A importância de um nome

Quem segue o 4rodas1volante sabe que eu tenho 2 filhos: uma Leonor e um André. Tenho também uma sobrinha Gabriela e em breve vou ter mais um sobrinho para a equação - um Santiago. Curiosamente, o filho não é meu e tem sido um reboliço cá em casa porque andamos a tirar todas as coisas de bebés que temos arquivadas (é o primeiro filho da minha cunhadinha) e sempre recupero algum espaço na garagem - já consigo meter o carro na garagem! Mas a chegada do Santiago trouxe também de volta à memoria o problema de dar o nome a uma criança.

No nosso caso aplicamos ciência - imprimi uma lista dos nomes portugueses, risquei aqueles que não gostava, dei a lista a minha cara-metade e ela riscou os que ela não gostava. E no fim negociamos os que sobravam e chegamos a acordo. É uma etapa fundamental e critica para o desenvolvimento da criança - nomes simples podem dar origem aos mais espalhafatosos diminutivos (que em certos casos nem sequer diminuem mas sim aumentam o numero de letras do nome, por exemplo de Ana chegamos a Aninhas, ou até mesmo Anita que não é um diminutivo mas sim um nome próprio) em casos ainda mais bicudos temos os nomes menos usuais que apesar de válidos pela dificuldade em prenunciar ou pela complexidade levam a que as crianças sejam gozadas pelos seus colegas.  Ou algo pior...
O mesmo aplica-se à industria automóvel - é preciso um nome que soe bem em qualquer parte do mundo e que dê a imagem certa em qualquer parte do mundo. Se numa criança o nome certo abre um mar de possibilidades da vida enquanto o nome errado pode resultar numa vida de bocas e comentários menos próprios, num automóvel o nome errado pode não só comprometer as vendas de automóveis no mercado como tornar-se uma anedota - não é só o preço que conta...
Curiosamente, os americanos têm jeito para nomes de automóveis porque têm os melhores - o Chevrolet Camaro, Chevrolet Corvette, Ford Mustang, Ford Thunderbird até o pequeno Chevrolet Sonic soa bem.
Dodge Charger, Dodge Viper, Pontiac Firebird - nomes que fazem o pulso masculino acelerar e senhoras ficarem com suores frios.
Costumo gozar com os americanos por não fazerem grande coisa bem mas sabem dar um nome a um automóvel. Claro que também tiveram os seus momentos infelizes, como o Ford Probe (Probe = sonda) por exemplo.
Os Europeus...bem, nós damos uma no prego outra no dedo - por um lado temos o Diablo, Gallardo, Vanquish mas também tivemos o Golf, Maestro, Cordoba, Fiesta nomes que não geram grande dose de adrenalina. A Fiat teve o Fiat Idea - imagino a reunião em que todos tentavam dar o nome ao automóvel e alguém levantou-se e disse "Tive um ideia" e ficou. Mais recentemente tivemos a Audi a registar o nome "e-tron" para usar provavelmente para designar os modelos eléctricos da marca dos anéis, mas recentemente descobriram que em países francófonos, "E-tron" pronuncia-se a algo muito próximo de "grande poia" em Francês...
Daí que muitos construtores como a Peugeot, Citroen tenham desistido de dar nomes e simplesmente usar números. Mais seguro.
Mas se quisermos inépcia para dar dar nomes a automóveis os japoneses são incontornaveis. A sério, por onde começar? Comecemos pela Mitsubishi por exemplo - tiveram a audácia de chamarem "Carisma" a um automóvel tão insípido que se o colocassem entre 2 frigoríficos provavelmente não o via.
Tiveram também o Pajero, um óptimo nome para um óptimo todo-terreno até descobrirem que Pajero em Espanhol, uma das línguas mais faladas no mundo, significa "alguém que bate muitas pivias". Daí em alguns mercados ser vendido como Montero.
E como esquecer o Starion? A Mitsubishi queria dar um nome másculo ao seu coupe e decidiu chamar-lhe de Stalion que significa Garanhão. Mas antes do lançamento do coupe no mercado americano houve uma gafe de comunicação entre o responsável americano e Japonês porque na tentativa de pronunciar Stalion o japonês disse "Starion" e quando deram pela gafe tarde demais - o mundo já o conhecia.
A Mazda também não escapa - sabiam que houve uma Mazda Laputa? A sério! Era o nome de um filme de Hayao Miyazaki mas esqueceram-se de pegar num dicionário Japonês-Espanhol.
A Daihatsu deu-nos o Charade (que obrigou ao fim do Renault 19 Chamade) e o Daihatsu Naked. Yup, o Daihatsu Nú...
Num aparte, já que falamos da razão porque é que a Renault abandonou o nome "Chamade", sabiam que a razão porque a Renault abandonou a designação "Nevada" no antigo Renault 21 carrinha? Sim, o estado americano do Nevada processou a Renault. Simpáticos.
Voltando a nossa atenção aos japoneses, a Nissan teve o Gloria, teve o Sunny (que era tudo menos radioso Sunny = radioso) e quem pode esquecer o Nissan Cedric? Sabiam como é que chegaram a Cedric? Em 1960 o livro "Little Lord Fauntleroy" de Frances Hodgson Burnett era muito popular no Japão e calcularam que seria o mesmo no resto do mundo, dai que os japoneses decidiram dar o nome do herói do livro ao seu novo automóvel...
E como seria de esperar deixei o melhor para o fim - a Toyota. O exemplo mais conhecido é o famoso Toyota MR2 que só depois de lançado no mercado é que alguém chamou à atenção da Toyota que nos pases francófonos MR2 pronuncia-se "Merdeux" = Merdoso. A solução foi o cortar o "2" do nome nos países francófonos.
Mas a cereja em cima do bolo, o Oscar, match-point, check-mate vai para o ToyoPet. A Toyota sabia que para sobreviver e crescer após a Segunda Grande Guerra era fundamental entrar no mercado americano e queriam fazê-lo com o Toyota Crown.
Era muito usado como táxi no Japão onde as estradas ainda recuperavam dos bombardeamentos e fiável. Um pouco de cromado e o que podia correr mal? Muito afinal, porque foi preciso muito esforço e insistência dos importadores americanos para convencer a Toyota para mudar o nome para ToyoPet: é que a Toyota queria chamá-lo ToyoLet...

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