Takata - luz ao fim do túnel enfim?

A NHTSA está a estudar a possibilidade de ordenar a recolha de mais 70 a 90 milhões de airbags da Takata nos EUA - para referencia foram, nos EUA até agora recolhidos 29 milhões de airbags. Ou seja, somando tudo estamos a falar de 120 milhões de activadores de airbags nos EUA que podem explodir e ferir (potencialmente de forma fatal) os seus passageiros. Quantos automóveis exactamente não se sabe porque um automóvel pode ter vários airbags da Takata. 

Todos estes airbags usam nitrato de amónia, que se viram o McGyver conhecem o seu poder explosivo - e graças a todas as mentiras e destruição de provas por parte da Takata é provavelmente que muitos não venham a ser recolhidos e continuem à espera de fazer a sua vitima como uma mina anti-pessoal esquecida no campo de batalha. As acções da Takata também torna dificil, se não impossível, encontrar a razão exacta porque é que estes airbags explodem desta forma: a Takata alterou varias vezes a receita e ocultou tudo o que torna o exercício ainda mais complicado, e não permite aos reguladores ordenar correctamente uma recolha. 

Mas estes 120 milhões são então aqueles que a NHTSA pensa ser perigosos - mas quantos airbags é que a Takata fabricou com este activador de Nitrato de amónio? Segundo declarações à Reuters a Takata produziu 260 a 285 milhões de airbags entre 2000 e 2015 que foram vendidos em todo o mundo (se bem que metade ficaram nos EUA) - e como escrevi antes, logo em 2000 surgiram os primeiros problemas. 

Um consorcio de 10 construtores automóveis chamado Independent Testing Coalition (Toyota, Honda, Fiat Chrysler, BMW, Ford, General Motors, Mazda, Mitsubishi, Nissan e Subaru - os mais afetados pelo debáculo da Takata) que foi formado para investigar os airbags da Takata concluiu (com base em testes feitos pela Orbital ATK que constrói sistemas de foguetões para sistemas de defesa militar e industria aeroespacial) que é a combinação de 3 factores que causam a explosão violenta dos airbags: segundo este grupo é o facto que os detonadores de nitrato de amónio foram instalados em estrutras/suportes incapazes de manter a humidade fora dos detonadores (especialmente em climas húmidos) e repetidos ciclos de variação de temperatura (normais das estações do ano mas que significa que quando mais velho o detonador pior fica).
Estes 3 factores juntos: nitrato de amónio, suportes mal concebidos e exposição a calor e humidade criaram esta situação. A Takata já veio a publico dizer que estas conclusões estão de acordo com os testes que efectuou com o Fraunhofer Group. 

Mas, sim há sempre um "mas" - estes testes apenas cobrem 4 dos designs da Takata usados em "apenas" 19 milhões de automóveis e considerados perigosos até Maio de 2015, daí para diante é uma incógnita. Ainda não testaram os airbags que usam o nitrato de amónia em conjunto com químico dissecante que a Takata usou nos últimos airbags - ou seja, o nitrato de amónio se calhar até pode ser seguro. Mas há uma contagem decrescente - se até ao fim de 2019 a Takata não provar que o nitrato de amónio é seguro a NHTSA ira, nos EUA, ordenar a recolha de todos os airbags da Takata com esse químico e aí estamos a falar dezenas de milhões de unidades mais

Mas a investigação da ITC continua - vão agora testar os componentes de substituição e os tais novos detonadores com dissecante. 

Seria simples terminar por aqui, mas claro que há mais uma coisa para complicar ainda mais o cenário - é que a qualidade dos airbags produzidos variava bastante, que segundo documentos internos continuou até decorrer de 2014. Entre os problemas identificados estavam limalhas metálicas dentro da estrutura do airbag, encaixes internos incorretamente montados ou soldados, detonadores defeituosos e componentes internos dobrados ou danificados. Todos ou alguns destes problemas teriam permitido o acumular de humidade no interior contaminando o detonador com os resultados conhecidos. Num memorando interno de 2010 um gestor da Takata mostrava-se preocupado na necessidade de encontrar uma forma de controlar a humidade nestes sistemas e temia que a empresa não fosse capaz de assegurar a segurança dos componentes. Nesse mesmo ano surge um email do controlo de qualidade de pré-produção em que dizia não saber porque é que todos os lotes produzidos falhavam o controlo de qualidade. 

Para ajudar não há airbags de substituição em número suficiente - a Takata contratou a concorrente Autoliv para fabricar elementos de substituição e essa empresa diz que talvez até ao fim de 2017 consiga produzir airbags suficientes. Isto se não forem ordenadas mais recolhas.

Sim, nem uma telenovela portuguesa conseguiria fazer melhor...

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