centenas de pessoas por dia? Fiquei pasmado ao descobrir que a Índia tem a mais alta taxa de mortalidade na estrada com mais de 105.000 mortes por ano. Para os curiosos, o segundo lugar pertence à China com 90.000 mortes por ano.

Segundo o meu amigo Charles (nome indiano), estas mortes devem-se não só ao facto que os Indianos não sabem conduzir (já ouviram falar de algum piloto indiano de sucesso?) mas também à religião - os Indianos acreditam que a sua morte já esta definida e marcada no dia que nascem, portanto se chegarem a uma curva e tiverem que escolher entre o precipício e o camião, eles não sabem o que fazer e muito menos estão preocupados com as consequências! Se chegou a hora, tudo bem. Se tiver passageiros a bordo também chegou a hora deles.

Mas como em todos os baralhos, temos um Joker nesta equação - a vaca. Na Índia a vaca é sagrada e livre de fazer o que lhe bem apetecer. Ou seja, podemos ir a conduzir calmamente e se encontrar-mos uma vaca no meio da estrada temos que mudar para a outra faixa mesmo se vier um camião no sentido oposto!

Apesar de não termos esse problema na Europa, temos o equivalente à vaca sagrada - o homem da carrinha comercial branca! Não há visão mais aterradora do que estar numa rua apertada e ver uma carrinha comercial no sentido oposto. É que a menos que subamos completamente o passeio, não só vamos ficar sem espelho retrovisor como ele vai passar por nós à velocidade da luz.

Conheço vários destes condutores e a desculpa que todos dão é que têm de cumprir horários que os obriga a atravessar a barreira do som várias vezes ao dia...Treta! Eles conduzem assim por sabem que se se estamparem o patrão paga a reparação. Recentemente conduzi um Mercedes Vito com 200 cavalos debaixo do motor e foi a primeira vez que consegui por um carro a escorregar as 4 rodas no alcatrão!
Logo, só se muda de velocidade até os pistões estarem prestes a saltarem do capot, rolam colados ao para-choques do condutor à sua frente e conduzem sempre com o acelerador a fundo.
Quer experimentar ser um? Siga o link para este popular jogo "White Van Man".

E a parte mais estranha, é que estes homens (e mulheres) são pessoas perfeitamente normais - tem famílias, gostam da sua cerveja e ver o ocasional jogo de Futebol. Mas assim que sentam atrás do volante das suas carrinhas sofrem uma transformação apenas comparável com a de Dr. Jeckil and Mr Hyde.
As carrinhas são grandes e potentes para fazerem frente aos camionistas e para jogar tiro-ao-alvo...em que o alvo são os restantes condutores nos seus preciosos carros. E é perda de tempo tentar muda-los. Aonde os vão desencantar? Ao Hospital psiquiátrico mais próximo?
Neste blog, todos nós sonhamos com o mais recente Ferrari ou Lamborghini, mas se há conselho que podemos dar é esqueçam isso e tornem-se em terroristas urbanos: comprem uma Ford Transit. E ponham um logo da MRW ou dos CTT de lado!