Renault 4 - História com 4 rodas

No salão automóvel Paris de 1946 (o 1º após a 2 Guerra Mundial) a Renault apresenta o seu 4 CV - desenvolvido em segredo durante a ocupação alemã, período em que a Renault esta sob ordens de produzir apenas veículos comerciais e militares. 
O Renault 4 CV teve um arranque de vendas difícil, compreensível pelo estado da economia francesa, mas as vendas aceleraram tendo ultrapassado as 37.000 unidades vendidas a meio de 1949 tornando-se no automóvel mais popular em França. Mas em 1948 a Citroen tira algo completamente inesperado da cartola, o equivalente à versão automóvel de um touro atravessar uma loja de cristais: o Citroen 2 Cavalos. Como iria a Renault responder?


Como o titulo indica, a resposta foi a Renault 4 ou "4L" como ainda é conhecida em Portugal e França, e revolucionou os pequenos automóveis dos anos 60 - foi o primeiro automóvel de grande produção com uma tampa da mala de peça única articulada no topo e com a remoção de um parafuso único era possível dobrar ou retirar o assento traseiro por completo transformando-a numa pequena carrinha. Espaçosa, pratica graças às suas 5 portas, resistente e acessível tornou-se num automóvel não só popular com as famílias mas também com as empresas e governos - o governo português teve um monte delas, a minha mãe tinha uma no centro de saúde como viatura de serviço.
Entre 1961 e 1992 foram produzidas 8.135.424 unidades da Renault 4, sendo ainda o automóvel mais produzido pela Renault. Abaixo tento fazer um resumo da historia deste icónico automóvel - porque é historia que vale a pena recordar.



1955 Genesis
A inspiração veio, curiosamente, de umas calças de ganga - foi com essa analogia que Pierre Dreyfus (vice-presidente da Renault de 1948 a 1955 e CEO da Renault de 1955 a 1975) definiu durante uma reunião a 27 de Março de 1955 o que viria a ser a Renault 4. Ele observou que a Renault produzia apenas automóveis para as cidades enquanto a Citroen produzia automóveis para os campo. Sendo assim o substituto do Renault 4CV teria como principal objetivo ser um automóvel familiar polivalente (urbano e rural), pratico (para o povo e famílias), fiável, acessível, utilizável em qualquer lugar do mundo, mais atraente que os concorrentes mas menos que o Dauphine, teria que ter uma versão comercial e custar 350.000 francos (na altura o 2 Cavalos custava 346.000 francos). Segundo as palavras de Dreyfus, a "versão automóvel das calças de ganga".



1956 Primeiros protótipos
Em outubro de 1956 o primeiros protótipos do projeto 112 (inicialmente projeto 350 como referência ao preço-alvo definido por Dreyfus) são concluídos e até 1961 varias configurações são avaliadas: motores de 2 e 4 cilindros, motores em posição longitudinal ou transversal, motores arrefecidos a água ou ar, diferentes direções, sistemas de suspensão e outras. 




Da Suécia aos EUA, do Sahara à Guiné a "Marie-Chantal" (o nome de código usado pela equipa de testes para enviar os resultados aos escritórios centrais) foi testada até à exaustão por todo o mundo - até à apresentação ao publico os protótipos e modelos pré-série percorreram mais de 3 milhões de quilómetros.



1961 "Operation Soraya"
A Renault sabia que tinha um produto vencedor em mãos e não queria correr riscos de dar à concorrência qualquer informação, daí que quando foi altura de apresentar a Renault 4 aos diretores e chefias de concessionários foi montada um esquema elaborado e secreto com o nome de código "Operação Soraya". Passamos de "Marie-Chantal" para "Soraya"...
Em março de 1961 para apresentar este modelo aos diretores comerciais das várias zonas e principais concessionários a Renault alugou o Château Porgès de Rochefort em Yvelines e estabeleceu um apertado de perímetro de segurança em torna da propriedade com a policia. Os vários participantes foram transportados de várias localizações em autocarros ao amanhecer e verificados um a um assim que desembarcavam. Três protótipos finais da "4L" estiveram expostos e conduzidos, alguns em terrenos difíceis.



1961 "Operation Ballade en Camargue"
A Renault começou em julho de 1961 a converter as linhas de produção do Renault 4 CV para a produção da Renault 4 (até aquela altura todos os exemplares tinham sido produzidos à mão em Billancourt) e a produção em série arrancaria a 3 de Agosto de 1961. Mas as primeiras unidades foram produzidas para o publico seguinte a conquistar: os média - arranca a operação "Ballade en Camargue".
A Renault 4 foi oficialmente apresentada aos média entre 20 de Junho a 26 de Agosto de 1961, principalmente em Camargue no sul de França próximo de Saintes-Maries-de-la-Mer, com 20 viaturas (15 R4 e 5 R3) disponibilizadas aos jornalistas para serem testadas naquela área bastante agreste populada principalmente por cavalos selvagens. Tal foi o castigo que, devido às poucas unidades produzidas até aquela altura, 10 das viaturas de teste foram canibalizadas para peças para manter as restantes em funcionamento. Mas conseguiram - os primeiros artigos começaram a surgir na imprensa entre 29 e 31 de Agosto e todos positivos e entusiastas pelo novo Renault 4.



1961 Apresentação ao público
O passo seguinte era convencer o público e a Renault decidiu que a melhor forma de o conseguir era colocar os potenciais clientes atrás do volante durante apresentação publica no salão automóvel de Paris em outubro de 1961 - sim, é o momento para mais uma operação com nome sonante: Operação "Prenez le volant". Fica a nota - a primeira apresentação ao público foi poucos dias antes no salão automóvel de Frankfurt mas a grande festa oficial foi em Paris.
Neste vídeo da época podem ver a Renault 4 exposta no minuto 1:33
No salão automóvel de Paris estiveram expostas 3 versões:
- a R3 (R1121): idêntica à R4 de base mas com um motor de 603 cm3 com 22,5 cavalos SAE e uma potencia fiscal de 3 CV;
- a R4 (R1120): com um motor de 747 cm3 com 26.5 cavalos SAE;
- a R4 L: versão de luxo;

Renault 3?!
Sim, houve uma Renault 3 - pode parecer uma Renault 4, tem as mesmas linhas exteriores, mas era bastante diferente. Feita para concorrer com o Citroen 2 Cavalos a R3 era muito mais simples e barata: tinha um 4 cilindros de 603 cm3 capaz de atingir apenas 90 km\h e 3 cavalos fiscais acoplada a uma caixa manual de 3 velocidades (a 1ª não era sincronizada) e marcha atrás. O interior não tinha qualquer forro (nem o tejadilho), tinha assentos tubulares separados à frente e um banco único tubular atrás forrados a tecido, esguichos limpa-vidros e um sistema elétrico de 6 volts. Exteriormente era a mesma coisa: nenhum cromado, a grelha dianteira eram apenas cortes no capot dianteiro, os espelhos retrovisores eram opcionais e apenas estava disponível em 3 tons de cinzento.



Foi um falhanço comercial tendo sido produzidas apenas 2.526 unidades entre junho 1961 e setembro 1962.

Renault 4
Este era o modelo básico da Renault 4 - o indicador do nível de combustível era no depósito, uma única pala do sol para o condutor, chaufagem sem ventilador e para-choques tubulares pintados. Não tinha tampões de rodas nem forras das portas ou tejadilho.

Renault 4 L
Já a R4 L (L de luxo) recebe um indicado de combustível iluminado no tablier, 6 vidros laterais com vidros de custódia, 2 palas do sol, forras nas portas e tejadilho, ventilador de chaufagem e cromados um pouco por todo o lado: cobertura da grelha dianteira, tampões das rodas, para-choques, escovas limpa-vidros, pegas das portas e outras.




Mas a mecânica foi um pormenor importante para a Renault 4: não precisa de lubrificação do chassis, circuito de refrigeração fechado, suspensão de longo curso, carroçaria aparafusada no chassis para facilitar reparação e porta traseira de grande abertura para facilitar a carga.
Em outubro de 1961 a Renault apresenta também a Renault 4 Fourgonette (R2102) capaz de uma carga útil de 300 quilogramas. 
Os acabamentos são os mesmos do Renault 4, mas recebe pneus maiores e as barras de torção reforçadas. Já o assento do passageiro e abertura do tejadilho eram opcionais.



1961 Operação "Prenez le volant"
A apresentação ao publico decorreu entre 21 de setembro e 1 de outubro no salão de Paris, mas entre 5 a 15 de outubro a Renault arranca a Operação "Prenez le volant": 200 Renault 4 foram disponibilizadas ao público em Paris para testes antes do inicio das vendas. Nesses 10 dias cerca de 60.000 pessoas percorreram um total de 440.000 quilómetros ao volante da Renault 4. Mas não ficou por Paris - a operação "Prenez le volant" era um circo itinerante e enquanto uma equipa continuou a percorrer a França até meio de 1962, outra partiu para a Holanda (novembro 1961), Bélgica, Alemanha, Reino Unido e Áustria. Noutros mercados europeus varias 4L brancas foram disponibilizadas para ensaios.



1961 Primeiros problemas
A primeira série da Renault 4 foi produzida a 3 de novembro de 1961 e estes modelos tinham duas particularidades únicas: tinham o capot plano e a boca do deposito de combustível colocada bastante baixo no para-lamas traseiro. Estes modelos aparecem em algumas fotografias e dos vídeos iniciais. Curiosamente quando a apresentação foi feita em Paris as 200 R4 disponibilizadas para a operação "Prenez le Volant" tinham estes pormenores mas os modelos expostos no salão propriamente dito já não os tinham.
O capot plano foi substituído pelo nervurado para maior resistência, enquanto a altura da boca do depósito foi alterada porque em curva vertia combustível para a estrada! Isto seria certamente detetado nos testes de estrada dos protótipos, portanto foi uma alteração antes da produção que não chegou a ser testada em estrada. Desta primeira série sobrevivem apenas 8 unidades mas apenas 1 com a entrada de combustível baixa.



1962 Renault 4 Super
A Renault 3 falhou porque em 1961 o publico começou a exigir algum conforto dos seus automóveis, mas para compensar a versão 4 L teve um sucesso tal que rapidamente a Renault lançou a versão Super em 1962 para ser o novo topo de gama. A Renault 4 Super foi produzida em 1962 (com o motor de 747 cm3 de 32 cavalos e 4CV) e 1963 (com o motor de 845 cm3 com a mesma potencia mas com 5 cv), e além do motor recebeu alguns detalhes mais luxuosos como:
- tampões de roda específicos;
- aplicações cromadas nos faróis dianteiros e traseiros;
- rebordo cromado para as placas de matricula;
- logos "Renault" e "4 Super" em metal dourado;
- controlo do ar do motor por cabo com pega no interior;
- grelha dianteira especifica;
Na versão de 1963 perde os cromados recebendo antes um novo tablier com painel de controlo de ventilação e aquecimento.


Apesar dos custos mais elevados a Renault 4 Super foi um sucesso tendo vendido 7.216 unidades em 1962 e 26.561 unidades em 1963. Mas mesmo assim em 1964 a Renault substitui a "4 Super" pela "4 Super Export".



1962 Renault 4 "Alfa Romeo"
A Alfa Romeo tinha uma boa relação com a Renault - produzia o Dauphine desde junho de 1959 que teve algum sucesso no mercado italiano daí que os italianos pensaram em fazer o mesmo com a Renault 4 nos seus concessionários. E as negociações corriam bem até que a meio de 1961 a nova direção da Alfa mudou de ideias porque iria concorrer com a Fiat e isso não podia acontecer. O acordo foi redefinido para que a produção seja feita na fabrica da Alfa em Pomigliano d'Arco mas ao contrario dos Dauphine as Renault 4 L teriam o logo da Renault e seriam vendidos pela rede da marca francesa.


A produção arrancou em 1962 mas com muitos problemas - os técnicos da Renault auditavam os modelos no final da linha de produção e em janeiro de 1963 eram 139 defeitos recorrentes e em julho do mesmo ano já eram 142 defeitos...numa Renault 4. A Renault enviava longos relatórios aos dirigentes da fábrica para resolver estes crescentes problemas - ao que os italianos respondiam dizendo que fariam melhor se a Renault mandasse componentes de jeito. A tensão continuou entre os construtores mas mesmo com os problemas a taxa de produção ia ser aumentada...mas foi na direção oposta cortesia da Fiat. Sentindo a concorrência da Renault 4 a Fiat pressionou o governo italiano para que seja instaurado um imposto que tornava incomportável a produção dos Alfa Romeo Dauphine e do Renault 4. Em 1964 a produção da Renault 4 na fabrica da Alfa Romeo chegou ao fim após 41.809 unidades e foram precisos mais 2 anos para despachar o stock acumulado devido ao imposto colocado.



1962 Renault 4 Sinpar
Tal como a "Renault 4" rapidamente passou a "4L", a "Renault 4 4x4" passou a "4L Sinpar" - a Sinpar (Société Industrielle de Production et d'Adaptation Rhodanienne) produzia os kits de tração integral para a 4L. Também produziu outros kits de transformações para a Renault 4 como as Plein-Air.


Estas Renault 4 4x4 foram muito utilizadas pelos serviços públicos e até houve uma versão específica para as forças armadas chamada Torpedo em 1964 (ver mais abaixo) sempre com 4 rodas motrizes, sem tejadilho nem revestimento lateral, com um para-brisas rebatível e flancos da carroçaria cavados para permitir que os 2 ocupantes subam a bordo.



1963 Renault 4 La Parisienne
Em 1963 a Renault faz uma parceria com a revista de moda  Elle para dar um toque feminino à Renault 4: a "Elle prend le volant". Entre março e julho de 1963 a revista propunha que as suas leitoras testassem durante 48 horas modelos específicos para a ocasião com pintura preta envernizada e acabamentos laterais em palha ou padrão escocês. Em apenas 5 meses 4.200 leitoras testaram estes modelos.
Faça ao sucesso da operação a Renault lança em setembro de 1963 a Renault 4 La Parisienne baseada na R4 Super e apenas disponível com o preto Médicis e 3 escolhas da aplicação nas portas: canas, padrão escocês verde ou padrão escocês vermelho. Relativamente ao modelo ensaiado pela revista a R4 Parisienne perde alguns elementos decorativos no interior, mas recebe um monograma "4 Parisienne" na tampa da mala. Em 1964 era vendida por 6.610 francos quando a R4 Super em que era baseada era vendida por 6.350 francos.


Em 1965 recebe uma nova cor (azul marinho) que passa a ser a ser a única cor para este modelo, e a partir de 1966 recebe um novo tablier, volante e painéis de portas. Em 1967 recebe 2 novas cores (verde e vermelho bordeaux), nova grelha dianteira e caixa de velocidades, e a opção de retirar a cobertura das portas.

A 15 de Maio de 1968 a Renault apresenta a R4 Plein Air que marca o fim do R4 La Parisienne.



1964 Renault 4 Torpedo
No final dos anos 50 o exercito francês desenvolveu internamente pequenos veículos aerotransportáveis baseados no Citroen 2 cavalos. Vendo a oportunidade a Renault e Sinpar desenvolveram a Renault 4 Torpedo baseada na R4 Fourgonnette e na transmissão integral da Sinpar.

O tejadilho era rebatível, peso e altura reduzida para transporte em aviões, helicópteros e navios, e podia receber uma metralhadora. Mas acabou por não convencer e não passou de protótipo - mesmo assim apareceu na serie de televisão francesa Tanguy et Laverdure.



1964 Renault 4 Export e Export Super
Em 1964 a Renault descontinua a Renault 4 Super substituindo-a pelos modelos Renault 4 Export com o motor de 4cv fiscais e assentos dianteiros separados e um banco traseiro rebatível. Foi acompanhada pela Renault 4 Export Super que usa o motor de 5cv e no final desse ano chega a versão Fourgonnette. Esta versão era capaz de transportar até 300 quilos da carga tinha vidros traseiros de abrir, assentos traseiro e dianteiro do passageiro eram rebatível para objetos mais compridos e a abertura "girafa" na porta traseira.

Com estes dois novos modelos a produção global passa as 500.000 unidades.

Em 1965 muda pela primeira vez de denominação, de "R4" para "Renault 4" estando disponível em 4 versões:
- Luxe
- Export
- Parisienne
- Fourgonnette
Ao longo do ano continua a haver atualizações, principalmente como a versão Renault 4 Luxe passa a ser apenas "Renault 4" com o tablier e volante desta versão a ser usado em todas as versões. As versões Export e Parisienne recebem novos assentos e forras das portas.



1966 1 milhões de unidades depois
A 1 de fevereiro de 1966 a Renault 4 atravessa a barreira do milhão de unidades produzidas e continua a acelerar!



1966 Renault-Muschang
Nos anos 60 os buggys tornam-se populares em todo o mundo, principalmente baseados nos chassis dos Volkswagen Carocha cobertos com carroçarias plásticas. Eram muito utilizados para lazer mas também para competições desportivas em todo terreno. E a meio dos anos 60 o concessionário Muschang da Renault em Arlon (Bélgica) resolveu entrar neste mercado construindo, nos tempos livres, uma máquina infernal. Aproveitaram o chassis de uma Renault 4 e modificaram-no para colocar 2 motores de Renault 4 de 850 cm3, um atrás e outro à frente. E como se poderia esperar de um projeto feito nos tempos livres, este automóvel de 2 motores tinha 2 embraiagens, 2 aceleradores e 2 manetes de caixa de velocidades!

A carroçaria plástica foi feita pela Apal aproveitando vários elementos de Renaults que tinham à mão: para-brisas e grelha dianteira de uma Renault 4, faróis dianteiros de um Renault 12, piscas do Renault Estafette, faróis traseiros de um Renault 8 e outros.


Concluído o protótipo a Muschang inscreveu a sua máquina em competições de todo-terreno e conseguiu alguns bons resultados. Venceu 2 de 5 etapas da edição de 1966 do rally des Cimes e chegou em 2º lugar da geral na edição de 1967. Venceu o campeonato da Bélgica desse ano.

Com esses resultados a Muschang resolveu desenvolver uma versão civil mas nesta o condutor só podia ativar um dos motores, escolhendo entre tração e propulsão. As performances não eram muitas, desenvolvia 60 cavalos e atingia 130 km\h de velocidade máxima, mas era capaz de subir rampas até 60% de inclinação. Infelizmente apenas 10 exemplares foram produzidos, mas a história da Muschang não acaba aqui.



1967 Renault 4 Apal-Muschang
Em paralelo com o Renault 4 bimotor a Muschang e a Apal desenvolveram uma carroçaria plástica para a Renault 4 para a transformar num veiculo de lazer capaz de rivalizar com o Citroen Mehari. Foram produzidas 50 unidades.



1967 Primeiro facelift
Em setembro de 1967 a Renault 4 recebe a primeira grande atualização - visual e mecânica.

A frente foi redesenhada recebendo uma nova grelha mais imponente que abarca os faróis dianteiros e o logo da Renault muda para a direita, e novos para-choques. Recebe uma nova caixa de velocidades de 4 velocidades sincronizadas que substitui a anterior de 3 velocidades.



1968 Renault 4 Plein Air
Os anos 60 foram também o período dos "beach cars", automóveis feitos a pensar no verão, praia e lazer. Com o sucesso do Citroen Mehari lançado em 1968 a Renault não quis ficar atrás e em maio de 1968 apresentou a sua versão baseada na Renault 4 Parisienne: a Plein Air.
A transformação era feita pela Sinpar, que também produzia as versões 4x4. A Plein Air aproveita o chassis da Renault 4 até ao pilar A, mas a partir daí é diferente: desaparecem as portas, pilar B e C, a tampa da mala foi cortada em dois e o tejadilho passa a ser lona montada numa estrutura tubular. 




Para compensar a perder de elementos estruturais a Plein Air reforços laterais. Mantem os tampões das rodas e para-choques cromados da versão Parisienne. Debaixo do capot está o motor de 5 cavalos fiscais do tipo 800-01 de 845 cm3 desenvolvendo 27 cavalos acoplado à caixa manual de 4 velocidades sincronizada.


Este modelo foi comercializado em vários países como a França, Alemanha, EUA e Canada onde uma vintena de Plein Airs foram viaturas de serviço na exposição mundial de 1968 em Montreal.


Este modelo foi descontinuado em abril de 1970 poucos meses depois do lançamento tendo sido produzidos pouco mais de 500 exemplares - era cerca de 15% mais caro que o rival Citroen Mehari.



1969 a 1975 Melhorias várias
Entre este período a Renault 4 recebe múltiplas melhorias como cintos de segurança à frente, o sistema elétrico passa de 6 para 12 volts, melhorias a nível do motor, caixa de velocidades do Renault 6, cintos de segurança de série à frente em todos os modelos e atrás em 1972 e outras. Em 1971 são ultrapassadas as 3,5 milhões de unidades vendidas e é o modelo mais vendido da Renault.



1970 Renault Rodéo 4
Como escrevi acima a Renault 4 Plein Air foi um fracasso comercial - pouco mais de 500 exemplares foram produzidas em 2 anos de comercialização. Mas a Renault não ia deixar o Mehari fugir com o mercado e lança um desafio a carroçadores para que apresentem propostas para um veiculo recreativo baseado na Renault 4. A ACL (Atelier de Construction du Livradrois) venceu esse concurso com uma receita já conhecida - baseada numa Renault 4 Fourgonnette com o motor de 845 cm3 e 30 cavalos em que montaram uma carroçaria em fibra de vidro aproveitando o máximo de componentes Renault. 


As vendas arrancaram, inicialmente como o Renault Rodeo e mais tarde apenas Rodeo 4, em abril de 1970 com 4 versões e durou até 1981.



1972 Renault Rodeo 6
Em 1972 a Renault apresenta o Renault Rodeo 6 - continua a ser baseado na Renault 4 Fourgonnette, mas com o motor de 1,1 litros do Renault 6. Isso obrigou à mudança do nome do 1º Renault Rodeo para Renault Rodeo 4 e recebendo faróis novos no processo. 

Os Renault Rodeo 4 e Rodeo 6 coexistiram até 1981.



1976 Renault 4 Safari
Uma série especial muito particular produzida entre 1976 e 1978 baseada na Renault 4 L. Mantinha a já conhecida combinação do motor de 782 cm3 com 27 cavalos acoplado à caixa de 4 velocidades sendo capaz de atingir 110 km\h, mas era a apresentação que a tornava particular, e se ver com atenção temos alguns dos elementos dos crossover atuais: os elementos cromados foram substituídos por elementos em preto como os para-choques, pegas das portas, espelhos retrovisores, proteções de carroçaria e cores de carroçaria vivas. 

No interior temos assentos de estrutura tubular com encostos de cabeça cobertos de tecido às riscas em linha com a cor da carroçaria.





1977 - 5 milhões
Em setembro de 1977 atinge-se um marco importante: a unidade 5.000.000 deixa a linha de produção com algumas alterações para o momento.
A grelha de ventilação dianteira passa a ser em plástico, o vidro traseiro é desembaciante de série, o limpa-vidros passa a ter 2 velocidades e nova organização nos nomes: a Renault 4L passa a ser apenas Renault 4, as carrinhas normais passam a ser as F4 e as longas passam a ser as F6.



1978 Renault 4 GTL
Lançada em Janeiro de 1978 chega a versão GTL, foi uma das mais bem sucedidas versões da Renault 4.

Exteriormente a grelha dianteira, para-choques dianteiro recebem proteções nas extremidades, vidros traseiros na carrinha deixam de ser fixos, para-choques e proteções de carroçaria no mesmo tom de cinzento. Debaixo do capot está o motor de 1108 cm3 do Renault 8 a debitar 34 cavalos DIN, mas mesmo com o maior motor e melhores performances consegue manter a classificação fiscal de 4 CV, ser mais fiável e mais económico (em 1 l/100 km). A versão Safari deixa de estar disponível.




1978 Renault 4 Pick-up Teilhol
O nome Teilhol é certamente familiar aos fãs da Renault pela produção dos Renault Rodeo, mas também produziram uma versão pick-up da 4L capaz de carregar 465 quilogramas de carga. Era baseada numa Renault 4 F6 sem alterações mecânicas. Inicialmente os bordos laterais da caixa de carga eram de plástico com o resto a ser em aço, mas mais tarde a caixa de carga passou a ser totalmente em aço.





1981 Renault Rodeo 5
Em julho de 1981, aproveitando o sucesso de ambos Rodeo 4 e Rodeo 6, a Renault substitui ambos pelo Rodéo 5.





1981 Renault 4 Jogging
Para celebrar os 20 anos de carreira a Renault preparou uma série especial: a Renault 4 Jogging. Era baseada na 4 GTL e foram apenas produzidas 5.000 unidades. Não houveram quaisquer melhorias mecânicas, apenas cosméticas. 


No exterior recebe uma pintura branca com os para-choques, uma lista arco-íris, tejadilho de abrir, protetores das portas, retrovisores em azul. No interior o tablier e retrovisor interior são em branco, os assentos e forras das portas recebem um tecido azul com linhas amarelas, vermelhas e verde. E como piece de resistance era incluído um saco desportivo com o mesmo tecido dos assentos. Atualmente é dos modelos mais procurados e valorizados da Renault 4.



1981 Renault 4 "Decouvrable Heuliez"
Não ia incluir este modelo mas não resisti porque tem uma historia interessante - este modelo nunca foi produzido em série, existe apenas 1 exemplar que foi homologado para a estrada e ainda hoje em dia existe.
No final dos anos 70 a Heuliez estava a estudar a possibilidade de construir uma versão descapotável de um automóvel popular que o construtor pudesse implementar com a baixo custo tendo produzido 2 protótipos: um baseado no Renault 11 e outro baseado na Renault 4. O Renault 11 foi abandonado, mas o trabalho continuou com a 4L.

O tejadilho era de lona podendo ser completamente recolhido e o chassis reforçado para compensar a perda de rigidez. Este modelo completamente funcional foi apresentado no salão de Genebra de 1981 e foi bem recebido pelo público. Com essa receção a Heuliez foi bater à porta com o projeto completo pronto para ser implementado, mas infelizmente a Renault não aceitou.


Este protótipo foi encontrado e restaurado por um colecionador depois de o encontrar abandonado em Marselha. Atualmente é presença obrigatória nos principais encontros dos aficionados da "4L".



1981 Renault JP4
Este modelo é o resultado da paixão de dois grandes amigos da Bretanha Gerard Maillard (designer) e Patrick Fauchet (mecânico) que queriam mostrar a todos os que podiam fazer e decidiram produzir dois veículos de lazer (um para cada um) para levarem de férias, escolhendo o Renault 4 e Renault 6 como base.

A receção foi tal que em 1981 os amigos montam a Car Système em Redon para comercializar a sua ideia - quem tiver uma Renault 4 (carro ou carrinha) pode simplesmente entrar e converter o seu automóvel num veiculo de lazer: o JP4 (sim, JP de Jeep). O chassis é reduzido em 20 centímetros, distancia ao solo aumentada, 2 assentos, arco de segurança, um kit de carroçaria com largos para-lamas em plástico e alguns modelos recebiam ainda um capot e grelha específica. Tudo por 15.000 francos mais a viatura que o cliente tinha que fornecer.
Um valor elevado sem dúvidas mas as encomendas começaram a entrar e tudo corria bem para a pequena empresa. Em 1983 Gerard Maillard abandona a empresa e quando o fim parecia inevitável várias personalidades da região juntaram-se para salvar a empresa criando a "Car Système Style". A nova empresa conseguiu sobreviver mais um ano mas abre falência em 1984 - mas a história não acaba aqui.
Os funcionários despedidos pegaram na indeminização que receberam, foram ter com Yves Rousteau e relançaram a empresa com o objetivo de conseguir a homologação europeia - a única forma de conseguir os volumes necessários para sobreviver. E em 1986 não só conseguiram a homologação como a Renault bateu-lhes à porta com a proposta de fornecimento das mecânicas novas que eles precisavam e distribuírem os JP4 pela sua rede de concessionários.



1982 E3D Chipie
Um modelo pouco conhecido que não resisto a incluir: o Chipie da E3D. Tal como o JP4 acima, o Chipie é resultado da parceria de 2 amigos: Robert Sulpice (designer da Renault) e Jean Louis Cariou (engenheiro da Matra) que criaram um kit-car para ser montado em cima do chassis de uma Renault 4.


Este kit podia ser montado por qualquer pessoa em cima de qualquer chassis da 4L. Não há números exatos de produção, estima-se que algumas dezenas de kits foram produzidos antes da E3D fechar em 1986.



1985 Renault 4 Sixties
Em 1985 a Renault 4 completava 24 anos de carreira e com a concorrência de modelos mais modernos (o Super 5 tinha chegado) a "4L" começava a perder algum brilho, mas continuava a ser uma opção para quem queria um automóvel novo sem arruinar a conta bancária. Então como reavivar o interesse num modelo? Uma série especial claro! Assim nasce a Renault 4 Sixties cores vivas, equipamento adicional e produção limitada (apenas 2.200 unidades).

A Renault 4 Sixties era baseada na mais potente Renault 4 GTL (motor 1.108 litros e 34 cavalos), estava disponível em vermelho, amarelo e azul, e dependendo da cor que escolhia a viatura teria uma lista lateral com as outras duas outras cores com os restantes elementos em preto. No interior podia ter dois tetos de abrir (um para fila de assentos) e assentos nas cores da carroçaria.

Foi apresentada em Março de 1985 com um preço de 41.000 francos, bastante mais que os 39.000 francos que custava a GTL em que era baseada. Tornou-se num dos modelos mais procurados pelos colecionadores.



1986 Renault 4 Clan e Renault 4 Savane
As Clan e Savane foi a ultima mudança de nome da Renault 4: a Renault 4 TL vira a TL Savane com o motor de 956 cm3 a debitar 34 cavalos DIN e a GTL passa a ser a GTL Clan com o motor de 1.1 litros da mesma potência. Exteriormente eram identificáveis por autocolantes com os nomes e jantes especificas (a Savane recebe as jantes do Renault 5 GTL e a Clan as jantes bicolores dos Renault 12 e 16.

Acima a Savane e abaixo a Clan.




1992 Renault 4 Bye Bye
Tudo tem um começo e um fim, e a obrigatoriedade de um catalisador foi a ultima gota para a Renault 4. E para sair em estilo a Renault produziu uma ultima série limitada de 1000 unidades numeradas baseada no GTL Clan: a Renault 4 Bye Bye. 


O exemplar número 1 está no museu da Renault.
Algumas unidades foram ainda produzidas no estrangeiro em 1993, mas em 1994 as encomendas foram encerradas e foram produzidas apenas 156 unidades nesse ultimo ano.



2011 Renault 4L Miss Sixty
Não é uma série especial, nem foi comercializado - para celebrar os 50 anos da 4L a direção do Design e o serviço de históricos da Renault colaboram em produzir um modelo único baseado numa 4L de 1965. 
Recebe a mesma cor Rosa Boémia e listas do Twingo Miss Sixty e os faróis traseiros são fumados. O interior foi completamente recuperado com tecido jeans cinzento com linha rosa.



Desporto automovel
1980 Renault 4 Rallye Dakar
Sim, uma Renault 4 participou no Paris-Dakar na edição de 1980 terminando no 3º lugar da geral. 
Esta Renault 4 Rallye Dakar tinha o motor do Renault 5 Alpine grupo 2, a transmissão integral da Simpar, triângulos inferiores do Renault 5 Alpine, suspensão e amortecedores específicos, soldagem adicional e por alguma razão o escape está no tejadilho. Este mesmo modelo participou também nas edições de 1981 e 1982 do Rally Paris-Dakar.





1981 Renault 4 Cross Elf
A Renault 4 Cross Elf era um trofeu monomarca de auto-cross lançado pela Renault em parceria com a Kebler e ELF com o objetivo de identificar jovens talentos do desporto automóvel. 
A receita era simples: um campeonato de 10 corridas ao fim de semana em circuito de terra com Renault 4 com mecânica original sendo acrescentado apenas os sistemas de segurança (a que chamavam a 4L Cross) e o prémio final era um Renault 5 LS para participar no trofeu Gordini.



1996 Renault 4L Trophy
O "4L Trophy" é um "rally humanitário" que arrancou em 1996 e é acima de tudo um curso de navegação em Marrocos. 
Cada equipa tem que levar material escolar, desportivo e uma doação mínima para a associação humanitária "Les enfants du desert" (https://enfantsdudesert.org/) sendo o material doado a crianças marroquinas.



Vídeos
1966 Routes du monde: Les 4 ELLE


1968 Routes du monde

1968 Routes du Monde Afeganistão


Publicidade - 1973 "Demande-lui beaucoup" por Michel Fugain

Publicidade - 1983 "El jean sobre ruedas"

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