Salão de Paris 2012 - sinal dos tempos?

Agora que o pó assentou depois do Salão de Paris creio ser boa altura para medir o pulso ao evento e às marcas que participaram - um salão automóvel não é só sobre novidades com 4 rodas, há que ler nas entrelinhas.
Uma maneira de medir o estado da industria automóvel é pela presença dos concepts exuberantes nos principais salões automóveis - em 2012 o Salão de Paris substitui o de Frankfurt como o principal da Europa (o de Genebra é mundial), e a verdade é que foram muitos poucos: tivemos o Peugeot Onyx, Nissan Terra, o Audi Crosslane, Smart Forstars e o Ssangyong e-XIV.



Estes concepts exuberantes fazem miúdos e graúdos sonhar com um futuro melhor e aliciante, mas nesta edição ficaram a xuxar no dedo. Os McLaren P1, Lexus LF-CC e BMW Active Tourer podem chamar-se concepts mas são quase de série com um pouco de brilhantina.

Demonstra a ausência de ideias/consenso de como vai ser o automóvel do futuro. Até do que o vai motorizar - o eléctrico em massa aparentemente esta fora com apenas a Renault ainda parece acreditar ao apresentar o Zoé (mas também este deve sofrer com o custo da bateria e lentidão da carga) e o hibrido parece ser o caminho a seguir a nível de motores mas poucos se tornam realidade (tirando a Toyota claro), mas na prática temos o recurso ao "downsizing" que só por si não vai bastar para cumprir os limites de emissões que se aproximam. Mas acima de tudo qual é o caminho para a crise da industria automóvel Europeia?

Além do fecho/saída de fábricas na Europa (que quase todos os CEOs falaram no decorrer do Salão de Paris), é fácil ver os caminhos que cada construtor se prepara para enveredar - construir os mesmos modelos para todo o mundo (Ford com o Mondeo, Fiest, Focus, etc), adaptar modelos de outros mercados (Opel Mokka, Buick), explorar nichos (BMW Active Tourer aka GT1, Audi Crosslane Coupé aka Q2 coupe e Porsche Panamera Sport Turismo), subir a qualidade da gama (Opel Adam, Peugeoy 208 XY) ou o caminho inverso com Low Cost (Citroën C-Elysée, Dacia, Peugeot 301).


Não foram apenas os sonhos que estiveram ausentes desta edição do Salão de Paris. Uma das ausências inesperadas foi o BMW GT3 - os protótipos camuflados há muito que circulam na Europa e as formas parecem já fixadas e para mim seria interessante ver um serie 3 monovolu...mais pratico, queria eu dizer. Ficamos pelo futuro GT1 de tração dianteira (Active Tourer).

De Itália pouco veio - a Ferrari sempre levou o F12 Berlinetta já apresentado em Genebra, mas o antecipado substituto do Enzo nem vê-lo: alias só se via um pedaço dele - apenas o chassis em carbono estava exposto. A Alfa Romeo levou os MiTo e Giulietta mas os Giulietta carrinha, Giulia ou o SUV Alfa continuam no mundo dos sonhos. E a Fiat apenas levou mais um 500.

Um salão um pouco delapidado que faz antever um cenário um pouco sombrio para a industria automóvel. Seguimos então silenciosamente para a noite escura e fria? Não, e curiosamente a esperança vem do pessoal menos dado a estas coisas - os Alemães.

Apesar de não ter levado o RS6 (que esperava uma vez que a BMW há muito concentra as atenções com o novo M5), a Audi sempre levou os S3, RS5 Cabriolet, R8 (restyle), o concept Crosslane Coupé (que anuncia o Q2) e o A3 Sportback.






Depois tivemos o Volkswagen Golf, Seat Leon e Skoda Rapid. A Opel teve o seu Adam e a Porsche o Panamera Sport Turismo. Só faltava mesmo a cerveja, salsichas e as empregadas com os grandes decotes para estarmos no Ocktober fest...

Mas podemos sempre contar com os Ingleses para estragar um pouco a festa aos alemães (sem o Spitfire desta vez) - tivemos a McLaren com o P1, a Land Rover a apresentar o novo Range Rover e a Jaguar roubou completamente a luz da ribalta com o Type F.


Quase todas as capas das revistas mais recentes tinham o F-type ou o P1 na capa!


O que me dá alguma esperança - a industria automóvel (como quase todas as industrias na Europa) está em crise, mas entre todo este espesso e pesado nevoeiro que parece engolir todos nós ainda há apaixonados pelo automóvel dispostos a correr riscos e colherem os louros ou falharem ruidosamente - ir silenciosamente para a cova não é opção para estes. E a eles tiro o meu chapéu, que nunca desistam e continuem a fazer-nos sonhar...

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