[update BMW] DieselGate - ponto de situação 25-07-2017

Há já algum tempo que não fazia um apanhado das notícias ligadas ao dieselgate - ficam abaixo os principais desenvolvimentos como sempre sem tretas, conservantes ou adoçantes acrescentados. 

 Jeep e Suzuki com emissões excessivas?
A procuradoria holandesa anunciou que está a investigar possível falseamento de emissões com recurso a software em veículos da Suzuki e Jeep. A investigação foi iniciada com base em resultados de testes de estrada feitos pela autoridade rodoviária holandesa (RDW) segundos os quais o Jeep Grand Cherokee e Suzuki Vitara apresentavam emissões elevadas demais - a Jeep não é novidade, mas a Suzuki é.

Desde 2016 que a RDW investiga possíveis dispositivos de falseamento de emissões em automóveis, principalmente nos óxidos de azoto. Depois de testar 16 construtores apenas a Jeep e Suzuki parecem ter sido identificados com grandes diferenças entre os valores laboratoriais e na estrada - diferenças grandes demais para serem explicadas.

Segundo a RDW o Suzuki Vitara emitia mais óxidos de azoto pouco depois de arrancar e no caso do Jeep Grand Cherokee isso acontecia quando o motor aquecia. Ambas os construtores propuseram e estão atualmente a aplicar "correcções".


Gestor da Audi preso no âmbito do dieselgate
Como escrevi antes os americanos estão a ter alguns problemas em apanhar diretores e outro pessoal do grupo VW porque a Alemanha não extradita os seus cidadãos para fora da Europa - mas o mesmo não se aplica a pessoal não alemão a residir na Alemanha: a polícia de Munique prendeu o antigo diretor de termodinâmica no departamento de motores da Audi Zaccheo Giovanni Pamio, que sendo italiano pode ser extraditado.

É uma detenção que pode parecer menor mas de possíveis grandes consequenciais - os americanos acusam Pamio de ter ordenado os seus engenheiros a desenvolverem uma forma para enganar os testes de homologação norte-americanos...porque não havia espaço para um sistema audio. Segundo os americanos em Pamio tornou-se parte do dieselgate porque os seus engenheiros queixaram-se que o tanque de AdBlue nos modelos com o V6 de 3 litros roubava espaço necessário para um sistema de áudio premium. Por indicação de Pamio, os engenheiros colocaram um tanque mais pequeno e um software que controlava a quantidade de aditivo utilizado assegurando que durante os testes as emissões estavam conforme mas na estrada não. O objetivo era esticar o deposito do AdBlue até à revisão anual.

Terá sido este sistema que terá surgido numa apresentação a um membro da direção da Audi em 2013 - os americanos andam atrás do peixe graúdo e podem vir a ter na mão a pessoa que os vai entregar.


3 diretores da Audi em risco - rumor
Segundo o jornal alemão Handelsblatt 3 gestores da direção da Audi (Dietmar Voggenreiter, Axel Strotbek e Thomas Sigi) podem vir a ser despedidos como um aviso ao CEO Rupert Stadler.

Stadler manteve a sua posição e deverá continuar por mais 5 anos graças às famílias Porsche e Piech, mas estas mudanças (a serem confirmadas numa reunião em Setembro) podem indicar que a cadeira de CEO pode estar a ficar quente demais - especialmente desde que a Audi, sob controlo de Stadler há mais de 10 anos, foi formalmente acusada no dieselgate.  Stadler conseguiu colocar a Audi logo atrás da Mercedes e BMW no mercado premium, mas se implicado no dieselgate será certamente sacrificado.


Gestores da VW avisados um mês antes do escândalo - rumor
Isto é uma noticia do dieselgate que surge 1 vez por mês - segundo o jornal alemão Bild am Sonntag, um mês antes do escândalo (25 de Agosto 2015) rebentar Oliver Schmid (o executivo da Volswagen preso em Miami no inicio do ano) terá dito ao CEO da altura Martin Winterkorn e outros gestores (que incluem Heinz-Jakob Neusser chefe de desenvolvimento da VW na altura, e Herbert Diess ainda diretor da marca VW) que o falseamento das emissões pudera custar até 18.5 milhões de dólares. Segundo o Bild am Sonntag Winterkorn e Diess (acabado de chegar à VW) foram informados do "software" numa reunião a 27 de Julho.

Este é um ponto importante para os investidores que perderam fortunas quando o valor das acções veio por aí abaixo quando a 18 de Setembro o dieselgate explodiu em toda a sua glória. É que segundo as leis financeiras alemãs as empresas cotadas publicamente têm que informar atempadamente os seus investidores de qualquer evento que possa afetar o valor da empresa. Até agora os investidores que processaram o grupo VW por uma compensação dos investimentos perdidos não tiveram qualquer sucesso - mas a provar-se que o grupo esteve a ocultar a situação durante 1 mês isso pode mudar muito rapidamente.


Daimler acusada de falsear emissões em 1 milhão de automóveis
Segundo o jornal Sueddeutsche Zeitung citando um mandado de busca de um tribunal de Estugarda, a Daimler foi acusada de vender entre 2008 e 2016 mais de 1 milhão de automóveis na Europa e EUA com emissões excessivas. Os automóveis em questão estão equipados com os motores de 4 cilindros turbo-diesel OM 642 e OM 651, que estão a ser investigados por possível uso de software para manipulação de emissões.

A Daimler não comenta a investigação, classifica a noticia do Sueddeutsche Zeitung como especulação e irá lutar contra as acusações de que manipulou as emissões nos seus motores.


Daimler chamado ao comité governamental
Desde que o dieselgate explodiu o governo alemão criou um comité para investigar os construtores alemães, e a Daimler foi chamada a responder sobre as recentes noticias que a envolve na falsificação de emissões. A Daimler terá dito ao comité que não quebrou a lei.

A Daimler está e continua em investigação - em Maio a procuradoria alemã invadiu os escritórios da Daimler por toda a Alemanha mas muitos documentos e resultados estão ainda selados legalmente. A noticia do Sueddeutsche identifica o número do processo (260 Js 28161/17), indica que há 2 técnicos que terão "manipulado" o software da gestão destes motores acusados mas não quantifica o número de automóveis afetados.


Audi e Mercedes recolhem automóveis voluntariamente (e BMW)
Tendo em conta o atual cenário a Mercedes anunciou que irá voluntariamente recolher mais de 3 milhões de automóveis diesel na Europa (1 milhão na Alemanha e 2 milhões no resto da Europa) para uma atualização da ECU para reduzir as emissões de óxido de azoto. Ao contrario da VW, a Mercedes decidiu voluntariamente efetuar esta melhoria nos seus carros mas o mais certo é ser uma medida para aliviar a pressão por parte do comité governamental que os investiga e de possíveis multas que venham a ser aplicadas.

A Mercedes não confirmou exatamente quais os modelos que vão ser atualizados mas pelas várias declarações parece que vão ser atualizados todos os diesel vendidos na Europa nos últimos 6 anos com exceção do novo 2 litros estreado no atual Classe E - ou seja, se tem uma versão diesel dos Mercedes:
- Classe A\CLA\GLA
- Classe B
- Classe C
- Classe S
- Classe V
- Classe G
- CLS
- GLC
- GLE
- GLS
- SLS
- SLK
Então deverá receber uma carta em breve no correio - na Alemanha a atualização terá começado a ser feita em Março de 2017. Graças ao acordo entre a Daimler e Renault\Nissan estes construtores têm motores diesel em alguns dos seus automóveis - se estes também estão afetados é uma boa pergunta.
Além da atualização ao software a Mercedes está a acelerar o desenvolvimento de uma nova família de motores diesel para lançar no mercado o mais rapidamente possível.

Em linha com a Mercedes, e provavelmente pelas mesmas razões, a Audi anunciou que ira recolher 850.000 automóveis equipados com os 6 e 8 cilindros diesel Euro5 e Euro6 para atualizar as ECU com o objetivo de melhorar as emissões. A mesma atualização será disponibilizada para os VW e Porsche equipados com os mesmos motores.

Já a BMW disse que não precisa de fazer qualquer recolha dos seus automóveis mais recentes porque incluem captura dos óxidos de azoto com a adição de adBlue, mas fará a atualização gratuita dos seus motores Euro5. - não significa que não fará o mesmo tipo de atualização durante as revisões na marca claro.


Alemanha corre para salvar o diesel
A Alemanha tem um sério problema em mãos - a má qualidade do ar em muitas cidades que esta a ser atribuída ao grande número de automóveis diesel poluidores a circular no seu interior ao ponto que cada vez mais cidades planeiam proibir a circulação deste tipo de automóveis. Cidades como Munique, Estugarda, Hamburgo Paris, Madrid, Atenas e Cidade do México estão entre a crescente lista de cidades a considerar a medida. 

O problema é que se essas proibições seguirem em frente as vendas do diesel vão cair o que é mau para os construtores de 2 formas: torna-se impossível cumprir as metas de emissões de CO2 de 2020 e também vão ter trabalhadores parados o que também sai caro. Em 2016 46% das vendas automóveis na Alemanha foram a diesel e na Robert Bosch (o maior fornecedor de componentes automóveis do mundo) cerca de 50.000 empregos estão ligados à tecnologia diesel.

Para tentar evitar a implementação destas proibições os construtores estão a propor atualizar/corrigir os motores já na estrada (13 milhões de motores diesel aproximadamente) e em Agosto vai haver uma reunião magna do ministério dos transportes e industria automóvel para considerar mais opções para atualizar os diesel mais antigos principalmente os Euro5 - em Maio a BMW e Audi disseram que mais de 50% dos seus motores Euro 5 podiam ser melhorados.

Claro que fica ainda no ar quem irá pagar a conta de todas estas atualizações (governo alemão fala em 1.5 a 2.5 mil milhões de euros mas analistas da HSBC falam em 10 mil milhões) - o problema é que o custo de limpar o diesel continua a crescer e a industria automóvel perdeu quase toda a credibilidade no que toca a este tema. As marcas afirmam ser possível cortar as emissões de óxidos de azoto em 20% via atualizações mas quem é que se acredita neles?

Claro que os políticos das zonas da industria automóvel estão abertos a esta "atualização" que possa impedir as proibições, mas o problema é que pode passar-lhes ao lado: como a qualidade do ar em varias cidades (especialmente nos níveis de óxidos de azoto) continua a ultrapassar os limites há grupos de cidadãos a processar as cidades e tribunais declaram em seu favor obrigando cidades a prepararem proibições nos centros das cidades. Isto já está a acontecer em Estugarda e Munique.

O problema é que anteriores experiências com "reduzir emissões com base em atualizações de software" nem sempre tiveram os melhores resultados - esta medida parece mais um esforço concertado de industria e governo para parecer que estão a fazer algo. 

Infelizmente, as proibições em linha com reformas a nível da taxação automóvel parecem a melhor escolha - é preciso uma mudança e a industria parece querer continuar a agarrar-se ao que está habituada. Alias, como disse acima, a atualização pudera custar até 10 mil milhões de euros...acham mesmo que a industria automóvel vai pagar a conta?

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