Industria automovel na Europa - futuro?

Quem segue os artigos do 4rodas1Volante sabe que gosto de deambular, mas ocasionalmente gosto de pôr um ar sério e falar de temas importantes - neste caso a crise actual que afecta o sector automóvel na Europa e o que podemos esperar no futuro. E aproveitando as palavras de um italiano...


Sergio Marchionne acusou a Volkswagen de seguir uma estratégia de preços agressivos quando a industria automóvel europeia esta a sofrer com a crise actual. Citando directamente as palavras um Marchionne ligeiramente chateado “It’s a bloodbath of pricing and it’s a bloodbath on margins” ("é um banho de sangue de preços e margens").

Ou seja, acusa a VW de piorar o actual cenário de sobre-capacidade produtiva e crise de divida soberana da Europa com uma guerra de preços - ou seja, aproveitar para afundar a concorrência. Algo a que a Volkswagen recusa e como resposta a VW exige que Marchionne deixe de dirigir o European Auto Trade Group ACEA.

Infelizmente isto é mais que um episodio da guerra entre Sergio Marchionne (Fiat) e Ferdinand Piech (Volkswagen) - arrancou quando a VW mostrou interesse na Alfa Romeo, algo que Marchionne disse nunca permitir. Ao que Piech respondeu "Fiat isn't struggling enough yet", a Fiat ainda não esta a sofrer o suficiente para ter que vender a Alfa Romeo. E antes disso, a falha da Fiat em adquirir a Opel que Marchionne ainda culpa na VW.

Mas terá Sergio razão - estará a VW num plano de domínio global e pretende levar tudo à frente? 

Infelizmente, até pode ter alguma razão... Primeiro põe o dedo na ferida que nenhum politico quer falar: acabar com sobre-capacidade produtiva, ou seja, encerrar fábricas e despedir pessoal - algo que os franceses e alemães se recusam a fazer (alemães entenda-se Opel, porque todos os restantes alemães continuam com lucros). Isto pesa nos construtores e ameaça arrastar as marcas para o fundo e no fim o resultado é o mesmo: desemprego e falências. 

Outro ponto que pode ter a sua razão - a Vw é (creio) o segundo maior construtor a nível mundial e (segundo Marchionne) esta a canalizar os lucros da China para alimentar esta tal campanha de preços agressiva. Mas mesmo sendo verdade é possível criticar a Volkwswagen? 

Há muito que o grupo VW colocou um plano em marcha para chegar ao topo das vendas - algo que qualquer construtor automóvel deseja e aposto que todos eles fizeram esses planos. Mas aparentemente o da Vw esta a funcionar enquanto os planos dos restantes construtores não - tal como no xadrez há que pensar várias jogadas à frente e a VW acertou. Muitos gozaram com o sistema de construção modular da VW como desnecessário mas a verdade é que actualmente este sistema é cerca de 30% mais barato relativamente à produção clássica de plataformas. 

Sim, a ser verdade não é bonito mas estamos num mercado aberto e a culpa também cai nos construtores agora em perda que não souberam ler os sinais e nos governos que teimam em não tomar medidas concretas e duradouras para este sector: e esqueçam novo incentivo ao abate não dá porque é muito caro para os estados (que estão tesos) e os consumidores querem é pagar as contas e não comprar automóvel novo. 

Marchionne é sem duvida um grande CEO e aprecio a sua sinceridade, mas creio que esta a direcionar a sua energia ao alvo errado - proponho aponte as suas energias para os lados de Bruxelas.

É que se esperava que o mercado começa-se a recuperar apartir de meio de 2012, mas infelizmente a Morgan Stanley e Credit Suisse dizem que as vendas de automóveis novos na Europa podem cair mais 21,9%. O que significa em euros? O Deutsche Bank acredita que Opel, Ford, Peugeot-Citroen, Renault e Fiat vão perder mais de 4 mil milhões de euros só este ano! E a acreditar nos senhores do Credit Suisse 2013 vai cair mais 1% relativamente a 2012, ou seja, a crise vai-se prolongar até 2014.

Cerca de 50% dos automóveis vendidos actualmente são de marcas que estão a perder dinheiro - tirando as fábricas das marcas alemãs (Opel não incluída), as restantes fabricas estão a trabalhar a 65% da capacidade - algo que não pode durar muito mais. E os americanos mostraram o caminho - consolidar e/ou redução de capacidade produtiva.

Mas infelizmente, tomar decisões sérias na altura certa é algo que políticos não gostam de fazer, normalmente tomam o caminho mais fácil: o protecionismo. E já a pistas para isto - nas recentes eleições francesas o senhor Hollande defendeu a imposição de um imposto sobre os produtos importados mascarada como um imposto ambiental que penalizava produtos vindos de fora da França já que têm uma maior pegada ambiental. Medida populista com 2 possíveis finais - guerra comercial entre países ou o fim da deslocalização de empregos na industria em geral...sinceramente, o mundo é actualmente muito mais pequeno e não volta ao passado daí acredito mais na 1ª possibilidade. 

De uma maneira ou de outra 2013 será o ano decisivo - ou o mercado vai ao sítio por si ou os governos têm de tomar medidas. Até essas medidas chegarem, vejo alianças forçadas entre marcas em perda com as marcas mais sólidas com quem já têm parcerias - Renault\Nissan com a Mercedes ou PSA com BMW entre outras possibilidades.

Devem ter visto que não falei na Opel...é que de todos os construtores generalistas, a Opel é a única que vejo com risco de desaparecer. Espero que não, mas a verdade é que a marca continua a perder dinheiro e ao contrario da GM que conseguiu rapidamente dar a volta a situação nos EUA e voltar aos lucros a Opel não consegue. Esta pode ser a ultima tentativa da GM para salvar o construtor alemão. 

2013 aproxima-se e não parece bonito...senhores políticos MEXAM ESSE CÚ!

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