Airbags que matam - by Takata

Tenho seguido com grande atenção o debáculo da GM e da ignição defeituosa que tem todos os elementos de uma tragédia grega - mortes, mentiras, advogados e politica em algo difícil de acreditar que está a acontecer nos tempos modernos. Infelizmente perdi a linha a outro debáculo que decorre em paralelo e com o mesmo cenário: falo da Takata e dos milhares de airbags defeituosos que ao invés de salvar vidas podem matar.

Para quem nunca ouviu falar a Takata é um fornecedor japonês de componentes automóveis principalmente de componentes de segurança como cintos de segurança e airbags e não é propriamente estranha a manobras ilegais - em 2013 3 executivos da Takata deram-se como culpados por tentarem combinar preços com concorrentes para o fornecimento de cintos de segurança às fabricas americanas da Toyota, Subaru, Honda, Mazda e Nissan, sendo a empresa condenada a pagar uma multa de 71.3 milhões de dólares.

Mas com os airbags passamos de crime de colarinho branco a homicídio: ao invés de encherem como deviam estes podem explodir e projectar estilhaços a grande velocidade para dentro do automóvel - e isto já começou em 2001! Mas 13 anos mais tarde parece que nem Takata nem construtores automóveis perceberam de onde vem o problema. O problema é amplificado porque devido aos preços que pratica fornece muitos dos grandes fabricantes de automóveis.
 
Cronologia de uma tragédia
Creio que a melhor forma de ilustrar o problema é uma cronologia desde o inicio:
2001
O arranque da tragédia grega Takata - segundos os registos federais a Takata lançou a primeira recolha de airbags instalados em Isuzu's devido a um defeito de fabrico que faria os airbags explodir violentamente.

2008
Durante 7 anos nada surgiu mas em Novembro de 2008 tudo recomeça com com a Honda a ordenar a recolha de 4.000 automóveis depois de ter descoberto que tinham airbags com deflagradores que explodiam com força excessiva e espalhavam estilhaços metálicos em todas as direcções. Apartir deste ano começa o efeito bola de neve.

2009
Em Maio surge a primeira fatalidade - Ashley Parham morre ao volante de um Honda Accord quando tem um pequeno acidente no parque de estacionamento de um liceu. O airbag explodiu e projectou estilhaços que feriu Ashley no pescoço e matou-a. O caso foi abafado com a Honda e Takata a pagarem à família da vítima.
Em Dezembro mais uma vitima mortal - Gurjit Rathore estava ao volante do seu Honda Accord quando teve um pequeno toque a baixa velocidade próximo da sua casa, mas o airbag explodiu e os estilhaços atingiram várias artérias no seu pesçoco. Ela morreu da hemorragia em frente aos seus 3 filhos.

2013
Em Abril Toyota, Honda, Nissan e Mazda ordenam a recolha de 3,4 milhões de automóveis em todo mundo devido a airbags da Takata. Em Setembro surge a terceira vítima mortal: Devin Xu morre ao volante do seu Acura TL ao ser atingido na face por múltiplos fragmentos provenientes do interior do airbag. Em Agosto um condutor de um Honda perdeu um olho quando o airbag deflagrou e um pedaço de material perfurou o olho direito e cortes na face que precisaram de 100 pontos. Algo que veio a repetir-se em Abril de 2014 um condutor sofreu ferimentos semelhantes, não perdendo a vista porque usava óculos.
 
2014
Em Junho, quando o número de automóveis recolhidos atinge os 10,5 milhões em 5 anos, a NHTSA começa oficialmente a investigar o problema. Em Outubro surge a 4a vitima fatal quando a senhora Hien Thi Tran morre devido à explosão do seu airbag num Honda Accord. A causa de morte inicial foi de esfaqueamento no pescoço e só mais tarde é que se fez a ligação ao airbag - infelizmente esta senhora comprou o seu automóvel em segunda mão e nunca recebeu a informação da recolha.
 
Em Novembro o New York Times cita 2 funcionários da Takata que afirmam que a empresa testou secretamente airbags em 2004, mas depois de os resultados terem sido apresentados à direcção nada foi feito e todos os registos e conclusões foram destruídos. Segundo estes funcionários depois de um acidente em 2004, a Takata começou a recolher airbags de automóveis em sucatas para os testarem. Tudo feito depois dos horários de trabalho e fins de semana para que não houvesse registos e testemunhas. Alegadamente encontraram 2 airbags com rachas em componentes internos. Começou-se a trabalhar numa solução mas o trabalho teria sido interrompido e toda a informação destruída. Segundo as fontes anónimas o vice-presidente da Takata tinha conhecimento destes testes - um problema é que a Takata afirma que apenas começou a investigar o problema em 2008.
Mas segundo estas fontes os problemas de controlo de qualidade vão mais longe e deram vários exemplos - numa situação uma empilhadora deixou cair um contentor de componentes de airbags e não foram inspecionados antes de os colocarem na linha de montagem. Noutra situação descobriu-se que camiões de transporte de componentes estavam a deixar entrar água e mesmo depois de se ter descoberto uma solução não foi aplicada devido à pressão para assegurar o ritmo de produção.
 
Claro que a Takata veio disputar esta noticia do New York Times - segundo eles os testes que fizeram foi na procura de rupturas nos sacos insufláveis/almofadas e não de rupturas nos deflagradores como noticiado.
 
Ainda em Novembro surge também a 5ª vitima fatal e primeira fora dos EUA - segundo o New York Times uma mulher grávida morre au volante de um Honda City quando o airbag deflagrou num acidente. Este acidente arrancou outra recolha de 170.000 automóveis Honda na Europa e Ásia.
 
 
Concluindo
E tal como a GM terá uma visita ao senado americano. Que se sentir tentado a traçar um paralelo há um factor muito importante sobre como ambas as empresas lidaram com a situação - Mary Barra deu o corpo ao manifesto, já o CEO da Takata Shigehisa Takada simplesmente pirou-se.
 
A verdade é que ninguém sabe exactamente o que há de errado com estes airbags do inferno. Depois da recolha de 2001 a Isuzo disse que o deflagradores eram potentes demais. Em 2013 a Honda disse que "era possível que o deflagrante não estivesse conforme as especificações". Já quando a NHTSA estudou as recolhas de Novembro de 2009 e Maio 2010 (que a Takata disse que o problema tinha sido causado pela exposição dos deflagrantes a humidade) concluiu que a mais provável origem do problema vinha de um problema da produção doas pastilhas do deflagrante que não eram suficientemente densas e daí susceptíveis a combustão excessivamente violenta. E segundo o NHTSA nenhuma das recolhas entre 2008 e 2011 tinha algo a haver com condições atmosféricas - algo que choca com muitos "peritos" que dizem que com a humidade acumula-se com o tempo e isso causa a explosão. Depois de os airbags terem deflagrados não é possível saber o que errado há com eles.
 
Os americanos estão a recolher e analisar airbags para tentar descobrir algo que possa justificar este comportamento. Esperemos que alguém chegue a uma conclusão - desde 2008 até este momento, mais de 11 milhões de automóveis de 10 construtores diferentes (se bem que a Honda é o maior cliente e todas as vitimas mortais foram em Honda's) foram recolhidos devido a estes airbags.

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