Conferencia da VW - resumindo

Depois de ver e rever conferencia da Volkswagen há algumas informações úteis que se pode extrair.




Como foi possível
Segundo a marca alemã houveram 3 factores que permitiram que esta situação fosse criada: má conduta por parte de funcionários, processos internos com falhas que favoreciam má conduta e a ideia que a empresa tolerava quebrar as regras (para atingir fins comerciais). Relativamente aos "processos internos deficientes" citaram especialmente o de teste e certificação dos sistemas de controlo do motor (ECUs) que foi já alterado e todos o desenvolvimento e certificação de ECUs vão ter que ser feitos por pelo menos 2 pessoas.


Um pequeno grupo responsável pela batota
O software ilegal terá sido desenvolvido por um pequeno grupo de pessoas e não há indicação de alguém (incluindo membros da direção e supervisão - fizeram questão de repetir isto várias vezes curiosamente) fora deste grupo saber desta ilegalidade. Segundo a informação até agora obtida o ponto de inicio do DieselGate terá ocorrido em 2005 quando o grupo decidiu avançar em força com os diesel nos Estados Unidos. O problema era que era impossível fazer o motor EA189 cumprir os mais exigentes critérios de óxidos de azoto nos EUA dentro do orçamento e tempo definidos. Assim foi instalado o tal software que detectava os testes de homologação. E quando enfim uma solução técnica foi encontrada não foi aplicada por medo de serem apanhados.

Segundo o CEO Matthias Mueller a investigação interna indica que a informação sobre este truque não foi partilhada dentro do grupo ficando apenas dentro de um pequeno circulo de engenheiros.

Os testes de emissões vão passar a ser avaliados externamente em conjunto com testes em "Estrada real" pela própria Volkswagen.

A investigação interna da Volkswagen e até agora Poetsch confirmou que 9 gestores foram suspensos relativamente a todo este escândalo, não há indicação que haja elementos da direção envolvidos directamente mas a investigação aparentemente está não só à procura dos directamente envolvidos mas também de quem teria a responsabilidade de detectar esta situação. Deve terminar em breve mas a investigação independente externa pedida só deve terminar até ao fim de 2016 - haverá novo ponto de situação desta investigação a 21 de Abril por altura da reunião geral anual. No total cerca de peritos internos e externos estão envolvidos na investigação.


Manter marcas e empregos
Matthias Mueller foi claro que não deixaria esta situação paralisar o grupo, que está decidido a manter as actuais 12 marcas não existindo "razões para vender bens" ou seja, que o grupo tem dinheiro para lidar com o escândalo. Mas deixou em aberto a possibilidade de "ajustamentos" na variedade de modelos disponíveis. Disse também que ira proteger os empregos em todas as fábricas da Volkswagen espalhadas pelo mundo, algo que a AutoEuropa aprecia com certeza.


Ronda de boa vontade em 2016
Mueller já conseguiu acordo com a União Europeia e espera ter nas próximas semanas um acordo com a EPA americana para correção dos diesel e fará a sua primeira visita oficial aos EUA em Janeiro.


Desafios de Mueller
Mueller definiu como objectivo modernizar e tornar a VW mais aberta, além da questão de aumentar as economias internas para pagar todo este debáculo - algo que se avizinha extremamente difícil: o grupo VW não está habituada a austeridade (quando todos cortavam, a VW investia sempre mais), os sindicatos ganharam muito poder e a família Porsche-Piech que detém a maior parte do poder não gosta de mudanças. E claro, será que Ferdinand Piech não puxa das suas e regressa para estragar a festa. 


Concluindo - Volkswagen começa a levantar-se?
Aprendi que problemas todos temos, é a maneira como recuperamos deles que é o mais importante e parece que no caso da Volkswagen a marca alemã parece começar a dar passos na direção certa. 

A primeira boa noticia foi que no caso das emissões otimistas de CO2 afinal não eram os tais 800.000 automóveis afectados mas apenas 36.000. E apesar de a conferencia de imprensa não ter tido todas as respostas que desejava a verdade é que tivemos uma conferencia de imprensa com as duas principais figuras do grupo VW a novamente pedir desculpa pelo sucedido e que fariam tudo para corrigir os erros do passado, bem como actualizar sobre o estado da investigação interna que ainda decorre. Acima de tudo parece que já identificaram todos os problemas (ou quase todos) e estão a corrigi-las. 

Os últimos resultados das vendas não são propriamente animadores - globalmente as vendas caíram 4.5% relativamente ao ano passado mas a queda foi mais pronunciada nos últimos meses, particularmente caiu 24.7% nos EUA em Novembro. Se bem que houveram algumas boas noticias neste campo: relativamente a 2014 as vendas subiram 8.6% na China, 2.4% na Europa e 3.7% na Alemanha.

Além do Dieselgate a Volkswagen tem alguns dos seus maiores mercados em crise (económica e política) pronunciada - vendas no Brasil caíram 51.4% em Novembro, caíram 31.8% na Rússia que por sua vez arrastou os mercados da Europa Central e de Leste.

A Volkswagen parece ter-se levantado, sacudido a poeira e já definiu o caminho a percorrer - será um caminho duro sem dúvida, mas está a tirar lições positivas do que é a mais séria crise que o construtor alemão já atravessou e isso é algo de admirável. Mueller tem à sua frente um desafio de grandes dimensões, mas também é perante grandes desafios que grandes homens/mulheres se destacam.

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