Liberdade atrás do volante

O salão de Frankfurt tentou ser a luz brilhante na escuridão em que parece estar imerso o mundo automóvel europeu - muitas novidades, tecnologia de ponta ao e a ideia que a crise pode ter batido no fundo e estaríamos no caminho da recuperação. Mas sejamos sinceros, o ambiente geral em torno do automóvel é tudo menos auspicioso. Mas permitam-me vestir uma saia, pintar a cara e gritar a plenos pulmões que nem Mel Gibson em Braveheart!

Ideia revoltante eu sei, prometo não voltar a puxar por esta imagem até ao fim do artigo. Liberdade - algo que todos auferimos muitas vezes sem dar o devido valor. Liberdade e liberdade de movimento - não apenas a imposta por um governo ditatorial mas também aquela ditada pelos transportes públicos ou pelos nossos pés. Não esquecer que ainda há relativamente pouco tempo as pessoas viviam e morriam sem saírem das suas vilas ou aldeias.

E os que saiam tinham que seguir os percursos e horários determinados por comboios, autocarros ou outra forma de transporte comum - ou seja, o que outros tinham pré-definido.

Mas não hoje em dia - hoje em dia quase todas as famílias têm um automóvel. Passou de algo que apenas os mais ricos podiam ter a algo democrático. Sim, o automóvel perdeu alguma da sua magia com as constantes e permanentes bichas de trânsito (já viram que já não há horas mas sim dias de congestão), subida dos preços de combustível, perseguidos por ecologistas, impostos e custos de manutenção que dão para pagar uma segunda casa?

Quanto oiço algumas pessoas, parece que o automóvel passou a ser um mal necessário. Mas aí chega "aquele dia" que nasce fresco, de céu limpo mas não frio. Lavou o carro no dia anterior e o interior parece que cheira a novo. Pode ser o caminho para o emprego ou para umas férias, mas naquele dia não há transito e como não sintonizou a RFM o seu rádio esta a tocar algumas das suas musicas de estrada preferidas.
Tudo se encaixa e nesse momento vai recordar a primeira vez que depois de completar os 18 anos e tirou a carta partiu à aventura atrás do volante.

Recordo a minha primeira viagem longa "quase a solo" ao volante do Porto ao Montijo. Conduzi um BMW 316 vermelho metalizado com jantes largas douradas e um escape Remus do meu colega Paulo que me acompanhava juntamente com a minha namorada. Tínhamos um mapa, sandes, água e algum dinheiro para a gasolina. Saímos ao final da tarde depois das aulas de Sexta-feira acabarem e seguimos as estradas locais e a ponta do nariz - nem a Nacional 1 usamos.

Foi uma experiência única, espetacular, senhores do nosso destino, livres para apreciar a paisagem e a aventura a cada curva. E ainda hoje persiste - há poucos dias atrás fomos passar um fim de semana a Peniche e novamente puxei do mapa para encontrar a estrada que mais aventura prometia. Uma dica - costumam ser aquelas 2 linhas pretas com branco no meio.

Usamos basicamente estradas municipais, aquelas que mantiveram detalhes dos primórdios da mobilidade, pormenores como ultrapassar montes e montanhas, ou evitar uma zonas de terrenos mais instáveis - todos estes pequenos pormenores ficaram na estrada moderna e isso torna-as interessantes. Atravessamos a Serra dos Candeeiros por uma estrada ótima, sem transito e rodeado por uma bela paisagem.

Descobrimos belas vilas e um pequeno restaurante na berma da estrada que oferecia um bife simplesmente de outro mundo. Sim, podia ter ido de autocarro, mas não experimentava tudo isto e no fim apenas teria um bilhete e a doença da ultima pessoa que se sentou no meu assento.

E no fim eis o que encontrei.

E sabem que mais, não ficamos tristes quando partimos porque simplesmente seguidos outros percurso, outra aventura.

Odeio recorrer a chavões como "é a viagem, não o destino", mas se a carapuça serve usa-a. Sim, ter um automóvel é dispendioso, somos odiados por ecologistas e ciclistas com complexos de superioridade moral, mas a liberdade que ele nos dá faz valer passar por todo este sofrimento nos restantes dias. Liberdade, aquela que apenas 4 rodas e 1 volante nos pode dar.

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